Em 5 de agosto, um dia após o ministro Alexandre de Moraes decretar prisão domiciliar de Bolsonaro, o deputado federal Arthur Lira reclamou da decisão. Mas suas palavras ficaram distantes das reações dos bolsonaristas e de parlamentares da extrema direita. Cuidadoso, ele afirmou considerar a medida “exagerada”. Nenhum ataque ao Judiciário ou a Moraes, como fazem a tropa de choque do Jair e seus satélites parasitários.
Para o ex-presidente da Câmara, o ato do ministro do STF seria desnecessário. A declaração foi esta: “As medidas aplicadas a Jair Bolsonaro são exageradas e acirram os ânimos em um país já polarizado que, na verdade, precisa de paz e estabilidade para progredir”. Repare que ele critica, mas não recorre ao esgoto e à infâmia.
Na mesma linha, ele fechou o raciocínio com esta digressão: “O Brasil precisa tratar melhor seus ex-presidentes. Tenho dito e defendido isso há muito tempo”. (Rapaz, eu até concordo, mas seria outro debate. Fica para um futuro texto). As declarações foram publicadas pela imprensa. A postura do deputado não causou nenhuma confusão.
Na semana passada, na véspera de começar o julgamento de Bolsonaro, lá vai o alagoano visitar o ex-presidente. Segundo ele, foi apenas uma “cortesia”. No mundo real, ele teria se comprometido a batalhar pelo projeto de anistia para o golpista enrolado.
Os movimentos de Lira indicam que, é claro, trata-se de um aliado de Jair Messias. E aí chegamos ao 7 de setembro. Outra vez, uma turba de alienados, capachos e malucos foi às ruas pedir impunidade para o homem que tramou um golpe para ficar no poder por meios espúrios e criminosos. Arthur Lira participou de algum ato neste domingo?
De jeito maneira. Até onde sei, não passou nem perto. O homem pode até detestar a atuação do STF, mas não expõe isso publicamente. Aliás, quando presidente da Câmara, o deputado falou grosso com o Executivo, sendo acusado até de tentar chantagear o governo Lula. Com o Judiciário, porém, preferiu a via segura da diplomacia.
Reconheçamos: na arte da política, Arthur Lira rende um estudo de caso. Costurou com Bolsonaro presidente e costura com o sucessor. Mesmo após deixar o comando da Câmara, seguiu forte junto a Lula. Está em suas mãos o projeto dos sonhos para o petista – o que trata da isenção de Imposto de Renda para quem recebe até 5 mil reais.
Com um GPS em Brasília e outro nas eleições de Alagoas, Lira combina os dados de geolocalização para garantir rotas livres de curvas perigosas. Dessa forma, se mantém “solidário” a Bolsonaro e parceiro de Lula “no que for de interesse do Brasil”.
Nesse padrão de conduta não cabe a fúria palanqueira de ataques ao STF. Um craque da política não se arrisca a tanto, a não ser no desespero – o que não é o caso do rei das vaquejadas. No domingão, Arthur Lira silenciou. Silêncio planejado e eloquente.
CADA MINUTO
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