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Marechal Deodoro tinha tudo para se tornar a primeira cidade do Brasil a ter uma biblioteca pública dentro de uma igreja. O projeto, iniciado em 2019, tinha como objetivo transformar a secular Igreja de Nossa Senhora do Amparo dos Homens Pardos, que fica localizada no Centro Histórico, numa biblioteca.

Depois de restaurada e equipada com estantes repletas de livros, a Igreja estava pronta para ser entregue à comunidade e aos turistas que visitam a cidade histórica, mas a Arquidiocese de Maceió, sob o comando do arcebispo Dom Beto, não aprovou o projeto e pediu que o tempo fosse devolvido como foi entregue para a restauração, com bancos para acomodar os fiéis e não livros.

A ordem de serviço para o início das obras foi assinada em dezembro de 2019. O projeto foi idealizado pela Superintendência Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico, órgão vinculado à Prefeitura de Marechal Deodoro e hoje sob o comando do jornalista Ênio Lins, ex-secretário de Comunicação do Estado.

A obra da Igreja Biblioteca recebeu investimentos de R$ 1,3 milhão e foi realizada com o acompanhamento da superintendência do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) em Alagoas. A verba foi garantida graças à emendas liberadas pelo então deputado federal Sérgio Toledo e pelo ex-senador Fernando Collor.

Quatro anos e meio depois, perto de ser inaugurada, a Igreja Biblioteca não agradou a comunidade católica, que não gostou do que viu. No lugar dos bancos para rezar, estantes de livros instalados no salão principal do tempo. Com isso, a Arquidiocese de Maceió, agora na gestão de Dom Beto, começou a receber reclamação dos fiéis, pedindo a Igreja de volta.

Por conta disso, o Arcebispado de Maceió, em contato com a prefeitura de Marechal, pediu para que as estantes e os livros fossem colocados em outro local. A informação foi confirmada ontem pelo porta-voz da Arquidiocese, padre Rodrigo Rios. Segundo ele, apesar de totalmente restaurada e pronta para ser reaberta, a Igreja deve continuar fechada até que seu projeto bibliotecário seja modificado.

Em nota a assessoria do arcebispo do Beto, por meio padre Rodrigo Rios, explicou a situação. Segue, na íntegra a nota da Arquidiocese de

Maceió:

“Desde que a Arquidiocese de Maceió ficou ciente da situação, procurou as autoridades civis competentes para que a referida Igreja não fosse destinada para uma finalidade não religiosa, visto que o povo de Deus da cidade de Marechal se preocupava bastante com isso.

Não há uma necessidade real para este intento, visto que há outros espaços que poderiam ser disponibilizados para alocarem uma biblioteca, como o Museu de Arte Sacra que lá se encontra. O complexo do convento se tornaria assim um centro cultural!
Seria muito mais harmonioso com o projeto. Além disso, utilizar a referida igreja para isso, perder-se-ia o sentido histórico do templo, especialmente em uma cidade tão turística como aquela.

Dom Beto se reuniu com o Prefeito de Marechal e juntos visitaram a Igreja, na qual ele comunga do nosso parecer. Um pouco mais à frente, haverá outra encontro com o mesmo, para tratar do assunto”.

Prefeitura diz que atendeu proposta do Iphan

A reportagem da Tribuna Independente procurou ouvir também a Prefeitura de Marechal Deodoro, sobre a polêmica. Por meio do jornalista Ênio Lins, superintendente municipal de Preservação do Patrimônio Histórico de Marechal Deodoro, a prefeitura deu a seguinte resposta:

“Não existe obstáculo para essa solicitação da Arquidiocese, que é a proprietária do imóvel. Apenas a prefeitura de Marechal Deodoro concordou com a proposta anterior do Iphan e do Arcebispado de requalificar o prédio da Igreja do Amparo para sediar uma biblioteca, dividindo o espaço restaurado para essa nova finalidade com a Biblioteca Arquidiocesana.

A Biblioteca Municipal Professor Granjeiro foi deslocada para lá por conta desse compromisso com o Iphan e a Arquidiocese, mas a prefeitura acata a mudança do projeto e aguarda apenas uma nova reunião com o Arcebispo para ajuste desse cronograma”.

Uma funcionária do Iphan em Alagoas, que foi responsável pela restauração, disse que o órgão precisaria ser notificado oficialmente, pela Igreja Católica ou pela Prefeitura de Marechal Deodoro, sobre a mudança do projeto, para depois se manifestar.

Por Ricardo Rodrigues – colaborador / Tribuna Independente

Foto: Reprodução