Neste 8 de março, Dia Internacional da Mulher, a Tribuna Independente traz uma homenagem às mulheres sob a forma de uma análise da sindicalista e representante da Marcha Mundial das Mulheres em Alagoas, Lenilda Lima, sobre o atual momento social e os impactos de mudanças como a Reforma da Previdência para o contexto da mulher alagoana. Lenilda Lima destacou o que ela chama de “feminilização da pobreza” que coloca a mulher no centro da ameaças de perdas de direitos conquistados por anos de lutas.

Tribuna Independente – Em debate desde o ano passado, a Reforma da Previdência pretende, entre outros aspectos, aumentar a idade necessária para a aposentadoria das mulheres e o tempo de contribuição para ambos os sexos. Como estas possíveis mudanças influenciam as mulheres, especialmente as alagoanas?

Lenilda Lima – A Reforma da Previdência afeta diretamente as mulheres, essencialmente as mulheres mais pobres, porque aumenta o tempo de trabalho das mulheres. A Reforma da Previdência desconhece, passa por cima da jornada tríplice de trabalho. Isso não foi conquistado a toa, é um direto histórico das mulheres. Então, para nós é retrocesso. É uma reforma que faz com que o trabalhador, para se aposentar, precise trabalhar 40 anos. Se você olhar a expectativa de vida no Nordeste, você vê que isso atinge os trabalhadores e especialmente as mulheres. E quando você associa a Reforma Trabalhista e a Reforma da Previdência você percebe que as pessoas não vão mais se aposentar. Porque se precariza a relação de trabalho, as pessoas passam a ter trabalhos intermitentes, relações mais frágeis e isto significa que o tempo de contribuição necessária se torna inviável. No caso das mulheres mais pobres, que precisam do Benefício de Prestação Continuada (BPC) é cruel, porque quando se estabelece um salário de R$ 400 e para ganhar o salário mínimo precisa ir pra 70 anos, é brutal, principalmente olhando o número de pessoas pobres nesse país.

Tribuna Independente – Historicamente, o dia 8 de março simboliza a luta pelos direitos das mulheres. Este ano há destaque especial para algum aspecto?

Lenilda Lima – É um 8 de março de resistência. Um dos eixos principais do Dia Internacional da Mulher é essa questão da Reforma da Previdência como uma precarização ainda maior das condições, o empobrecimento. Vemos que com a quebra de direitos, nossa população tem ficado cada vez mais desprotegida e a Reforma só vem para afundar a precariedade, a perda de poder aquisitivo das mulheres. Para nós todos esses retrocessos são a feminilização da pobreza. E a outra muito forte é a questão do feminicídio, da violência, é um eixo muito importante. Esses eixos vão permear a defesa da democracia.

Tribuna Independente –  Na sua avaliação a mulher “tem ficado cada vez mais desprotegida”. A que isto se deve? Faltam políticas públicas?

Lenilda Lima –  Percebemos que a vida da mulher piora cada vez mais, porque são elas que pegam os piores empregos, com menor renda, ou subemprego. Isso no conjunto das perdas das trabalhadoras é muito importante. O que nós vemos agora é um Governo que ataca diretamente as mulheres. O Governo sinaliza ataque a segmentos da sociedade e a classe trabalhadora pobre e especificamente as mulheres e alguns segmentos discriminados da sociedade, o Governo vem atacando de forma brutal. Este dia 8 de março é marcado pela luta das mulheres contra esse ataque brutal, se não bastasse a Reforma da Previdência, esse estímulo ao preconceito, misoginia, contra as mulheres trans, é um eixo que nós trazemos para o debate porque acreditamos que não podemos ter uma sociedade do ódio, do preconceito. Lutamos por uma sociedade onde todas e todos tenham direitos e oportunidades.

Tribuna Independente – Durante o Carnaval o Brasil vivenciou uma explosão de casos de violência doméstica, que já vêm sofrendo aumento desde o início do ano. Para além da questão da garantia de direitos, a luta contra a violência doméstica precisa ser reforçada?

Lenilda Lima – Esse aumento acentuado da violência ganha um contexto político, além do social. A violência sempre existiu contra a mulher e se expressa de forma assustadora, porque as pessoas se acham no direito de se expressar. É um momento que nós estamos vivendo onde a violência se acentua, vem sendo incentivada. Vemos o noticiários todos os dias e ficamos sabendo que alguém matou uma mulher… É o que coloca o ácido no rosto da mulher, é o assassinato da professora com 17 facadas que já tem um ano e o assassino não foi preso… É uma onda de violência todos os dias, feminicídio… E seja no caso de Mariele, grande símbolo demonstrado neste Carnaval das mulheres negras e periféricas que lutam, que trabalham, que não deixam seu campo de batalha e que resistem. É essa característica que queremos dar neste 8 de março.

Fonte: Tribuna Independente