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A Rússia anunciou que terá vacina contra a covid-19 em agosto. “Lá para 14 ou15 de agosto, espero, a quantidade pequena de vacina que devemos ser capazes de produzir entrará em circulação pública”, afirmou Alexander Ginsburg, diretor do Instituto Gamaleya, em Moscou, de acordo com a Reuters. Assim, o país seria o primeiro do mundo a ter um imunizante contra a doença.

Mas o infectologista Alexandre Barbosa, chefe do departamento de Infectologia da Unesp (Universidade Estadual Paulista), explica que, na verdade, a vacina russa não está mais avançada do que outras produzidas ao redor do mundo e que estão na fase 3 (última etapa de testes). “[esse prazo apresentado pela vacina russa] diz respeito à fase em que a vacina é testada nas populações de maior risco, que deve durar no mínimo três meses”, afirma.

A agência de notícias russa RIA confirma essa informação. “Isso será equivalente a um teste de fase 3, já que as pessoas que receberem a vacina ficarão sob supervisão”, segundo a Reuters.

Há atualmente 19 vacinas contra a covid-19 no mundo em fase de testes em humanos, sendo que apenas duas estão na fase 3, ainda de acordo com a Reuters. Uma é a chinesa Sinopharm, a outra é a vacina da Universidade de Oxford, do Reino Unido, com a empresa AstraZeneca, que tem parte do teste realizado no Brasil pela Unifesp (Universidade Federal de São Paulo). A Coronavac, produzida pelo laboratório chinês Sinovac Biotech e coordenada no Brasil pelo Instituto Butantan, deve se tornar a terceira no final deste mês, também com testes por aqui a partir de 20 de julho.

Caso a comercialização seja aprovada, as vacinas da Oxford e a Coronavac serão distribuídas pelo SUS (Sistema Único de Saúde). Já a vacina russa não deve estar disponível no país, nem em clínicas particulares. “Pelo menos inicialmente, qualquer vacina que for aprovada para uso, estará disponível somente na rede pública”, afirma Juarez Cunha, presidente da SBIm (Sociedade Brasileira de Imuzações).

Vacina russa é parecida com Coronavac

Os mecanismos de ação das vacinas são diferentes, embora todas tenham o mesmo objetivo, que é produzir uma memória de defesa no organismo. A infectologista Rosana Richtmann, da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI), explica que a vacina de Oxford é preparada por meio da combinação de adenovírus inativados e proteínas do Sars-Cov-2, o coronavírus que causa a covid-19.

Até o momento, cerca de 10% dos voluntários apresentaram efeitos colaterais comuns entre vacinas, como febre de leve a moderada, por no máximo dois dias, segundo a médica.

Já a Coronavac é feita com fragmentos do novo coronavírus inativado. De acordo com Barbosa, apesar de mais segura, esse tipo de vacina não é tão eficiente. Por esse motivo, é preciso adicionar ao imunizante os chamados adjuvantes, substâncias que melhoraram sua efetividade.

O adjuvante usado na Coronavac é uma formulação de alumínio, que “pareceu promover altas quantidades de anticorpos neutralizantes”, segundo artigo publicado na revista científica Nature no dia 4 de junho.

Nas duas primeiras fases de testes da Coronavac, mais de 90% dos voluntários desenvolveram anticorpos e nenhum deles apresentou efeitos colaterais graves.

Segundo a infectologista Raquel Garcia, da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI), o mecanismo da vacina russa é semelhante à Coronavac, pois ambas são preparadas com pedaços inativos do vírus.

“A diferença é que a Coronavac utiliza de pedaços da proteína spike, que é uma membrana da cápsula externa do vírus, já a vacina russa utiliza pedaços do RNA, que é localizado dentro do vírus”, explica. Ela afirma que o primeiro modelo produz maior reação no organismo.

Segura para uso

Resultados iniciais de um primeiro teste em pequena escala da vacina russa desenvolvida com humanos demonstraram que ela é segura para uso, de acordo com informações da Reuters.

Os testes da vacina russa com humanos começaram em 18 de junho. Outros 20 voluntários receberam a vacina em um hospital militar no dia 23 de junho. Todos não apresentaram nenhuma reação adversa significativa, ainda de acordo com a agência de notícias.

“Dados disponíveis atualmente mostram que os voluntários desenvolveram uma reação imunológica à vacina contra o coronavírus”, afirmou o Ministério da Defesa russo em publicação da Reuters.

*Estagiária do R7 sob supervisão de Deborah Giannini

Sofia Pilagallo, do R7*, com Reuters

FOTO: Arquivo/ Pixabay