Paul McCartney compôs a música Yesterday a partir de um sonho, ao passo que Thomas Edison afirmou que suas melhores ideias surgiram de um trabalho duro. Outros ativaram sua imaginação com café, drogas ou amor. Mas e se a criatividade surgisse com o toque de um interruptor?
Elizabeth Hertenstein, da Universidade de Freiburg, na Alemanha, e seus colegas fizeram exatamente isso, usando a tecnologia conhecida como estimulação transcraniana por corrente contínua (ETCC). Seus insights podem ajudar os criativos a atingirem o máximo de produção.
O ETCC utiliza eletrodos conectados no couro cabeludo que emitem uma fraca corrente elétrica pelo cérebro. Os neurocientistas acreditam que essa corrente faz as células sob o eletrodo positivo (anodo) trabalharem mais, ao passo que o eletrodo negativo (catodo) tem o efeito oposto e abranda a atividade dos neurônios vizinhos. Em um documento publicado na Brain Stimulation, os cientistas reportaram que 22 minutos de ETCC melhoraram de modo significativo o desempenho de estudantes universitários em três testes padrão usados por psicólogos para medir a criatividade.
O primeiro teste é o Alternate Uses Task e mede a expansão conceitual, em que se pede a um indivíduo para pensar nos muitos usos possíveis de um objeto corriqueiro, como um tijolo ou um clipe de papel. O segundo, Compound Remote Associate Task, solicita palavras que funcionam como prefixos ou sufixos comuns ao participante para termos não relacionados.
Assim a resposta para “era; milha; areia” é pedra. E o terceiro teste, Wisconsin Card Sorting Task, já vem sendo usado há muito tempo para monitorar o quão bem o voluntário do teste se adapta a circunstâncias que mudam, pedindo a ele para combinar imagens segundo a forma, cor ou número de objetos e depois mudando as regras do jogo.
Os estudantes que participaram voluntariamente do teste tiveram o melhor desempenho quando o ânodo foi ligado acima do lado direito do seu giro ou circunvolução frontal inferior – parte do córtex frontal e uma região que está associada à solução de problemas e à espontaneidade – e o catodo encaixado acima do lado esquerdo do giro frontal inferior. Os pesquisadores estavam tentando aumentar a atividade do lado direito e reduzir a atividade do lado esquerdo.
Christoph Nissen, membro do grupo de pesquisa, diz que os estudantes que participaram do teste tiveram um desempenho 10% a 20% melhor do que os que foram submetidos à estimulação simulada, em que os eletrodos foram colocados no lugar, mas a corrente ficou desligada. Quando as posições do eletrodo foram invertidas, os cientistas viram um decréscimo correspondente na criatividade medida comparada com o grupo submetido à estimulação simulada.
Não está exatamente claro como o ETCC tem este efeito no cérebro. O lado esquerdo da região frontal do cérebro funciona de acordo com uma interpretação mais rígida do mundo baseada em características concretas como compreensão da linguagem. Inibir isso e ao mesmo tempo estimular a atividade do lado direito da região frontal do cérebro onde o pensamento é mais livre, com o ânodo, talvez ajudasse os estudantes a pensar de forma mais criativa.
Segundo Nissem, a maioria da sua equipe vem pesquisando novas maneiras de ajudar pacientes com problemas mentais, como romper os padrões de pensamento negativo repetitivo e estimular a flexibilidade cognitiva. Mas os insights desse estudo podem ser aplicados para trabalhos e funções fora do laboratório ou da clínica.
O Alternate Uses Task, por exemplo, avalia os recursos criativos exigidos para um debate de ideias sobre novos produtos ou para ver o potencial inexplorado de um objeto corriqueiro. /Traduzido por Terezinha Martino, publicado sob licença. o texto original em inglês está em www.economist.com
Estadão
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