Apesar do avanço da vacinação, o relaxamento das medidas de proteção contra a pandemia do coronavírus -como a volta integral do funcionamento de bares, restaurantes e comércio a partir desta terça (17) em São Paulo- pode levar a um aumento de casos e internações por Covid nas próximas semanas.
Isto porque, nas ruas, a sensação de que a pandemia acabou já é notada na diminuição no uso do principal equipamento de proteção individual contra o vírus: as máscaras.
Diversos estudos já comprovaram como as máscaras, principalmente aquelas mais ajustadas ao rosto e com melhor filtragem, como as N95 ou PFF2, são eficientes para prevenir a infecção pelo coronavírus.
No entanto, a falta de fiscalização e a falsa sensação de segurança após a primeira dose da vacina faz com que muitos brasileiros usem o acessório abaixo do nariz ou da boca, guardem no bolso ou, pior, deixem em casa.
A situação se agrava ainda mais pela confusão gerada por falas incorretas do presidente da República, Jair Bolsonaro (sem partido), de que as máscaras não são mais necessárias por pessoas vacinadas, e por uma falta de ação coordenada do Ministério da Saúde para incentivar o seu uso.
Agora, com o retorno às atividades presenciais, o uso incorreto das máscaras pode ser uma brecha para a subida de casos e internações por Covid nas próximas semanas, em um momento em que menos de 31% da população adulta está completamente vacinada.
Veja abaixo o que se sabe sobre o uso das máscaras contra o coronavírus e quais as recomendações mesmo após vacinado contra a Covid.
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Como as máscaras protegem contra a infecção?
O conhecimento sobre a proteção das máscaras para evitar infecções cresceu muito no primeiro ano da pandemia, e não há mais dúvidas de que a máscara é capaz de diminuir a transmissão do Sars-CoV-2.
As evidências a favor do uso de máscaras tanto na proteção individual como para impedir a propagação no ar de partículas virais já foram bem demonstradas. Assim, as máscaras protegem tanto diretamente, funcionando como uma barreira física contra as gotículas de saliva expelidas ao falar, tossir ou espirrar, quanto filtrando o ar que pode estar repleto de micropartículas aerossóis (invisíveis a olho nu) contendo o vírus.
A capacidade protetora das máscaras varia conforme o tipo de material utilizado e a trama. Um estudo feito pela USP avaliou a eficiência de filtragem de diferentes tipos de máscaras vendidos no Brasil e concluiu que as máscaras N95 ou PFF2 são as mais indicadas, com eficácia acima de 98%, seguidas pelas de TNT ou cirúrgicas (entre 80% e 90%), e por fim as de pano, com média de 40%. As máscaras de tricô, com tramas abertas ou com tecidos sintéticos como lycra e microfibra não são eficazes na proteção (por volta de 15%).
Uma outra pesquisa feita nos Estados Unidos apontou para uma eficácia de até 95% ao combinar uma máscara cirúrgica por baixo de uma de pano.
No sentido coletivo, se todas as pessoas em um ambiente fechado estiverem usando máscaras, a chance de transmissão do vírus é reduzida em até 70%, segundo um artigo publicado na revista Aerosol Science and Technology.
Estou vacinado contra a Covid-19. Devo continuar usando máscaras?
Sim. Em geral, as vacinas contra Covid-19 foram desenvolvidas para proteger especialmente contra a hospitalização e morte, mas não têm o poder de conter totalmente o contágio em si. Assim, mesmo pessoas vacinadas podem contrair o vírus e adoecer, por isso é importante continuar usando máscaras após a imunização.
No entanto, a chance de um vacinado se infectar com a doença é menor do que a de quem não recebeu nenhum imunizante, e o tamanho dessa proteção varia de acordo com a vacina utilizada.
Quanto tempo após tomar a primeira dose devo continuar usando máscara? E após a segunda?
As vacinas contra Covid em uso no país, à exceção da Janssen, foram desenvolvidas para garantir a proteção com duas doses em intervalos de 21 a 28 dias, mas no Brasil, as vacinas da Pfizer e AstraZeneca foram dadas, inicialmente, com intervalo de três meses.
É importante lembrar que a eficácia confirmada nos estudos clínicos das vacinas só foi observada após as duas doses dos imunizantes e, por isso, uma pessoa que recebeu apenas uma dose possui algum tipo de proteção, mas ela não é total. As máscaras irão garantir esta proteção enquanto o seu organismo ainda produz os mecanismos de defesa contra o vírus após a vacinação. O mesmo deve ser seguido tanto para primeira quanto para segunda dose.
Nos EUA, o CDC (Centro de Controle e Prevenção de Doenças) publicou em maio uma recomendação desobrigando o uso de máscaras em indivíduos totalmente imunizados com duas doses ou dose única. Mas esse posicionamento ocorreu em um contexto de avanço da vacinação e sem a chegada da variante delta no país.
Agora, o próprio órgão voltou atrás e passou a recomendar que pessoas totalmente vacinadas usem o equipamento ao frequentarem espaços públicos e fechados devido ao aumento no número de infecções causado pela delta.
No Brasil, apesar de uma redução da pandemia nas últimas semanas, especialistas argumentam que ainda estamos em um patamar elevado de casos e óbitos diários, e com uma baixa cobertura vacinal na população -31% das pessoas com mais de 18 anos já estão totalmente imunizadas. Nesse cenário, o uso das máscaras deve continuar.
Em quais situações posso não usar a máscara? Posso frequentar bares e restaurantes e outros locais fechados?
As recomendações dos especialistas continuam sendo de, sempre que possível, usar o acessório, principalmente se for frequentar lugares fechados, com pouca ventilação. Nesse caso, o melhor é priorizar as máscaras do tipo PFF2, diz a imunologista Cristina Bonorino.
Ela explica que, algumas situações de menor risco, como fazer exercícios ao ar livre, andar com o cachorro, caminhar na rua ou em um parque sem pessoas ao redor, é possível usar uma máscara de pano ou cirúrgica ou até mesmo retirar a máscara, contanto que você esteja em um lugar aberto e sozinho.
“Mas se for preciso ficar em um ambiente fechado a única máscara que pode dar alguma proteção é a PFF2”, diz.
Em locais em que é preciso tirar a máscara para se alimentar, como restaurantes e bares, é recomendado ficar em local aberto. Também é importante manter distanciamento social de outras pessoas e colocar a máscara de volta sempre que possível para evitar exposição desnecessária.
Depois de receber a primeira dose, posso me encontrar com outras pessoas que receberam uma ou duas doses?
As vacinas usadas no Brasil podem dar uma proteção parcial depois de cerca de 15 dias após a primeira injeção, mas a chegada de novas variantes torna mais fácil contrair Covid-19 mesmo estando vacinado, porque essas linhagens são mais resistentes aos anticorpos gerados pela vacina.
Assim, é necessário seguir todas as medidas de prevenção até que a cobertura vacinal no país chegue a pelo menos 70% da população, o que deve derrubar a transmissão do vírus.
Estou vacinado com duas doses ou dose única, posso me encontrar com pessoas não vacinadas sem máscara?
A recomendação é que os encontros desnecessários sejam evitados, mas, se não for possível, o ideal é manter o uso de máscaras, distanciamento físico e boa ventilação do ambiente, dando preferência a locais abertos ou ao ar livre, como parques e praças.
Para o infectologista, professor da Faculdade de Medicina da USP e colunista da Folha, Esper Kallás, o abandono das máscaras deve ser adiado pelo menos até que a taxa de pessoas completamente imunizadas suba mais.
“A questão deveria ser pensar em formas de facilitar o acesso às máscaras N95 [ou PFF2], que hoje são produzidas por muitos fabricantes diferentes. E difundir seu uso enquanto houver um número grande de casos, internações e mortes naquela comunidade”, afirma.
“Todas as vezes que você relaxa uma medida [como o uso de máscara], é muito mais difícil conseguir voltar atrás depois, conseguir adesão da população. Basta olhar para o que aconteceu nos EUA, e que agora estão tentando reverter”, afirma.
Estou vacinado com as duas doses ou dose única, posso me encontrar com pessoas também totalmente imunizadas sem máscara?
Embora os dados de fora apontem que a maior parte dos novos casos, internações e mortes por Covid foram em indivíduos não vacinados, como nos EUA, a circulação do vírus ainda é elevada no Brasil e, por isso, as medidas de proteção não devem ser abandonadas, afirma Bonorino.
Como as vacinas protegem mais contra hospitalizações e mortes, porém tem menor eficácia para conter a transmissão, infecções entre pessoas totalmente imunizadas sem máscaras ainda podem ocorrer. Um surto na cidade de Provincetown, nos EUA, após uma comemoração do dia 4 de julho levou à infecção de quase mil pessoas, sendo a maioria totalmente imunizada.
Para evitar a disseminação e circulação do vírus, especialmente em pessoas ainda não vacinadas ou que não podem se proteger agora, como as crianças pequenas, é recomendado manter o uso da máscara mesmo ao encontrar indivíduos também já imunizados.
Por Folhapress \ NOTÍCIAS AO MINUTO
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