Mais de 90% dos corais alagoanos estudados por pesquisadores da Universidade Federal de Alagoas (Ufal) sofreram branqueamento. O fenômeno é um estado de vulnerabilidade da saúde dos corais que pode levar a morte parcial ou total das colônias de corais. Esse índice de mortalidade é algo sem precedentes no litoral do estado. Uma das causas para a mortalidade foi a elevação da temperatura da água que, neste ano, ficou acima da média. Este mês, um novo estudo deverá ser realizado pelos pesquisadores da Ufal.

A temperatura girou em torno de 34°C, cerca de 3ºC a mais do que o usual. Esse aquecimento provocou devastação no ecossistema marinho, impressionando até mesmo os pesquisadores Ricardo Miranda e Robson Santos, responsáveis pelo estudo. O branqueamento dos corais foi verificado em grandes proporções e intensidade no litoral alagoano.
Os estudos apontaram que todas as espécies de corais foram afetadas, a exemplo do coral-de-fogo (Millepora alcicornis) e o coral-couve-flor (Mussismilia harttii), este é endêmico do Brasil, ou seja, só ocorre no litoral brasileiro.

O fenômeno recebe o nome de “branqueamento” uma vez que as altas temperaturas da água fazem com que o animal expulse da sua pele as pequenas algas coloridas, chamadas zooxantelas. O branqueamento dos corais foi, mais recentemente, estudado no último mês de agosto.

A recuperação natural dos recifes de coral que não morreram totalmente vai ser lenta, pois vai depender do crescimento das poucas colônias sobreviventes, além do recrutamento de novas larvas de corais.

A saúde dos recifes de corais em Maragogi, Paripueira e Maceió está sendo monitorada desde setembro de 2023. Isto porque, antes mesmo deste período, já havia sido registrado o evento do branqueamento, quando a temperatura da água influenciou na sobrevivência de várias colônias.

Universidade possui parcerias no projeto

O projeto da Ufal para monitorar a saúde dessas colônias conta com o financiamento da Fapeal e bolsas de estudo do CNPq, além de integrar uma rede nacional de monitoramento. Os pesquisadores integram várias metodologias com instalação de sensores para avaliar a temperatura nos recifes; sondas para mapeamento digital detalhado da estrutura; além de mergulhos para registrar com imagens a cobertura de corais e os peixes recifais. As avaliações são feitas em três momentos: antes, durante e depois do aquecimento das águas para ter uma ideia mais clara do estado real das perdas após esse evento extremo.

De acordo com os professores Ricardo Miranda e Robson Santos, a recuperação é lenta e as ações de enfrentamento devem ser globais e locais. A Ufal está articulando parcerias com diversos setores como a academia, o Estado e ONGs, para pensar alternativas de reestruturar os corais e gerar renda com o turismo sustentável.

“Os recifes não estão completamente mortos. Ainda existem corais e recifes vivos. O trabalho de monitoramento ainda continua em curso para avaliação completa dos efeitos desse fenômeno.

Biodiversidade sofre com morte dessas colônias

O pesquisador Ricardo Miranda explicou que com a morte dos corais, a biodiversidade marinha é afetada, impactando diretamente a pesca, o turismo e até mesmo a proteção da linha de costa contra tempestades e erosões.

“Quando os corais morrem, os ecossistemas marinhos enfraquecem e nós, humanos, também sentimos o impacto”, lamentou.

O pesquisador afirmou também que os resultados das análises preliminares foram devastadores. “Apesar da beleza dos recifes alagoanos quando vistos de cima, o que encontramos embaixo d’água foi um grande cemitério de corais”, detalhou o pesquisador que fez o levantamento junto ao também pesquisador Robson Santos.

Conforme os estudiosos do assunto, essa mortalidade é fruto de uma interação de fatores, a exemplo do El Niño, impactos humanos e mudanças climáticas.

“Tivemos um evento de El Niño, que naturalmente eleva a temperatura da água, mas que teve a sua intensidade aumentada devido às mudanças climáticas. Essa temperatura mais alta perdurou por um longo período fazendo com que a maioria dos corais não resistisse. Outro fator importante é a constante degradação dos ecossistemas costeiros, seja por poluição ou por uso insustentável que ao longo de anos vai reduzindo a saúde dos recifes e a chance de recuperação dos corais após eventos como estes”, contextualizou o professor Robson Santos.

Neste mês de outubro e também em novembro, a equipe do Laboratório de Ecologia e Conservação no Antropoceno (Ecoa) da Ufal vai retornar ao mar do litoral alagoano para uma nova missão de avaliação sobre a mortalidade dos corais.

A preocupação com o branqueamento dos corais encontra sentido por serem os corais o coração dos oceanos, fornecendo abrigo e alimento para inúmeras espécies marinhas.
Os resultados dessa nova avaliação serão divulgados ao seu final.

Por Valdete Calheiros – colaboradora / Tribuna Independente

Foto: Assessoria