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A fome está matando em Gaza. E é impossível dizer o contrário. Um novo relatório internacional afirma que a crise alimentar na região entrou em um estágio “alarmante e letal”, com indicadores claros de que os níveis de desnutrição e inanição já ultrapassaram os limites aceitáveis para a sobrevivência humana.

O estudo foi publicado nesta terça-feira pelo consórcio IPC (Classificação Integrada de Segurança Alimentar), composto por agências da ONU, ONGs e instituições independentes. O documento aponta que uma em cada três pessoas na Faixa de Gaza passa dias inteiros sem comer absolutamente nada.

Desde o início da guerra, há quase dois anos, a população palestina enfrenta bloqueios, bombardeios e deslocamentos em massa. Agora, enfrenta também a fome — em sua forma mais cruel.

“Mortes em massa são iminentes se nada for feito”, alerta o consórcio.

Crianças estão morrendo por desnutrição

Entre abril e julho, mais de 20 mil crianças deram entrada em hospitais com sinais de desnutrição aguda. Dessas, 3 mil estão em estado grave. Desde 17 de julho, ao menos 16 crianças com menos de cinco anos morreram de fome, segundo registros médicos.

Nas palavras do relatório: “os limiares de fome foram atingidos em grande parte da Faixa de Gaza”.

Ajuda aérea é insuficiente

Apesar da autorização recente de Israel para lançamentos aéreos de mantimentos, os especialistas são categóricos: essa forma de entrega é cara, arriscada e ineficaz para conter a fome. A entrada por terra — que segue bloqueada em grande parte do território — continua sendo a forma mais segura e eficiente de ajuda.

Em maio, o IPC já havia classificado 93% da população de Gaza (cerca de 1,95 milhão de pessoas) em situação de crise alimentar. Desses, 925 mil vivem em emergência, e 244 mil estão em estado de catástrofe. Uma nova atualização deve confirmar números ainda mais trágicos.

Fome como arma de guerra

O secretário-geral da ONU, António Guterres, afirmou recentemente que “a fome nunca deve ser usada como arma de guerra”. Mas, segundo relato das agências humanitárias que operam no local, é exatamente o que está acontecendo.

Pelo menos 30 pessoas morreram apenas nesta madrugada após um novo ataque israelense a um campo de refugiados em Nuseirat, no centro da Faixa de Gaza. O cerco, a destruição de infraestrutura e a restrição à entrada de alimentos criaram um cenário de completo colapso social.

Bombardeios israelenses durante a madrugada atingiram um campo de refugiados ao norte de Nuseirat, no centro da Faixa de Gaza. Segundo o hospital local, os corpos chegaram dilacerados

Há relatos de famílias comendo grama ou ração animal para sobreviver. Em algumas regiões, a carne de tartaruga virou alternativa alimentar.

Pausa tática limitada

Israel anunciou no domingo uma pausa tática diária, entre 10h e 20h (horário local), para permitir a distribuição de ajuda humanitária. No entanto, os ataques continuam fora desse horário e em áreas não cobertas pela medida. Segundo o Escritório da ONU para Assuntos Humanitários, a ajuda que chega ainda está muito aquém do necessário.

A guerra foi deflagrada após os ataques do Hamas em 7 de outubro de 2023, que deixaram 1.219 mortos em Israel, a maioria civis. Desde então, a Faixa de Gaza mergulhou em um conflito que já matou mais de 59 mil pessoas, feriu outras 145 mil.

Por Notícias ao Minuto

FOTO: © Getty \ Mundo Gaza