Esta semana, a Justiça americana condenou por fraude Elizabeth Holmes, fundadora de uma empresa que prometia uma revolução na saúde a partir de uma gota de sangue. Elizabeth arrebatou investidores, virou estrela no Vale do Silício e ganhou muito dinheiro. Até que a farsa foi descoberta…
Em 2003, Elizabeth Holmes tinha 19 anos. Deixou o curso de Engenharia Química na Universidade de Stanford, uma das mais importantes dos Estados Unidos, e fundou uma empresa de tecnologia. Poucos anos depois, a Theranos valia US$ 9 bilhões, e Elizabeth se tornou a mais jovem bilionária do ramo.
Mas o que parecia um conto de fadas escondia um crime. A máquina que ela criou para revolucionar a medicina era uma fraude, e, agora, Elizabeth foi condenada e pode pegar até 20 anos de prisão.
Essa é a história de como uma jovem bonita e bem falante conseguiu enganar quase todo mundo por mais de dez anos.
O cenário é o Vale do Silício, a região ao sul de São Francisco onde se concentram as megaempresas de alta tecnologia. A mais famosa é a Apple, fundada por Steve Jobs em 1976 e que hoje vale US$ 3 trilhões.
Aos 7 anos de idade, Elizabeth Holmes já dizia que ia ser como Steve Jobs: fundar uma empresa no Vale do Silício e ficar bilionária. E ela conseguiu. Imitava Jobs em tudo, até nas blusas pretas de gola roulé e na voz grave, que ela usava para parecer mais séria.
Mas era tudo falso. No fim da história, Elizabeth Holmes não passou de uma vigarista bem-sucedida. A cardiologista Phyllis Gardner foi professora de Elizabeth em Stanford.
“Não acho que ela estava mentindo sobre o que achava que podia fazer. Ela veio até a mim para conversar, mas, na verdade, ela não queria a opinião de especialistas. Era uma coisa impossível, uma ideia ridícula, mas na cabeça dela era brilhante”, disse Phyllis.
A jovem inventora foi em frente. Ela registrou a patente de um novo sistema para diagnosticar determinadas doenças: bastava uma gota de sangue colhida de um dedo e transferida para um cartucho. E este, inserido numa máquina portátil que ela chamou de Edison. A máquina faria mais de 200 testes com essa amostra de sangue.
Os resultados sairiam na hora. Isso a um custo muito inferior ao que os laboratórios cobram. Os pacientes poderiam fazer os exames em casa, e doenças seriam descobertas a tempo de tratar. A saúde seria acessível para todos.
Bill Clinton, ex-presidente americano, foi um que caiu. Mas não só ele. A jovem loura de enormes olhos azuis convenceu muita gente. Os ex-secretários de Estado Henry Kissinger e George Shultz entraram para o conselho da empresa.
O bilionário Rupert Murdoch, dono da Fox News e do Wall Street Journal, investiu US$ 125 milhões na empresa dela. O então vice-presidente Joe Biden foi a Theranos, vistoriou o laboratório e falou maravilhas do que viu. Em 2014, as ações de Elizabeth valiam US$ 4,5 bilhões.
Cem mil pacientes tiveram o sangue examinado pela Theranos através de uma rede de farmácias. Mas os resultados não eram confiáveis. Pessoas foram internadas às pressas porque os exames apontavam números alarmantes, mas, na verdade, estava tudo normal.
Outros estavam realmente doentes, mas os exames da Theranos não detectaram nada. Em 2015, ex-funcionários da empresa entraram em contato com o Wall Street Journal e contaram tudo o que sabiam.
As autoridades finalmente passaram a investigar a Theranus, e a fraude foi comprovada. Elizabeth e seu sócio e amante, o paquistanês Ramesh Balwani, perderam tudo, e a empresa fechou.
O processo na Justiça foi adiado por causa da pandemia, mas Elizabeth foi a julgamento no fim do ano passado, e condenada por fraude e conspiração. Balwani será julgado mês que vem.
Melissa Ribeiro é executiva numa empresa no Vale do Silício. Ela fala do impacto que o caso teve para quem trabalha com tecnologia da Califórnia.
“Antes era a cultura de ‘não fale que você vai ser mandado embora’, só que eu sou responsável por falar ‘não, você vai falar, e eu vou te proteger. Porque é parte do meu trabalho’. Foi muito dinheiro e foi muita fraude, então trouxe muita é má reputação para o Vale agora, mas eu prometo que em pouco tempo vai ser esquecido”, disse Melissa.
É que uma indústria que vale trilhões não pode se dar ao luxo de ser enganada mais uma vez.
Redação com G1
Reprodução/Instagram