width=

Os altos níveis de poluição identificados no Complexo Estuarino Lagunar Mundaú Manguaba (CELMM) vão ser alvo de investigação da Polícia Federal (PF) após demanda do Ministério Público Federal (MPF). Para especialistas consultados pela Tribuna Independente, a situação nas lagoas é complexa e exige que seja feita uma avaliação criteriosa envolvendo os cursos d’água, municípios banhados e toda a cadeia produtiva envolvida para que seja possível uma mudança de fato no cenário.

Autor de um projeto sobre o monitoramento do complexo, o pesquisador Emerson Soares defende a articulação e adoção de políticas públicas efetivas para o acompanhamento das condições.

“Precisamos entender de onde vem o problema, as fontes poluentes e oa riscos que o ambiente e a população está correndo. Para resolver o problema serão milhões de reais. E também fiscalização e punição aos que fazem da lagoa um depósito de problemas. Mas não adianta muito se realmente não houver vontade política dos municípios e do governo do Estado em fazer as devidas ações na região, o problema ali é de grande envergadura e exigirá comprometimento de todos, inclusive da população”, pontua o pesquisador.
Emerson relembra que após a mortandade de peixes registrada no início de abril na região do Flexal em Bebedouro, as análises identificaram poluentes difusos, metais pesados, lançamento de esgoto, agrotóxicos que comprometem de forma severa tanto o ecossistema como quem depende da lagoa para a sobrevivência.

“Ali não é uma questão simples, não só é uma situação de uma poluição temporária. Ali é constante a situação de problemas com agroquímicos, problemas com esgoto, esgoto sendo doméstico, industrial, de metais pesados. Agora é preciso lembrar que o problema dos esgotos tanto de industrial como esgoto doméstico não é exclusivo da cidade de Maceió, que não faz tratamento de seus resíduos corretamente, não só dela. Mas tem que lembrar que têm outros municípios ali que estão lançando tudo no ambiente, nos rios e que vão chegar nas Lagoas Mundaú e Manguaba. Porque poluidores são os municípios também. Não vai ser fácil para resolver. Mas é um é um start para que a coisa comece a ter seriedade e exigir que façam a coisa correta ali na lagoa porque aquilo ninguém aguenta mais”, defende.

POLUIÇÃO DIFUSA

O coordenador de gerenciamento costeiro do Instituto do Meio Ambiente de Alagoas (IMA) Ricardo César detalha que a poluição se inicia muito antes do complexo e envolve os rios Paraíba e Mundaú desde as cabeceiras.

“Foi constatado pelo IMA que a poluição é bem difusa, isso ocorre pela grande extensão do complexo e da bacia dos dois rios principais, Paraíba e Mundaú, que cortam muitos núcleos urbanos onde há lançamento de esgotos e águas servidas, infelizmente. Uma variedade de uso nas áreas marginais e os resíduos acabam indo para o CELMM. Temos muitas culturas, como a cana, criação de gado, que usam inseticida, herbicida, adubo e todo esse material que não vai para o solo, que não é absorvido acaba indo para o CELMM”, diz.

O IMA foi um dos entes oficiados pelo MPF a prestar esclarecimentos sobre as condições do complexo. Apesar de atuar com a fiscalização e liberação de licenciamento, o IMA reconhece que faltam políticas públicas.

“Vamos explicar essas origens e dizer que precisamos de políticas nas esferas federal, estadual e municipais. O IMA tem atuado com o fim dos lixões e a cobrança para que as instalações façam tratamento de esgotos para contribuir com a preservação. Infelizmente o CELMM tem esse mix de poluentes, metais pesados até substâncias encontrados em combustíveis fosseis, nitrogênio, fósforo. E em relação a poluição específica, que tem um potencial gerador, é mais fácil de identificar. Estamos adquirindo mais materiais e equipamentos para que essa resposta seja dada de imediato. Toda a exigência de licenciamentos, tratamento de esgotos, licenciamento de atividades de agriculturas, são ações que tendem a reduzir a poluição, mas que exigem a integração de todos os entes envolvidos e adoção de políticas públicas”, destaca o órgão.

Por Evellyn Pimentel com Tribuna Independente
Foto: Edilson Omena