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Moradores da comunidade do Bolão, no Farol, acusam uma obra de construção da Escola Superior da Magistratura do Estado de Alagoas (Esmal) de comprometer, ainda mais, a estrutura, já precária, das residências locais.

A obra está sendo erguida há pouco menos de um ano, conforme cálculos da população local, e provoca “estremecimento” das casas localizada nas redondezas.

A população também afirmou que o objetivo da obra é acelerar a retirada da comunidade local para que a Esmal faça um mirante, como um dos projetos da construção final.

A dona de casa Maria José dos Santos Rocha, mora há 45 anos no local, e disse que a situação piorou de forma gritante desde o início da construção.

“Quando os operários começam o trabalho a gente já sente dentro de casa e não é nem pelo barulho, nem pela poeira. Os vidros começam a tremer, os moveis começam a balançar, os utensílios domésticos ameaçam cair, se a gente tiver sentada no sofá parece uma montanha russa. Sabemos que no quintal das nossas casas, a erosão existe há anos, mas podemos afirmar que essa construção ajudou a piorar o que já era ruim”, detalhou.

Ela é filha da dona de casa Maria das Dores dos Santos Rocha, uma senhora de 80 anos, uma das primeiras e morar na comunidade do Bolão. “Nasci e me criei aqui. Então tenho como falar sem medo de errar, quando começam a bater estaca na obra, nossas casas parecem que vão desabar de vez”.

Adeval Fortunato não mora mais no local há 12 anos, desde que se mudou para outra proximidade, também no Farol. Mas, diariamente, está no “Bolão” preocupado com a filha que ainda reside na comunidade.

De acordo com ele, desde a década de 80 a população vê, dos fundos de casa, o precipício aumentar de tamanho e de profundidade. “Mas nunca avançou tão rápido como desde o início das obras”.

Com 55 anos de idade, dos quais 30 morando na comunidade, Quitéria Vieira da Silva contou que, ao rezar, pergunta a Deus o que mais falta acontecer com o “Bolão”.

Defesa Civil não cumpre promessas, dizem moradores

Os moradores reclamaram que desde o final de maio, a Defesa Civil prometeu fazer, no dia 06 de junho, um sorteio de novas residências para que a comunidade pudesse recomeçar suas vidas.

Renata Ferreira é uma das pessoas que aguarda um posicionamento da Defesa Civil da capital. “Estamos aguardando esse tal sorteio. Em alguns dias, faz um mês que esse sorteio era para ter sido realizado. Aliás, gostaríamos de entender que sorteio é esse. Se a própria Defesa Civil sinalizou 21 casas, com adesivos nas portas, mostrando que todas se encontram em área de risco, como é que vai ter sorteio? Todos estão na mesma situação. A gravidade está em cada uma dessas residências. Não tem como escolher quem vai morrer primeiro, quem vai morrer depois”, reclamou.

Ela contou que já recebeu dois dos três meses de aluguel social, inicialmente previsto. Mas a dificuldade de encontrar uma casa para alugar no valor de R$ 250,00 e que esteja em condições seguras é quase impossível.

“E quando este período acabar? Moro de casa própria. Aqui é meu lugar. Estou desempregada. Quem vai pagar meu aluguel depois que a prefeitura disser que o prazo acabou”, indagou, bastante preocupada.

Marlene Maria Alves dos Santos também se mudou. Há três dias morando em outro local, está conseguindo pagar o aluguel da nova residência com a ajuda dos filhos.

“É claro que o valor pago não dá para alugar um cômodo, quem dirá uma casa completa, por mais simples que seja”, resumiu a proprietária de uma das maiores casas do local.

Uma moradora que pediu para não ser identificada, temendo represálias, contou que parte da comunidade do Bolão foi levada para alguns apartamentos no Benedito Bentes, pela própria Defesa Civil, e foi expulsa por traficantes que invadiram as unidades antes e moravam no local, há algum tempo.

A Defesa Civil de Maceió informou que continua acompanhando a situação para verificar quais residências ainda precisam realizar a saída e tem auxiliado os moradores nas mudanças. Os agentes do órgão vistoriam o local diariamente, e os imóveis continuam interditados. Todos os moradores foram atendidos pela diretoria social e já receberam os auxílios moradia.

Por Valdete Calheiros – colaboradora / Tribuna Independente

Foto: Edilson Omena