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O Instituto Nacional do Câncer (Inca) estima que sejam registrados até o fim deste ano, 620 novos casos de câncer de mama a cada 100 mil alagoanas. Em todo o país são mais de 60 mil novos casos e mais de 17 mil mortes por ano. Por trás das alarmantes estatísticas existe uma dura realidade: o da luta no enfrentamento da doença, que começa no diagnóstico e, ao contrário do que se possa pensar, não acaba ao fim do tratamento.

Regina Toledo, de 53 anos, lembra bem de cada detalhe desde o diagnóstico da neoplasia da mama, em 2016. Ela finalizou o tratamento, mas segue um acompanhamento rigoroso para acompanhar uma possível retomada.

“Descobri o câncer em novembro de 2016 fazendo minha revisão anual. Sempre fiz meus exames de mamografia e ultrassonografia das mamas. Fiz a cirurgia de retirada da mama direita em dezembro de 2016. Meu tratamento foi em 2017. Fiz quatro sessões de quimioterapia e 25 de radioterapia”, recorda.

Mas quem lê a história de superação, não imagina os momentos difíceis enfrentados após o diagnóstico. A descoberta da doença veio ainda em estágio inicial.

“Foi um susto, fiquei muito nervosa e chocada com o resultado da biópsia. Mas por aconselhamento médico procurei ajuda psicológica e psiquiátrica para ajustar a ansiedade e ter um pouco de calma para começar essa nova caminhada. Com isso, fui encarando de forma mais leve o diagnóstico. Pois foram muitos exames, consultas até chegar a cirurgia. Meu tratamento foi bem tranquilo pois estava bem preparada emocionalmente para enfrentar a quimioterapia e a rádio. Perdi meus cabelos, foi uma grande transição. No começo foi difícil depois encarei como liberdade e aproveitei o máximo minha carequinha e os lenços lindos e coloridos que faziam o maior sucesso”, conta entusiasmada.

O enfrentamento da doença fez Regina desenvolver novos hábitos e até um novo hobby. Ela considera que as cicatrizes da cirurgia são “marcas de vitória”.

“Nessa minha trajetória, aprendi uma arte e hoje ela me faz completa. Faço trabalhos manuais de feltro. Levo uma vida mais leve, faço exercício, tento ter uma alimentação saudável. Faço acupuntura que me ajuda bastante, participo de um grupo de meditação para sempre estar com a mente saudável. Busco ajudar sempre com uma palavra as pessoas que estão no processo do descobrimento do câncer, lembrando que tudo passa, basta termos fé, coragem e paciência. A minha fé, minha família, meu esposo e meus amigos foram fundamentais para esse processo. Sem eles tudo seria mais difícil. Hoje sou grata a Deus pela minha nova vida e só quero ser feliz em abundância”, destaca.

Quem também tem uma história de superação para contar é Ademilda da Silva, de 60 anos. A luta para vencer a doença começou há oito anos. Mesmo após o tratamento, ela conta que a vigilância é constante.

“A vida depois do tratamento do câncer é uma vida de vigilância. E constante ida ao oncologista para realizar exames de rotina tais como mamografia, ultrassom mamária e abdominal, raio-x… Mas a vida continua. Danço, passeio, faço festa. Dou minha participação na ONG Mama Renascer. Rezo, vou a paróquia todos os domingos”, comenta.

A mastologista Shyrlene Santana explica que uma das etapas mais delicadas é o diagnóstico da doença pois envolve a aceitação da paciente e a disposição em começar o tratamento. Ela pontua que para o profissional este momento também é desafiador.

“Para a gente é difícil também porque a maioria das pacientes não aceitam de cara o diagnóstico, e elas tentam ou culpabilizar ou procurar uma justificativa para o que está acontecendo, ou não aceitam o diagnóstico e isso faz com que atrase em relação à aceitação e ao início do tratamento. É um processo difícil porque tem que ter uma vinculação médico-paciente. Às vezes, essas mulheres não enxergam de forma positiva, óbvio. Mas depois vai se ajeitando de uma maneira melhor. Já houve casos de a paciente não aceitar e atrasar o diagnóstico”, explica Shyrlene.
Diagnóstico precoce da doença eleva chance de cura para 95%

O diagnóstico precoce é fundamental para o sucesso do tratamento. Quando detectado de forma precoce a chance de cura é de 95%. Mesmo assim, o câncer de mama ainda é o que mais mata mulheres. Shyrlene aponta que o tratamento é definido a depender do estágio e apresentação da doença.

“O processo para o diagnóstico primeiro passo é quando acha alteração no exame de imagem ou quando paciente faz o autoexame e percebe alteração. O primeiro passo é fazer exame diagnóstico, mamografia, às vezes ultrassom, ressonância, a biópsia que é o que confirma realmente o diagnóstico. E a partir daí essa paciente vai ser encaminhada para o tratamento. As etapas vão depender do estadiamento da doença. Os tratamentos clássicos são cirurgia, quimioterapia, radioterapia, hormonioterapia e hoje tem a imunoterapia. A ordem dos tratamento vai depender do tipo do tumor, do estadiamento da doença, nem todo mundo precisa fazer quimioterapia, nem todo mundo faz cirurgias radicais, vai depende de cada caso. A partir do diagnóstico dado a gente encaminha para acompanhamento psicológico, porque isso contribui com a evolução do tratamento”, explica

A também mastologista Francisca Beltrão da Matta ressalta que um ponto fundamental no sucesso do tratamento é a maneira como a paciente reage. Fatores emocionais, psicológicos e principalmente o “pensamento positivo” são cooperadores para o processo.

“Dar um diagnóstico de uma doença como o câncer não é uma missão fácil, e a gente não aprende na faculdade. Vai depender muito de como você lida no seu dia a dia, de sua sensibilidade. Tento passar de uma forma leve, se possível, mas trazendo a verdade para o paciente. No momento do diagnóstico é sempre bom ter alguém por perto, informar o paciente e dando esperanças. Mostrar como vai ser, conversar com calma como são as etapas do tratamento e que existe chance de cura. Isso é super importante, principalmente quando conseguimos descobrir a doença no início. Mas eu costumo dizer que o paciente vá para casa, chore tudo que tiver para chorar e volte para fazer o tratamento. O pensamento positivo no tratamento é super importante. A gente vê que as chances do tratamento dar certo para a paciente otimista é muito maior. A paciente otimista vai fazer a parte dela e assim a gente consegue ajudar. Se o paciente não se ajudar não adianta nada o que se faça”, acrescenta.

Fonte: Tribuna Independente / Evellyn Pimentel

(Foto: Acervo pessoal)