O ostracismo e a solidão são as maiores dificuldades para quem alcança a longevidade, segundo a gerontóloga Denise Mazzaferro, da ONG Observatório da Longevidade Humana e Envelhecimento.
“A tristeza de não ter o que fazer e de se sentir ‘esquecido’ pela família é comum a todas as camadas sociais”, afirma.
Ela ressalta que estudos realizados nas chamadas “blue zones”, regiões do mundo com o maior número de centenários, demonstraram que o convívio social na velhice, mais do que ter que lidar com doenças crônicas, é fundamental para a qualidade de vida.
“As pessoas que estão hoje na faixa dos 50 anos devem lembrar disso para se preparar para a velhice. Crias novas redes sociais, inclusive, com diferentes faixas etárias. Vale lembrar que a sociabilidade é uma questão de personalidade. Quem gosta de gente envelhece gostando de gente. Ninguém se torna ranzinza na velhice. Provavelmente já era ranzinza na juventude”.
A gerontóloga menciona como exemplos de ambientes que promovem o convívio social os Centros de Convivência e Cultura (CECOs) da rede pública e a Universidade Aberta à Terceira Idade (Uati).
“É interessante o idoso frequentar o local com o qual se identifica. Os Centros-Dia, por exemplo, são voltados a pessoas com alguma limitação, já o Centros de Convivência, não. É importante que a pessoa esteja com sua turma para não se sentir desmotivada”, afirma.
Brasil tem mais de 30 mil centenários
A expectativa de vida do brasileiro é de 75,8 anos, segundo o IBGE. Há mais de 30 mil centenários no país, segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), do IBGE, de 2015.
“A ciência é o grande impulsionador da longevidade. Hoje as doenças crônicas podem ser controladas e houve uma melhora, de maneira geral, do saneamento básico e outras estruturas. Tudo isso contribui para o aumento da longevidade”, afirma.
Mas Denise destaca que, apensar de os idosos estarem vivendo mais, apresentam piores condições de saúde, conforme revelou uma pesquisa da Faculdade de Saúde Pública da USP. De acordo com o estudo, em dez anos, os idosos ganharam dois anos a mais de expectativa de vida, mas perderam três de vida saudável.
“Hoje há problemas como a obesidade que não eram uma questão de saúde pública antigamente”, explica.
Mais do que cuidar do corpo, ela ressalta a importância da atenção com a saúde mental. De acordo com dados da OMS (Organização Mundial da Saúde), há 50 milhões de pessoas com demência – declínio progressivo da capacidade intelectual – no mundo e esse número tende a triplicar até 2050. Cerca de 10 milhões de pessoas desenvolvem a demência a cada ano, sendo 6 milhões em países de baixa e média renda.
“É preciso ter projetos, estar ativo e planejar minimamente a situação financeira para ter condição de dignidade na velhice. Se a pessoa não tem um propósito, esse vazio pode levar à depressão”, diz.
Fazer projetos é um exercício para a velhice
Segundo Denise, a aposentadoria leva, além do ostracismo, ao isolamento social, já que a rede de amizades, principalmente para homens, está geralmente ligada ao papel profissional. “Quando envelhecem, os homens perdem poder dentro da própria família. E mesmo entre as pessoas de baixa renda, eles se queixam que os familiares só procuram por interesse econômico”, diz.
Ela ressalta que é fundamental o idoso não se vitimizar, mas sim se colocar como protagonista da própria vida. “Tentar sempre planejar quais serão seus projetos para os próximos cinco anos. Pensar em voltar a estudar, escolhendo uma área que sempre quis, e até uma nova carreira. O trabalho é uma forma de pertencimento social”, explica.
Segundo ela, é preciso levar em conta que há uma transformação do núcleo familiar. “Mesmo nas famílias mais unidas, observa-se que um filho é o cuidador e os demais estão vivendo sua vida. As pessoas que hoje são idosas não esperavam chegar tão longe. Mas geração que hoje tem 40, 50 anos, pode se preparar para isso”, conclui.
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