Com a flexibilização da quarentena e retomada das atividades, doenças de transmissão respiratórias podem voltar a circular com mais intensidade, explica o pediatra Juarez Cunha, presidente da SBIm (Sociedade Brasileira de Imunizações). Segundo ele, a quarentena acabou diminuindo a incidência de doenças típicas do inverno e por isso elas podem aparecer fora de época.

“Não temos como saber a magnitude que vai ser, talvez por conta do clima não tenhamos uma transmissão tão importante, mas é impossível dizer. A gripe, que é uma doença sazonal, varia muito, temos alguns anos com um número de casos importante e outros com menos casos.”

Segundo Cunha, o maior foco desse tipo de infecção respiratória são as escolas, as transmissões e surtos entre as crianças é muito comum. “Com o retorno das atividades, principalmente escolares, teremos um aumento dessas doenças.”

A maior preocupação da área médica é a baixa cobertura vacinal que foi obtida esse ano. “Nenhuma das campanhas atingiu a cobertura esperada, mesmo as vacinas de rotina da carteira vacinal não atingiram, isso pode fazer com que doenças que já tínhamos controlado voltem a surgir.”

Além da gripe, o infectologista cita como exemplo a meningite, a coqueluche e o sarampo. “Todas doenças de transmissão respiratória evitáveis com vacina. Esse é o grande mérito das vacinas, diminuir a morbidade [necessidade de assistência médica] e mortalidade, não podemos perder isso.”
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O sarampo em especial é uma doença que causa maior preocupação. Segundo o último boletim epidemiológico divulgado pelo Ministério da Saúde (referente a semana 1 a 26 de 2020), o país possui 5.642 casos confirmados de sarampo e 1.366 em investigação.

Cunha afirma que no ano passado foram 20 mil casos e que, provavelmente, os casos este ano estão sendo subnotificados.

“Um dos lugares com surto foi o Pará, que também estava com grandes problemas com covid-19. Como o sistema de saúde faz para lidar com uma pandemia de covid-19 e um surto de sarampo ao mesmo tempo? O sistema de vigilância está muito focado em coronavírus, com certeza esses casos estão sendo subnotificados.”

Cunha também explica que muitas pessoas estão deixando de buscar assistência médica, mesmo com quadros moderado a intensos.

“Isso contribui para a subnotificação, mas também faz com que o tratamento seja prejudicado. Normalmente, quando uma pessoa é diagnosticada com sarampo, as pessoas da família podem tomar a vacina dentro de três dias. Se você consegue vacinar essas pessoas, você quebra o ciclo de transmissão.”

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A maior preocupação é a sobrecarga do sistema de saúde. “Temos alguns lugares que o sistema de saúde está quase no limite ou no limite, se tivermos um aumento dessas doenças, que muitos casos precisam de hospitalização, não teremos leitos de UTI, respiradores e espaço para atender essas pessoas.”

Para evitar esse processo, o médico explica que é necessário que a população se vacine, para se proteger em nível individual, mas também para evitar um efeito maior na sociedade.

Em segundo lugar, para as doenças de transmissão respiratória que ainda não possuem vacina, ele explica que é importante manter as prevenções que já estão sendo tomadas, mesmo após o fim da quarentena. “Lavagem de mãos, evitar aglomerações, uso de máscara e etiqueta respiratória.”

*Estagiária do R7 sob supervisão de Deborah Giannini

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