width=

Eu costumava achar que minhas cicatrizes tinham arruinado minha vida. Eu as odiava. Mas agora… bom, elas me trouxeram até aqui.”

Vicky Knight tinha 8 anos quando o apartamento em que dormia foi destruído por um incêndio – provocado por um criminoso. Dois de seus primos morreram, assim como o homem que salvou sua vida.

Ela ficou com cicatrizes em 33% do seu corpo.

“Até hoje às vezes eu ainda fico lembrando, especialmente em noites de fogos de artifício”, diz ela ao programa Newsbeat, da BBC Radio One.

Hoje ela trabalha na unidade de queimaduras de um hospital em Essex que cuidou dela quando criança. Mas está também estrelando um novo filme, atuando pela primeira vez na vida.

O filme britânico Dirty God (Deus Sujo, em tradução livre) estreou no Reino Unido nesta semana. Ele conta a história de uma jovem mãe chamada Jade, que é vítima de um ataque com ácido.

Fazer o filme não foi fácil para Vicky.

“Há nudez no filme, e, para mim, ficar nua e mostrar essas cicatrizes que escondi por tanto tempo…foi algo que realmente mexeu com minha cabeça”, conta ela.

“Eu tive várias crise no set de filmagem, então todas as lágrimas que você vê são reais.”

Vicky recebeu o convite para estrelar a produção depois de fazer um vídeo sobre suas queimaduras e postá-lo nas redes sociais. O vídeo viralizou e algumas anos depois ela foi contatada por um diretor de elenco.

Ela diz que foi fácil se identificar com sua personagem.

“Jade passa por uma jornada horrorosa. Colegas de trabalho que tiram sarro dela – eu passei por isso também.”

No filme, Jade procura na internet por clínicas para fazer cirurgia que seus médicos dizem que não vão funcionar. Vicky diz que fez isso também, escrevendo para cirurgiões no mundo todo para ver se eles podiam tirar suas cicatrizes.

“Eu tive que colocar no filme os sentimentos que eu tinha na época, e foi tão difícil. O meu foi um incêndio criminoso, e o dela foi um ataque ácido, mas o cuidado com as queimaduras depois é o mesmo”, afirma Vicky.

Mas também há diferenças entre a personagem e a atriz. Vicky não tem cicatrizes no rosto. Ela teve que usar maquiagem e próteses.

A atriz diz que o filme mudou completamente sua vida, ajudando-a a fazer as pazes com suas cicatrizes.

“Eu sofri muito bullying quando estava na escola, apanhei. Até hoje tenho que lidar com pessoas me xingando, e já fazem 16 anos. Eu cheguei em uma ponto na minha vida, alguns anos atrás, em que praticamente desisti. Eu não queria mais viver com minhas cicatrizes.”

No começo, ela não entendeu porque os produtores queriam filmar tantos closes de suas cicatrizes. Mas quando viu as imagens na tela de cinema, tudo mudou.

“Eu fiquei tipo, ‘Uau, isso parece arte. Essa é minha própria obra de arte’. Eu amo minhas cicatrizes agora, tenho orgulho delas. Sou eu, é parte de mim.”
Ela diz querer que as pessoas a vejam como uma inspiração.

Conta que costumava achar que ela só seria boa para filmes de terror. Mas agora que assistiu ao filme, se convenceu de que pode apostar em uma carreira de atriz.;

“O filme me deu uma perspectiva de vida tão positiva. Quer o espectador tenha ou não passado por uma experiência do tipo, espero que ele consiga tirar um pouco de esperança e amor próprio do filme.”

“É um sentimento ótimo o de estar aceitando minhas cicatrizes. Elas são parte de mim agora. E se você não gosta, não olhe para elas.”

TERRA.COM