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Imagine acordar, tentar se mexer e não conseguir. Você olha para os lados, quer se levantar, mas seus músculos não respondem. O momento assustador parece durar muitos minutos até que, de repente, você consegue mover os membros e sair desse ‘transe’.

Os sintomas acima são da paralisia do sono, uma condição que pode ocorrer com qualquer pessoa, em qualquer idade, embora haja grupos com maior predisposição. Uma revisão sistemática de mais de 30 estudos estimou que o problema afeta 7,6% da população geral, 28,3% dos estudantes e 31,9% dos pacientes psiquiátricos. Eles tiveram pelo menos um episódio de paralisia do sono na vida.

Um estudo feito pela Universidade do Arizona, nos Estados Unidos, avaliou a prevalência de paralisia do sono e alucinações em 189 estudantes atletas. Os resultados mostraram que eles raramente (18%) ou frequentemente (7%) vivenciam essa experiência. Os pesquisadores observaram ainda que essas duas indicações estavam associadas a um maior grau de depressão em comparação com aqueles que relataram nunca ter tido o quadro.

Fernando Morgadinho, especialista em medicina do sono, explica que essa paralisia ocorre na fase REM (rapid eye movement, ou movimento rápido dos olhos), no momento de transição entre o sono e o estado de vigília. “É quando as funções de consciência voltam, mas as musculares estão bloqueadas e a estrutura do sono REM está parcialmente funcionando”, diz o médico. Ou seja, o cérebro acorda antes do corpo.

O especialista, que também é professor no Instituto do Sono, afirma que algumas doenças predispõem a pessoa a vivenciar uma paralisia do sono. Uma delas é a narcolepsia, um distúrbio do sono caracterizado pela sonolência em excesso durante o dia, mesmo se a pessoa dormiu bem à noite.

Os episódios também estão associados a hipertensão, distúrbios convulsivos e depressão. Nos casos relacionados a doenças psicológicas ou psiquiátricas, a revisão sistemática indica que o quadro tem relação com fenômenos de dissociação, crise de pânico e estresse pós-traumático. Ansiedade também é um fator que predispõe à ocorrência de paralisia do sono.

Morgadinho aponta, ainda, que a simples privação de sono é um “grande gatilho” para se vivenciar momentos de paralisia. “A pessoa está precisando desse sono REM [mais profundo]. Se não dorme o suficiente, há uma disfunção cerebral”, explica.

Normalmente, a paralisia do sono dura alguns segundos, mas, para quem a experiencia, parece uma eternidade. “Para quem está vivendo, é desesperador”, diz o médico. Essa sensação ocorre porque a pessoa está consciente, até consegue mover os olhos, mas não mexe nenhuma outra parte do corpo.

Caso a pessoa queira sair da paralisia imediatamente, o especialista recomenda mexer os olhos rapidamente e com força. Uma pessoa que observa outra nesse estado pode tocá-la, despertando-a, o que faz a atividade muscular retornar.

Uma vez que a pessoa está consciente quando a paralisia do sono ocorre, o próprio relato dela serve como diagnóstico. O quadro pode ser um indicativo de doença psiquiátrica, mas, se não houver enfermidades associadas, não há risco à saúde como um todo.

Dependendo do caso, o tratamento inclui cuidar das doenças associadas ou tomar um medicamento que diminui a fase REM do sono. Morgadinho cita que, geralmente, antidepressivos bloqueiam essa fase do sono. Se os episódios forem frequentes, é aconselhável procurar um médico especialista, que irá indicar o tratamento adequado. O mais importante é ter boas noites de sono para evitar possível paralisia.

Estadão
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