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Fazer parte de um serviço essencial em tempos de pandemia não é tarefa fácil. Imagine ter que cuidar de pacientes com um novo coronavírus (Covid-19), ver casos evoluírem de forma rápida para gravidade, sem contar ter que lidar com uma doença que ainda não tem remédio específico ou vacina e conviver com ganhos e perdas de vidas, e, mesmo assim, ter que seguir em frente.

Quem trabalha com saúde vive diariamente essa rotina. Imagine agora inverter esse papel. Sair do lado de quem cuida para ser cuidado. Até o dia 12 de junho, o Brasil tinha registrado 83.118 profissionais infectados e 169 mortes entre trabalhadores dessa categoria. A Santa Casa de Maceió, até o dia 13 de junho, tinha afastado 1051 profissionais com a suspeita ou a confirmação de contaminação pelo vírus. Contamos a história de três profissionais que venceram a covid-19 e retornaram ao trabalho.

Carlos Emídio é cardiologista e trabalha na Santa Casa de Maceió desde 2005. Conhecido por sua disposição e amor ao trabalho, atuava na Emergência 24h no período em que 80% dos pacientes que buscavam atendimento eram casos suspeitos ou confirmados de covid-19. “Me protegia com EPI, mas fui contaminado provavelmente neste setor”, disse ele.

“Atendi na Emergência nos dias 28 e 30 de abril, nestas ocasiões, atendi pacientes com covid-19 confirmados e procedemos intubação orotraqueal de alguns. No sábado iniciei uma leve dor de ouvido. Segunda-feira suspeitei que podia estar doente, pois tive calafrios e febre baixa, então iniciei os medicamentos do protocolo. Na terça trabalhei sentia moleza no corpo e passei a notar que me cansava mais fácil que o normal. Foi então que na madrugada de quarta que voltei à Emergência, mas na condição de paciente. Já fiquei internado após receber medicamentos sintomáticos”, contou Emídio.

Até receber alta, o médico passou 24 dias internados, 15 deles na UTI. O caso evoluiu grave e ele precisou ficar intubado por sete dias. “Na Santa Casa de Maceió fui tratado com excelência por todos profissionais. Desde o primeiro dia que fui internado, no apartamento, depois com doutor Mário José, na UTI, e em especial pelas médicas intensivistas Sandra Márcia Bastos, Cláudia Falcão e Omena Costa, Viviane e pelo dr. Iracildo Camelo. Sair do tubo, acordar, foi como renascer. Receber alta foi um alívio. Voltar a trabalhar foi a demonstração final da vitória que foi de Deus e de todos que rezaram e sofreram por mim”, finalizou.

Sabrina Montemor, enfermeira neurointensivista

Sabrina Montemor trabalha na Santa Casa de Maceió há 12 anos. Enfermeira Neurointensivista, lida com pacientes críticos, muita complexidade, inovações tecnológicas e peculiaridades no atendimento. A covid-19 chegou para mexer com sua vida profissional e pessoal. “Estamos trabalhando com paciente covid-19 na UTI Neurologia há quase quatro meses. Confesso que no começo dos atendimentos muita coisa mudou para nós da assistência, a começar pela paramentação, pois fazer uso dos EPIs em todo momento não é uma tarefa fácil. Associado a tantas mudanças, o medo era inevitável”, contou.

Sabrina Montemor – Enfermeira ((Foto: Divulgação Santa Casa)

Quando descobriu ter sido contaminada, a sensação de insegurança, angústia e medo quis tomar conta. Mas se manteve firme. “Tudo começou quando senti um incômodo nas costas. Foi solicitado tomografia de tórax e o diagnóstico era pneumonia por “covid”. Depois fiz a confirmação da doença através da sorologia. Fui atendida duas vezes na Emergência, fiz todos os exames e recebei orientação médica do cuidado domiciliar. Tive medo da própria doença e de infectar quem estava comigo no isolamento, por isso tentei manter distância de todos dentro de casa, mesmo sendo muitas vezes impossível porque tenho uma filha de cinco anos, mas, graças a Deus, ela e meu esposo não tiveram nada e passam bem. Hoje estou curada, de volta ao trabalho, atuando na linha de frente contra o novo coronavírus. Meu sentimento é de gratidão por não ter me agravado e não ter contaminado ninguém da minha família”, contou a enfermeira intensivista.

Bruna Nagle, enfermeira da Unidade Irmã Inocência

Enfermeira da Unidade Clínica Médica Irmã Inocência, Bruna Nagle trabalha há 8 anos e meio na instituição. Segundo ela, atender os primeiros pacientes com covid-19 foi assustador, não apenas para ela, mas para toda a equipe. “Nas duas primeiras semanas, o medo era de todos. Medo de ficar doente, de levar a doença para casa, medo de morrer. Muitos profissionais pensaram em não ir mais trabalhar. Mas os enfermeiros tiveram um papel muito importante durante esse período, atuando quase no papel de psicólogos também, conversando e ajudando a minimizar a situação. Foi um momento em que tive que ter bastante paciência, empatia e confiança, pois, mesmo com medo, não podia deixar esse sentimento transparecer”, disse.

Bruna Nagle – Enfermeira (Foto: Divulgação Santa Casa)

Cerca de 30 dias depois que os primeiros casos chegaram, a profissional passou a apresentar sintomas da doença. O exame deu negativo, mas ela sabia que o resultado poderia ser falso negativo diante do quadro. “Fui tranquila para casa, tomando os cuidados necessários. Havia se passado um mês desde que iniciamos o atendimento de casos da doença e vimos, no nosso setor, que muitos pacientes eram tratados de forma tranquila, sem uma evolução grande da infecção”, destacou a enfermeira que não precisou ser internada. “A sensação de voltar ao trabalho foi de agradecimento pela vitória, de poder exercer minha profissão”, finalizou.

SEGURANÇA

Para prestar assistência ao paciente covid, os profissionais da Santa Casa de Maceió participaram de diversos treinamentos. Novos protocolos também foram implementados para que o trabalho fosse executado com segurança tanto para o paciente, como com os colaboradores.

Fonte: Ascom Santa Casa de Maceió \ TRIBUNA JOJE

(Foto: Divulgação Santa Casa)