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Os abusos e agressões sexuais provocam traumas físicos e psicológicos que acompanham as vítimas por toda a vida.

As estatísticas mostram que a maior parte dos casos notificados em Alagoas atinge adolescentes do sexo feminino.

Os dados mais atualizados do Sistema de Informações e Agravos de Notificações (Sinam), do Ministério da Saúde, entre os anos de 2013 e 2018, contabilizam 466 casos de violência sexual nas cidades do Agreste e Sertão.

Arapiraca, a segunda maior cidade de Alagoas, com mais de 230 mil habitantes, aparece com 168 casos, enquanto Palmeira dos Índios registrou 33 ocorrências.

As duas lideram os números na região, e, em seguida, aparecem os municípios de Craíbas, com 18 notificações, Taquarana com 15 e Girau do Ponciano, que registrou 14 casos no período.

No Sertão de Alagoas, a cidade de Pariconha lidera com 14 ocorrências oficiais e Santana do Ipanema surge com 12 casos.

Ainda de acordo com o levantamento, a residência é o local de maior notificação da violência com 42,8% dos casos, e os estupros correspondem 83,3% dos registros. O agressor desconhecido corresponde 42,6% dos casos de violência sexual.

Levantamento feito pela Secretaria de Estado da Saúde (Sesau) aponta que, de 2013 a 2018, houve um aumento significativo das notificações, o que evidencia o trabalho das equipes na busca ativa nos municípios.

ASSISTÊNCIA

Na cidade de Arapiraca funcionam dois Conselhos Tutelares, que atuam em duas áreas de abrangência, acompanham e dão assistência a crianças e adolescentes que sofreram algum tipo de abuso ou violência sexual.

De acordo com Lásaro Lopes, presidente do Conselho Tutelar da Região 2, responsável pela área central da cidade, incluindo também os bairros Caititus e Alto do Cruzeiro e localidades adjacentes, no ano de 2018, foram contabilizados 45 casos de violência sexual contra crianças e adolescentes.

“Nossa equipe trabalha em plantões permanentes, com o recebimento de denúncias e  busca ativa nas comunidades. O números de casos pode ser maior, porque sabemos que ainda há muita subnotificação, uma vez que muitas agressões ocorrem na própria residência da vítima ou no seio familiar”, explica.

O outro Conselho Tutelar é responsável pela Área 1 e fez o monitoramento e assistência às famílias dos bairros mais vulneráveis de Arapiraca, a exemplo do Residencial Brisa do Lago, Jardim das Paineiras, bairros Manoel Teles e Primavera, entre outras comunidades.

O presidente do Conselho, Zeilton Oliveira, disse que a equipe está fechando os dados relativos ao primeiro e segundo semestres de 2018. “Nessas localidades, as demandas são grandes e o número de notificações é muito maior em relação aos casos registrados em outros bairros da cidade”, afirma.

Diante dessa realidade, em outubro do ano passado, o governo estadual, por meio da Secretaria de Estado da Saúde, implantou o Serviço de Assistência às Vítimas de Violência Sexual. No primeiro mês de funcionamento, o serviço atendeu 47 pessoas.

O número representa um aumento de 88% no percentual de atendimentos direcionados a esse tipo de acolhimento, uma vez que, no mesmo período do ano anterior, quando o serviço ainda não existia, apenas 25 pessoas foram atendidas nas unidades estaduais de saúde.

A coordenadora da Rede Estadual de Assistência às Vítimas de Violência Sexual (RAVVS), a psicóloga Camile Wanderley, disse que a vítima que sofre um abuso sexual deve ser acompanhada por, no mínimo, seis meses.

Ao longo desse tempo, boa parte das crianças e adolescentes precisa utilizar o antirretroviral – medicação para o HIV e a Aids.

“Desse modo, elas são acompanhadas dentro de um segmento ambulatorial, por uma equipe multiprofissional, para que consigam, minimamente, voltar à rotina sem o receio de uma nova violência, sem a discriminação, sem o medo e sem a culpa por terem sido violentadas”, frisa a coordenadora.

Camile Wanderley e técnicos da Sesau estiveram, esta semana, na cidade de Arapiraca, para traçar planos com o propósito de estender as ações da rede na segunda maior cidade de Alagoas.

O encontro reuniu gestores, técnicos e profissionais de saúde do Hospital de Emergência do Agreste, Hospital Chama, Secretaria Municipal de Saúde de Arapiraca, Instituto Médico Legal (IML), Samu, Conselho Tutelar e do Centro de Testagem e Aconselhamento (CTA) de Arapiraca.

A coordenadora da RAVVS explica que trabalho de assistência às vítimas de violência sexual deve ser realizado, incialmente, em articulação com os profissionais da área da Atenção Primária da Saúde.

Em seguida,  a atuação passa a ocorrer conjuntamente com os outros órgãos que formam a rede.

Camile Wanderley também revela que a proposta é implantar o serviço em Arapiraca, no Hospital de Emergência do Agreste. “A finalidade é ampliar as ações e criar uma nova cultura de atendimento, com um olhar mais atento e humanizado para as vítimas de violência sexual dentro das unidades mantidas pela Sesau”, acrescenta.

Fonte: Tribuna Independente