Chay Suede passa a primeira hora inteira de “A jaula”, filme de João Wainer que estreia nos cinemas dia 17, preso dentro de um carro. Ele é um ladrão que pretende roubar o som de um SUV estacionado e, ao tentar sair, se vê preso numa armadilha planejada por um “cidadão de bem” (Alexandre Nero) cansado de sofrer assaltos. Chay sufoca de calor, desfalece de fome, bebe água com sabão do esguicho e estrebucha com uma ferida de bala, que ricocheteia quando ele tenta estourar o vidro blindado com um tiro.
É uma agonia danada — e ela mexeu com o ator, que define o processo como “o menos prazeroso” da carreira. Só quando assistiu ao longa, suspense psicológico aflitivo até dizer chega, entendeu por que sofreu tanto. O espectador também padece diante do suco de Brasil que escorre da tela: há polícia defendendo justiça com as próprias mãos e cena de linchamento.
— A gente rodou o filme há quatro anos e ele é mais atual que nunca. É triste perceber que, em quatro anos, as coisas pioraram muito — analisa o ator, cantor e compositor capixaba de 29 anos, que antes de ser artista trabalhou com o pai numa mostra de tubarões vivos, em exposição que reconstruía casos de avistamentos de extraterrestres, além de preparar os recheios dos bombons que a mãe vendia.
chay jaula2.jpeg
Chay conversou com O GLOBO via Zoom de sua casa, em São Paulo, no momento em que ele e a mulher, a atriz e modelo Laura Neiva, estavam isolados com Covid. Com duas doses da vacina, o ator não teve sintomas e já testou negativo. Nesta entrevista, ele revela já ter duvidado de seu talento como ator e diz que acreditar em vida eterna o faz ter outra relação com a morte. Religioso, explica por que prefere se definir como cristão e não como evangélico. O pai de Maria (2 anos) e de José (2 meses) conta ainda que as 60 horas de trabalho de parto encaradas pela companheira — com quem ele furou o resguardo, aliás — o fez enxergá-la como uma super-heroína.
Chay Suede na pele de Djalma, ladrão que fica preso em um carro e passa sede, fome e calor durante dias Foto: reprodução
Chay Suede na pele de Djalma, ladrão que fica preso em um carro e passa sede, fome e calor durante dias Foto: reprodução
Por que você considera seu processo de trabalho nesse filme o menos prazeroso da sua carreira?
PUBLICIDADE
Quando li o roteiro, vi que seria muito diferente de que já tinha feito como ator. Interpretar sozinho 80% do tempo, praticamente em silêncio. Fiquei com medo de não dar conta. Interpretação, para mim, sempre foi a contracena, prestar atenção no outro ator. Isso é o que me dá prazer. Foi uma pedrada. Mesmo já estando psicologicamente preparado, o set se mostrou mais desafiador do que imaginava. Não que não tentassem facilitar… O João levou tudo em função das minhas necessidades, já que o filme era todo em torno de mim. Mas meus medos foram se concretizando.
Quando a gente está no set, há muitos atores para a gente observar, trocar diante de alguma dificuldade. Mas ali, percebi que só tinha a mim mesmo, eu era o ator com quem devia contar. Precisava buscar tudo que o personagem pedia no meu corpo, na minha memória. Pensei muito sbre o porquê de não ter me sentido bem fazendo algo que amo. Depois que vi o filme, entendi. Era para ser sofrido mesmo. Eu pedia sair do carro quando ficava insuportável. Saía, respirava e voltava.
É verdade que não falava com ninguém no set?
Primeiro, tentei imprimir a dinâmica que já conhecia. Falar, ficar amigo de todo mundo. Aí percebi que isso ia me atrapalhar, roubar minha atenção. Precisei ficar completamente isolado, silencioso, recluso, lacônico. Só falava as palavras do texto praticamente.
PUBLICIDADE
O filme toca em assuntos atuais, como justiça com as próprias mãos. O Brasil é campeão de linchamentos no mundo. Qual a importância de falar sobre esse assunto no cinema?
No cinema, a gente reflete sobre o que muitas vezes não consegue na nossa realidade. Acredito que a maioria das pessoas que esbraveja na internet falando “é isso mesmo” não conseguiria compactuar com um crânio afundando, um nariz quebrando se presenciasse um linchamento. O caso do congolês (Moïse Kabagambe, refugiado morto a pauladas no quiosque Tropicália, na Barra da Tijuca, no Rio) foi um horror. Tenho pavor desse tipo de covardia, da banalização completa da violência. A gente rodou o filme há quatro anos, mas é mais atual do que nunca. É triste perceber que, em quatro anos, as coisas pioraram muito do que a gente previa que já seria ruim.
Como é para alguém que tem o mapa do Brasil tatuado no braço (Chay tem 12 tatuagens pelo corpo) ver o país dessa maneira?
Sou apaixonado pelo Brasil. Meus filmes favoritos sempre foram os nacionais. Quando vi “Central do Brasil” criança senti uma identificação que jamais havia sentido com os filmes da Disney. Não vivia o contexto do filme, mas era a identificação de uma relidade enquanto crianca brasileira de família pobre. Depois veio a série “O auto da compadecida” e fiquei louco, querendo ver tudo que era fime do Brasil.
PUBLICIDADE
Ver o Brasil do jeito que está, com requintes de piora em relação ao que a gente imaginava depois das eleições de 2018, é triste demais. Todas as nossas piores projeções foram superadas. Mas também dá vontade de fazer parte do que vai deixar memória para a criança brasileira, quero estar no “central do Brasil” do “chayzinho” de 2040, sabe?
Você ganhou prêmio por “Amor de mãe”, fez esse filme cujo personagem não está ligado ao perfil que costuma encarnar. Ganhou respeito e se distancia da imagem do ator bonitinho. Já se sentiu colocado na caixa de galã?
Tive medo de ficar preso no lugar de galã depois de “Rebelde”. E era inevitável que ficasse. Essa preocupação me fez querer interromper a carreira de ator. Precisava de mais profundidade de dentro para fora e achei que as oportunidades que teria como ator não me trariam isso. Recorri à música, quis voltar a compor e fazer coisas que me fizessem me sentir um artista e não um rosto, um corpo, um possível gatinho do filme tal.
O tempo foi passando, meu contrato com a Record acabou e fui ficando sem grana. Sempre ajudei minha família, eu ficar apertado de grana afeta muita gente, minha galera é grande e conta comigo. Quando já estava sem saber o que fazer e sem coragem de contar aos meus pais que estava passando aquele aperto, já que eles não poderiam me ajudar naquele momento, recebi o convite para para fazer um teste na Globo. Um amigo comprou uma passagem de ônibus para mim e fui para o Rio.
PUBLICIDADE
Era um teste para ser o filho do protagonista em “Império”. Me preparei para esse teste como se fosse a última coisa que faria na minha vida. Gostaram do teste, mas sugeriram que eu fizesse o comendador na primeira fase. Eram só três capítulos e só pensava no sálario. Se fizesse o outro personagem, ganharia por nove meses. Mas o que vivi nos bastidores… Ali tive meu primeiro professor.
O preparador argentino Eduardo Milewicz, que foi fundamental na sua carreira…
Amo professores, queria ser um quando prestei vestibular para História (em 2009), mas meu pai me convenceu a fazer cinema. Eduardo me despiu de tudo que eu imaginava ser certo, bonito. Foi me colocando no espelho, sem mecanismo, luzinha bonita, nada. Me colocou numa situação em que me perguntei: “Por que me escolheram? Claramente não vou dar conta”. Fiz “Rebelde” meio na sorte, tudo que esse cara está me dizendo é que eu não sou um ator e não tenho ferramenta nenhuma pra fazer um personagem grande assim. Ainda mais um personagem que vai ser intepretado por Alexandre Nero, um dos maiores atores do Brasil, na segunda fase. Não tenho essa força, essa maculinidade, esse peso. E não tinha mesmo.
PUBLICIDADE
O Eduardo Milewicz percebeu isso e em vez de chegar para o Papinha (Rogério Gomes, diretor) e dizer “o menino não segura, vamos abrir teste de novo”, fez o contrário. Disse: “Quero o Chay comigo em todas as aulas’. Ali comecei a ver qual a graça, o prazer de ser ator, de viver a contracena. O fato é que aprendi e quando eu fui fazer “Império” já não tinha a sensação de que estava ali porque era bonitinho.
Até porque não me sentia bonitinho, já que em muitos momentos ele dizia “tá vendo, o Chay não tem morfologia de ator, o rosto dele não tem profundidade”. E eu ficava, “é, eu não tenho a cara do Javier Bardem, nem bonito eu me sentia. “Império” fez o maior sucesso e transformou a minha vida.
Mas aí novamente veio à tona a preocupação de me colocarem na caixa. Só que aí eu já tinha ferramentas para lidar com isso. Para entender: “Agora eu faço isso, vão dizer aquilo, mas eu ganho dinheiro, compro uma casa, ajudo a minha mãe, faço o que der, até onde der para não me atrapalhar a ser o ator que eu quero ser”. Hoje, lido com isso com naturalidade e até tiro proveito em algum nível. Mas sempre vou correr atrás para ser visto para além do galã, como nesse filme, para ser cogitado para qualquer personagem.
PUBLICIDADE
Você era o gatinho da escola?
Nunca fui. Não era aí o meu negócio. Nunca fui dos meninos que jogavam bola, que geralmente, são os gatinhos. Também nunca fui dos nerds. Sempre fui dos artistas. Com 5 anos, conheci meu melhor amigo, que é artista, e a gente se fortaleceu. Dizíamos: “Não é que estão excuindo a gente, nós é que queremos fazer outra coisa. Não é que ninguém nos chama, os caras é que não têm cabeça para conversar com a gente”. Íamos por esse caminho para nos proteger de não sermos populares. Autoestima mesmo. A gente dizia: “Eles jogam bola, mas não sabem escrever uma música, nem entreter a plateia contando uma história engraçada”.
Seu sobrenome foi tirado do personagem do Brat Pitt no filme “Johnny Suede”. Mas seu nome, Roobertchay, nasceu de uma brincadeira do seu avô, que dizia ter uma língua própria e batizou seu pai com ele. E seu pai perpetuou te colocando esse nome também?
A história é mais engraçada que isso. Foi minha mãe quem me botou esse nome, meu pai nem queria. Quando ela estava com uns 13 anos, tinha uma amiga que namorava meu pai e ela contou o nome dele. Aí, minha mãe chegou na cozinha e falou para a minha avó que o nome do filho que ela teria seria Roobertchay. Dois anos depois, minha mãe e meu pai se conheceram numa festa e ela contou que planejava botar no filho o nome dele. Eles ficaram, namoraram, casaram e ela compriu a promessa de adolescente.
PUBLICIDADE
O fato de você ser muito próximo do seu pai te fez querer ser pai cedo?
Sou tão colado com meu pai quanto com minha mãe. Ele sempre me incentivou mais artisticamente. Minha mãe tinha mais medo, mas depois me apoiou locamente. O fato de ele ter sido o pai que foi me deu vontade de ser pai desde criança. Sempre amei outras criancinhas menores, me disponobilizei a cuidar. Na igreja, deixavam os bebezinhos comigo. Quando conheci e me apaixonei pela Laura, com duas semanas de namoro propus de ela ser mãe dos meus filhos. Eu falava: “Já encontrei a mulher da minha vida, quero realizar meu sonho de vida, que é ser pai”. Só que a gente namorou bastante e o tempo acabou sendo 2019. E a gente quer ter mais filhos.
Qual é o grande lance de ser pai para você? E o grande perrengue?
Não tem perrengue. Claro que ser acordado várias vezes na madrugada é difícil, mas isso faz parte do pacote, não considero um grande perrengue. Tenho cinco irmãos, sou o mais velho, vi muitos bebês em casa. Limpei todos eles, vi doente, acordando de madrugada. Para mim, a cólica não é nenhum mistério. Porque o barato é tão outro.
PUBLICIDADE
O grande barato é ver a vida se desenvolvendo. Para quem é curioso como eu, é uma televisão, um conteúdo imperdível. Isso se a gente nem for falar de amor, né… Ver um vida se formando, acumulando coisa, identificar a genética e outras coisas completamente diferentes do pai e da mãe, é muito rico. Viver isso é a maior experiência humana que se pode ter. Acredito que pessoas podem abdicar disso e não serem julgadas, mas do que eu pude experimentar até hoje, acredito que não consiga viver nada que extrapole o amor de pai e de mãe.
Qual são as maiores lições de vida que deseja passar a eles?
Antes de tudo, quero que saibam que sou uma fonte inesgotável de amor e segurança. Mas há duas coisas que considero essenciais. Uma, é respeitar as outras pessoas antes de qualquer ideia que se tenha sobre elas. E respeitar não é só não julgar, é fazer a pessoa, na sua presença, se sentir melhor do que fora dela. Que a presença dos meus filhos melhore qualquer ambiente, traga conforto a quem os encontrar. É algo que meus pais me ensinaram. Se percebe que alguém está constrangido, faça a ponte para que a situação de constrangimento não permaneça.
É um tipo de respeito que não é passivo, mas ativo, em que você se coloca como instrumento de melhora da vida de alguém, da situação ou de um momento. Outra coisa é a possibilidade de crer que existe Deus. Quero que a minha casa e minha vida seja um terreno fértil para que essa possibilidade possa nascer no coração deles. Porque essa possibilidade me salvou de momentos em que eu achava que não tinha nada e tinha.
PUBLICIDADE
O que você mais admira na maternidade de Laura?
Laura sendo mãe é uma dança, uma coreografia perfeita. Ela não precisou aprender de um jeito escolar. Em algum lugar, já sabia como resolver, como movimentar. Pude presenciar esse último parto… O outro também, mas precisou ser cesárea… Agora, vi algo na Laura que jamais pude imaginar num ser humano. Ela passou a ocupar um lugar na minha imaginação, na minha memória, de super humana, super-heroína, super mulher.
Foram 60 horas de trabalho de parto, metade em casa, metade no hospital, com muita dor. Entre uma contração e outra, ela dançava, ria, beijava, abraçava, estava feliz porque estava tendo um parto como queria. Isso é uma lição de tudo, de como eu sou fraco, como não aguentaria aquilo. Toda hora eu pensava: “Se estivesse no lugar dela, era nessa contração que eu ia desistir”. E ela não desistia nunca.
É muito emocionante ver uma mulher parindo. Fui o primeiro a tirar meu filho de dentro dela, a primeira mão que ele sentiu. Participar disso é uma experiência imperdível e espetacular. E Laura, por ser protagonista dessa experiência, hoje ocupa um lugar intangível na minha cabeça.
PUBLICIDADE
E o casamento com dois filhos pequenos? O sexo fica em segundo plano e tudo bem?
Cada casal tem uma vivência. Tem gente que fica super sexual, outros que vão para um lugar quase de castração, de achar errado. E, aí, é terapia, né, galera? Aqui em casa a gente veio bem, não interrompeu, não. Claro que tem que esperar ali uma semaninha. No da Maria a gente quebrou (o resguardo); nesse também, mas tudo dentro da segurançca.
Você é religioso, seu avô era pastor, parte da sua família é presbiteriana, a outra, pentecostal. Sente que há um preconceito contra evangélicos? Quando você conta ser evangélico as pessoas se surpreendem?
Nunca senti, o que não significa que não exista. Criança, eu vivia num circuito cristão, minha realidade era muito mais evangélica do que não evangélica. Eu estudava num colégio batista. Hoje, não digo que sou evangélico justamente porque essa palavra isolada traz consigo muitas coisas que eu não gostaria que fossem uma primeira impressão sobre mim. Não estou falando sobre o Evangelho de Cristo, porque esse eu gostaria que estivesse em primeiro plano na minha vida e que, quando as pessoas me conhecessem, tivessem contato com o ele fez e ensinou.
PUBLICIDADE
Mas não uso o rótulo evangélico justamente por fatores estéticos, pelo que ele traz consigo e por causa do trabalho que dá para desfazer a confusão. Prefiro dizer que sou cristão, que busco aprender com o Evangelho de Cristo. É isso que me movimenta no mundo espiritual. É a partir da ótica de Cristo que enxergo as outras pessoas. Não tem nada a ver com o que essa denominação acabou significando nos últimos anos.
Você se refere à corrente batizada de neopentecostal, que costuma ter bastante representação polítíca?
Justamente. Essa escalada do neopentecostalismo no Brasil, que vem desde o final de 1980 até hoje. Ela é uma história de início, meio e fim. E a gente está perto do fim, eu espero. Sempre foi uma trajetória de poder que vi acontecer de perto por ser do meio evangélico. Prefiro acreditar que a maior parte dos evangélicos não está de acordo com uma minoria barulhenta.
Quando falo que meia dúzia de ratazanas roubaram o rótulo do que é ser evangélico e o sujaram, não significa que ser evangélico tenha caído em desprestígio no meu ponto de vista. Ao contrário. Quem está disposto a viver o Evangelho de verdade e aprender com os ensinamenos de Jesus abomina essa escalada religiosa, que também é política, e tudo que vem com ela e nada tem a ver com ser cristão.
Essa escalada autoritária sustentada pelo neopentecostalismo, pela intolerância que isso gera, não resume o que é ser evangélico no Brasil. Não generalizar é um cuidado que sempre tenho e um esforço que as pessoas poderiam fazer. Não os trataria como inimigos só porque uma minoria que fez barulho nos últimos anos chamam atenção e usurparam esse rótulo.
Há neopentecostais que falam em nome de Deus na política. Um dos maiores conselheiros do atual presidente é o líder da Assembleia de Deus. Como você vê a mistura de religião e política?
De forma desastrosa como sempre foi, até mesmo para o cristianismo com o Constantino. Jesus não queria misturar nada, ele nunca sugeriu que isso fosse feito, pelo contrário. A sugestão dele era separar o que era de Cesar. Ainda que o povo semita naquela época, ali na Galileia, fosse massacrado e dominado pelo Império Romano, sem vontade nem direitos, ganhando menos, ainda sim ele deu essa dica: Resolve o que tem para resolver, o nosso assunto aqui é outro, é vida eterna”.
Você tem dois argumentos prontos para virar série ou filme. Do que se tratam?
Um é a história do meu avô, Salustiano (morto em 2008), que era caixeiro viajante, vendia livros de educação sexual para criança, enciclopédias. Misturo a história dele com a história do Brasil dos anos 1940. Como ele era um Macunaíma mineiro, um Brasil em movimento, o retrato de uma época, quis colocá-lo lidando com acontecimentos reais dos quais ele atravessa, mas não participou necessariamente. A outra, que está bem adiantada, é uma série de oito episódios sobre os bastidores da televisão nos anos 2000. Estou em conversas com um diretor e streamings.
Você vai fazer 30 anos esse ano, tem medo de envelhecer?
Zero, pelo contrário, acho que com 40, 50 anos, vou estar mais legal. Não tenho essa relação com o tempo, talvez por conta da minha relação com a vida eterna. Cada ano a mais é um ano a menos para eu começar minha vida de verdade. Acreditar, crer em vida eterna faz minha relação com o tempo e com a morte ser diferente. Minha mãe sempre pergunta porquê os enterros da nossa família sempre têm crise de riso. Tem tristeza, choro, desespero de saudade, é claro, mas muito riso. Acho que é porque todo mundo que está ali acha que vai viver para sempre e vamos ver a pessoa que morreu ja já. Aí, minha mãe fala: “Ah, é, porque a gente é crente”. Respondo: “É, porque a gente é crente”.
GLOBO.COM
Foto: Fabio Audi / Divulgação