Dados atualizados do Hemocentro de Alagoas (Hemoal) indicam que 183 alagoanos aguardam por um transplante de medula óssea. O procedimento é necessário para o tratamento de cerca de 80 tipos de doenças, entre as mais conhecidas está a leucemia. A chance de encontrar um doador compatível é de um para cada 100 mil pessoas.
Um cadastro nacional, o Registro Nacional de Doadores de Medula Óssea (Redome), reúne todos os candidatos à doação. Em Alagoas, o cadastro contabiliza 57.830 doadores. No entanto, o número é baixo comparado à necessidade e a chance de compatibilidade. Não existe um número ideal de doadores cadastrados, mas segundo estimativas do Hemoal, seriam necessários 3 milhões de pessoas para atender a demanda existente.
Um transplante de medula óssea acaba sendo o último recurso de pacientes com doenças relacionadas ao sangue.
“Tem muitas doenças do sangue que podem ser curadas através da doação de medula óssea, a mais conhecida é a leucemia. São doenças que podem ser curadas através dessa doação, quando ele recorre é o último recurso. Às vezes o paciente procura entre familiares, mas a chance é baixa, a probabilidade é menor mesmo entre irmãos”, pontua a assistente social do Hemocentro de Alagoas, Rayara Andrade.
Ela explica que as principais dificuldades em ampliar o número de potenciais doadores envolvem tabus e falta de informação.
“Precisaríamos de ter o dobro ou triplo de cadastros para ter a chance de um compatível. Tem a questão do Brasil ser um país de mistura de raças o que dificulta encontrar um doador compatível geneticamente. Se conseguíssemos aumentar o número de cadastros teríamos mais chances. Um dos tabus é que a maioria dos doadores acredita que a doação acontece por meio da coluna vertebral, que pode ficar paraplégico e isso dificulta o aumento dos doadores de medula. A maior parte das perguntas envolve o medo dos doadores. A falta de informação é que dificulta o acesso desse doador ao cadastro e a gente tenta aumentar o máximo de informações, de conscientizar o doador, porque a doação de medula é a única chance do paciente que precisa sobreviver, porque já está numa situação onde esse é o último recurso. Nossa maior dificuldade é a falta de informação”, aponta a assistente social.
Espera por doador compatível é longa e pandemia afeta ainda mais captação
A doação de medula óssea não é realizada em Alagoas. Aqui são realizados os procedimentos de captação, cadastro e verificação de compatibilidade. O transplante propriamente dito é feito em Pernambuco, estado vizinho.
“A espera costuma ser longa. Conheci uma paciente que luta há 10 anos contra o câncer e como é filha única não conseguiu nenhum doador e tem feito até uma campanha para encontrar doador compatível”, ressalta Rayara.
Para formalizar a intenção de doar é necessário se dirigir ao Hemoal e efetuar um cadastro seguido de uma coleta sanguínea para verificar a carga genética.
“O cadastro é feito de forma simples, o doador preenche uma ficha e tem 5ml de sangue colhido para avaliar a carga genética do doador. A partir daí vai ser incluído no Redome, do Inca, todos os dias o Redome faz uma avaliação e se for compatível com algum paciente é feito um nome teste de compatibilidade, e é feita a doação. São duas formas: a primeira, através de punção por um ossinho da bacia, onde é coletado 10% da medula e em 15 dias o doador se recupera, esse procedimento dura em torno de 1h, 1h30. A outra forma, que é rara, é a doação por asferese, o doador toma uma medicação durante cinco dias para estimular as células para que migrem dos ossos para a corrente sanguínea para fazer a doação de medula pela corrente sanguínea e isso acaba sendo mais demorado por que passa por um processo de filtragem, demora em torno de quatro e cinco horas. O médico que vai avaliar a melhor forma e em ambos os casos não há risco para o doador, e em quinze dias as células são repostas. No dia seguinte já pode voltar a vida normal”, detalha.
Outra problemática envolvendo a doação é o impacto que a pandemia causou na captação de doadores.
“A pandemia afetou, porque menos pessoas estão comparecendo ao Hemoal e a realização de campanhas externas ficou comprometida para evitar aglomerações, apesar de o Hemoal adotar todas as medidas sanitárias exigidas para evitar a contaminação pelo novo coronavírus”, diz.
Alguns requisitos precisam ser atendidos para estar apto a doação de medula óssea. Segundo informações do Redome é necessário que o doador tenha 18 a 55 anos de idade, ter bom estado de saúde, sem doença infecciosa transmissível no sangue, não tenha histórico de doença neoplásica (câncer), hematológica ou autoimune (como lúpus eritematoso sistêmico e artrite reumatoide).
Inca estima 120 novos casos de leucemia por ano em Alagoas
Estimativas do Instituto Nacional do Câncer (Inca) apontam que cerca de 120 novos casos de leucemia foram registrados no ano passado em Alagoas. A média de novos casos é divulgada anualmente pelo Inca em relação a todos os tipos de neoplasias. Pouco mais de 30% dos novos casos estão concentrados na capital, Maceió. Em todo o país o número de novos casos chega a 10 mil por ano.
Segundo o Observatório de Oncologia, entre os anos de 2008 e 2017 foram registradas 752 mortes por leucemia em Alagoas. O percentual de mortes entre faixa etária predomina entre 10 a 19 anos, e 60 a 69 anos, ambos com 14%
A evolução de mortes em todo o país de acordo com o Observatório chegou a 19%. “Comparando os números absolutos de óbitos em 2008 e 2017, a mortalidade por leucemia cresceu 19% no Brasil, passando de 5.718 óbitos em 2008 para 6.788 óbitos em 2017. Quando analisamos as taxas de mortalidade por leucemia específicas por faixa etária, não houve alterações significativas para as taxas de mortalidade na população de 0 a 19 anos e de 20 a 49 anos. Na população com 50 anos ou mais, houve crescimento da taxa de mortalidade de, em média, 0,8% ao ano. No entanto, apesar deste crescimento da faixa etária de 50 anos ou mais, não observamos o crescimento da taxa de mortalidade por leucemia ajustada por idade”, diz a entidade.
A DOENÇA
A doença, que acomete adultos e crianças tem alto índice de cura em torno de 90% nas crianças e cerca de 50% nos adultos que realizam o tratamento. No entanto, acomete em grande parte dos casos indivíduos de até 20 anos.
A exemplo de outras doenças que comprometem a produção normal de células sanguíneas, a leucemia pode ser curada com o transplante de medula óssea. “No caso específico das leucemias, é importante lembrar que a indicação de transplante irá depender do tipo de leucemia e da resposta inicial ao tratamento com quimioterapia e, em muitas situações, a doença pode ser curada, apenas, com tratamento convencional com quimioterapia e/ou radioterapia”, explica o Inca.
Segundo informações da Associação Brasileira de Linfoma e Leucemia (Abrale), a leucemia é um câncer que tem início nas células-tronco da medula óssea. “As células sanguíneas doentes proliferam e atrapalham a produção das células sanguíneas saudáveis da medula óssea, diminuindo seu número normal. Depois de instalada, a doença progride rapidamente, exigindo que o tratamento seja iniciado logo após o diagnóstico e a classificação da leucemia”, diz a associação.
Conforme informações da hematologista do Hemocentro de Alagoas (Hemoal) Verônica Guedes existem três tipos da doença. “Há a leucemia mieloide aguda, a mieloide crônica e a linfoide crônica. Apesar de a doença atingir adultos e idosos, ela se manifesta com mais frequência entre as crianças e, por isso, os pais devem observar se o filho está pálido, se há manchas roxas pelo corpo, febre sem explicação e dor óssea. Caso surjam esses sinais, a assistência médica deve ser procurada, onde será realizado o hemograma para detectar as alterações e, em seguida, fazemos um exame chamado mielograma”, detalha.
O mês de fevereiro é dedicado à conscientização da importância da doação de medula óssea, uma das formas mais utilizadas para a remissão da leucemia.
Fonte: Evellyn Pimentel com assessoria
(Foto: Elza Fiúza / Agência Brasil)