Neste momento de aumento da contaminação do coronavírus na população de trabalhadores e pobres, floresce centenas de gestos de solidariedade em Alagoas e outros estados. Um dos exemplos são de ex-trabalhadores rurais sem- terra, hoje mais de 3 mil assentados no litoral norte do estado, fazem a sua parte numa atitude pioneira no País. Eles estão distribuindo parte da produção para mais de 5 mil trabalhadores rurais desempregados, sem- terra e favelados da região. O gesto tem articulação 10 movimentos de Sem Terra que querem espalhar a ideia para as regiões da zona da mata, agreste, sertão e outros estados.

A manifestação de solidariedade envolve mais de 2 mil assentados do Município de Maragogi, 700 de Porto Calvo, 300 de Jacuípe e 150 de Japaratinga. Eles levam em caminhões alimentos de suas parcelas: inhame, abóbora, batata- doce, legumes variados, banana, laranja, graviola, limão, mamão, manga, acerola entre outros produtos que revendem nas feiras livres e mercadinhos públicos da região.

O coronavírus além de matar as pessoas, acaba com os empregos dos trabalhadores e deixa muita gente com fome no campo e nas áreas urbanas. Agora é hora de ajudar os nossos irmãos. Nós já fomos sem- terra, vivemos em barraca de lona e conhecemos o sofrimento na luta pela reforma reforma agrária”, disse um dos assentados da zona rural de Maragogi que estava doando parte da produção de macaxeira e batata para sem terra e moradores de áreas de baixa renda do municípios. Ele preferiu não divulgar o nome. “A minha doação é um gesto de amor. Não precisa divulgar meu nome”.

Porém, a ação não é ato isolado. Um dos articuladores da ação dos assentados é o coordenador nacional de FNL- Frente Nacional de Luta por terras e teto, o alagoano Marcos Antônio da Silva- conhecido como “Marrom”. Ele confirmou que além dos assentados do FNL, a ação tem a participação efetivos dos assentados que antes eram do MST, CPT, MLT, MLST, MTL e de mais quatro movimentos que também reivindicam terras improdutivos para assentar mais de 20 mil famílias de camponeses que vivem em barracos de lona na maioria dos 102 municípios alagoanos.

Isolamento

De acordo com informações fornecidas por coordenadores estaduais e municipais de 10 Movimentos de Trabalhadores Rurais sem terra e sem teto, mais de 20 mil acampados cumprem a orientação da Organização Mundial de Saúde, das Secretarias estadual e municipais de saúde, e permanecem em isolamento social nas áreas ocupadas com barracas de lona. Os assentamentos já regularizados pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) e Instituto de Terras de Alagoas (Iteral), também são orientados no mesmo sentido.

“A orientação é só ir à cidade em caso de extrema necessidade: para se consultar com médico e fazer comprar de produtos que não são produzidos nas lavouras. Todos sabem que precisam evitar as aglomerações e s cidades. O vírus mata”, orientam os coordenadores dos Sem terra.

CPT: “Isolamento e orações” para escapar do coronavirus

“Calma, isolamento social e orações”. A orientação é da Comissão Pastoral da Terra- CPT, para duas mil famílias de trabalhadores rurais, divididos em 36 grupos de acampados e assentados que seguem o movimento da Igreja Católica. Os acampados estão distribuídos nas regiões da mata, sertão, agreste e litoral do estado. A orientação é manter os cuidados preventivos contra o Covid 19, trabalhar a produção rural e alimentar a esperança. “Este ano, a natureza está do nosso lado. A chuva chegou. Muita gente foi para o campo e semeou milho, feijão, batata, palma [forrageira, tipo de cacto que ser de alimento para o gado nos períodos de estiagem]. Por outro lado, temos a realidade dura que compromete a existência daqueles que não se prevenirem”, aisou o coordenador estadual da CPT, Carlos Lima. “Isto vai passar. Espero que a humanidade saia melhor desta situação”.

“Carlinhos” como é conhecido o líder da CPT, disse que as noticiais são positivas das áreas rurais do estado. “A chuva trouxe felicidade, trabalho e as famílias estão plantando”, comemorou.

Diante do perigo contaminação, as coordenações nacionais dos movimentos cancelaram encontros previstos parar discutir reforma agraria, distribuição de sementes, plantio e o agro plantio. As entidades promovem encontros restritos com coordenadores estaduais “on line”. Há três semanas, até eles cumprem as medidas de isolamento social.

O Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST), O Movimento Terra, Trabalho e Liberdade (MTL), Comissão Pastoral da Terra, e os outros estimulam as famílias a permanecerem isoladas em seus assentamentos, acampamentos e plantando como sempre fizeram em períodos de clima favorável.

Por Arnaldo Ferreira | Portal Gazetaweb.com

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