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De óleo vaporizador a creme para alívio da dor, adesivos, gomas,
doces variados em formato de ursinhos, cobras e arco-íris, além de
cápsulas e compostos.

O canabidiol, ou CBD, é um extrato natural da cannabis sativa
e está tão popular nos Estados Unidos que não é de se surpreender que
ele esteja disponível em todos os lugares e seja aplicado no tratamento
de inúmeras doenças.


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Os usuários dizem que o usam para tudo, desde dores musculares e
ansiedade à artrite, epilepsia e transtorno de estresse pós-traumático.
Há óleo de CBD até para cachorros, e com sabor de bacon.

É uma indústria que espera faturar, segundo a consultoria Brightfield
Group, US$ 5,7 bilhões (R$ 20 bilhões) em 2019 e US$ 22 bilhões (R$ 80
bilhões) até 2022. A diretora de pesquisa do grupo, Bethany Gomez, diz
que a Web Holdings, maior acionista do setor, cresceu 172% em 2016-17 e
estima ter faturado US$ 89 milhões (R$ 330 milhões) em 2018.

Até a gigante do setor de bebidas Coca-Cola afirmou estar
“acompanhando de perto a popularização do CBD não psicoativo como
ingrediente em bebidas funcionais no mundo”. Um pedido para mais
comentários sobre o assunto feito pela BBC Capital ficou sem resposta.

Gomez diz que, quando o Brightfield Group fez suas previsões do setor
no início do ano passado ano, eles “levantaram as sobrancelhas”. Mas,
lembra ela, três dias depois, quando a imprensa publicou que a Coca-Cola
estava interessada na indústria do CBD, a previsão fez mais sentido.

“Se você olhar para a soma total de produtos de CBD vendidos hoje,
acrescentar as megalojas e as grandes farmácias que estão implorando
para entrar… esperamos uma mudança muito rápida”.

À frente da curva

Zsolt Csonka é um dos integrantes do crescente fã clube do CBD. Ele é
fundador do Adriaen Block, um restaurante no Astoria de Nova York, o
primeiro a servir produtos à base de CBD na cidade, como coquetéis e
molhos.

Csonka garante que a bebida reduz o estresse e relaxa o estado de
espírito. Ele cita seu próprio exemplo da dificuldade que tinha para
dormir: “Quando passei a tomar duas bebidas de CBD ou adicionei gotas da
substância no café, pude dormir e relaxar muito bem. Nunca venderia
algo em que não acreditasse”.

Mas ele ressalta que não se trata de uma cura ou um conselho
milagroso. “Estamos apenas aprimorando a experiência dos clientes;
criando um ambiente para reduzir a ansiedade e o estresse”, afirma.

Compradores

Quem são os consumidores de CBD? Com base em uma pesquisa com cinco mil usuários realizada pela Brightfield no ano passado, os millennials foram os primeiros a começar a comprar produtos da CBD após sua legalização em vários Estados. Há um pico de usuários com idade por volta de 30 anos, mas o uso cai entre pessoas em torno de 40 anos (a geração X) e volta a crescer entre os baby boomers, que compram tinturas, cremes e cápsulas para usar em condições associadas ao envelhecimento, como artrite ou dor crônica.

Há também uma divisão razoavelmente equilibrada entre consumidores
homens e mulheres – embora Gomez sugira que antes mais mulheres o
compravam.

Ainda assim é preciso estar atento. Os produtos que contêm CBD estão
por todos os EUA, mas comprá-lo ainda é uma violação da lei nos 50
Estados – com uma única exceção. Como isso é possível se a maconha
recreativa foi legalizada em nove Estados? O problema está em um
conflito entre as leis federais e estaduais e em como as pessoas
enxergam dois tipos muito diferentes de maconha: marijuana (maconha) e hemp (cânhamo) – que são diferentes espécies da cannabis.

Dois extratos são os mais buscados na cannabis: o THC, que é a
substância psicoativa, e o CBD, sem esse efeito. O cânhamo industrial
contém menos de 0,3% de THC, mas pode conter altos níveis de CBD. A
maconha, por outro lado, geralmente é cultivada exatamente por conta de
seu conteúdo de THC.

Em suma, o cânhamo é completamente diferente da maconha, mas isso não
impediu que ambas as espécies de cannabis fossem classificadas pela lei
federal como drogas de cronograma 1 (perigosas) nos EUA nos anos 1970 –
o mesmo que heroína e cocaína. E essa designação permanece até hoje.

Nos Estados em que é legal, os produtos que contêm THC devem ser
cultivados, processados e vendidos apenas por empresas licenciadas pelas
autoridades estaduais. O CBD, por outro lado, está disponível em todos
os lugares, desde supermercados a postos de gasolina. Mas ele continua
preso em uma área legal cinzenta.

Muitos varejistas acreditam que, desde que cumpram as regulamentações
estaduais e não enviem seus produtos para além das fronteiras estaduais
(o que constituiria tráfico de drogas), autoridades federais, como a
agência de combate a drogas, a DEA, adotarão uma abordagem de não
intervenção.

Um porta-voz da DEA confirmou à BBC Capital que o CBD, sob qualquer
forma – incluindo o derivado de plantas de cânhamo – continua uma droga
do cronograma 1 e, portanto, ilegal.

A única exceção, explicou, é uma droga chamada Epidiolex, que contém
98% de CBD e foi aprovada como medicamento para o tratamento da
epilepsia infantil pela FDA, a agência de remédios dos EUA . Fabricado
pela empresa britânica GW Pharmaceuticals, o Epidiolex é um medicamento
de cronograma 5 – o mesmo que o remédio para tosse sem receita nos EUA.

Csonka, fundador da Adriaen Block, por exemplo, reconhece que a DEA
pode invadir suas instalações – “e provavelmente eles o farão em algum
momento” – mas ele diz que conhece profundamente os regulamentos do
Estado, e o CBD que ele usa tem 0% de THC.

No Brasil, o ativismo de pais cujos filhos sofrem de condições graves
de epilepsia foi o que acelerou a liberação do uso do CBD, ainda em
2015. Desde então, cerca de 80 mil unidades de produtos à base de
maconha foram importados pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária
(Anvisa) a pedido de pacientes. Há regras rígidas para esse processo, e
ainda não está liberado o comércio e a produção desses produtos no solo
brasileiro.

Abordagem cautelosa

Como seu status legal nos EUA continua incerto, os potenciais
investidores na indústria de CDB, embora empolgados com a oportunidade
de lucro, estão cautelosos.

Apesar de o mercado de CBD dos EUA ter contabilizado US$ 367 milhões
(R$ 1,36 bilhão) em vendas no varejo a uma taxa de crescimento de 39% no
ano passado, a indústria continua volátil, segundo o Hemp Business
Journal. Tilray, produtor de maconha medicinal, viu suas ações subirem
30% em setembro, mas caírem os mesmos 30% até o final da mesma semana.

Enquanto isso, a Forbes chamou o hype de estoques de maconha de
“irrisório” e disse que a Apple ainda é um investimento melhor do que a
maconha. O que pode fortalecer ou quebrar essa indústria são mudanças na
lei federal.

O destino do CBD poderia, finalmente, ser decidido por um político: o
republicano de 76 anos de Kentucky e líder do Senado, Mitch McConnell.
No início de 2018, McConnell anexou uma medida ao Farm Bill do Senado,
uma legislação que cobre a agricultura e a política alimentar nos EUA. O
Ato do Plantio de Maconha removeria o cânhamo industrial da lista de
substâncias controladas. Se aprovada, de acordo com Bethany Gomez, “isso
aprovaria totalmente o cânhamo e seus derivados – incluindo o CBD –
tornando-o 100% legal para a venda”.

E em relação à ciência? Para uma droga que presumidamente controlaria
de dor crônica a depressão, além de inúmeras outras condições, supõe-se
que vários estudos sólidos têm comprovado sua eficácia. Mas não é bem
assim. A ciência ainda não acompanhou a crescente popularidade do CBD.

Mas isso não quer dizer que ele não tenha potencial. Igor Grant,
presidente do departamento de psiquiatria e diretor do centro de
pesquisa de maconha medicinal da Universidade da Califórnia, em San
Diego, disse à BBC que existem alguns indícios promissores para seu
futuro uso na medicina.

Relatórios sugerem que o CBD tem propriedades anti-ansiedade,
anti-inflamatórias e até mesmo antipsicóticas. E Grant diz que há alguns
estudos pequenos com resultados promissores sobre seu uso para tratar a
esquizofrenia.”É algo digno de acompanhamento”, afirma, embora
acrescente que os dados ainda não comprovem que o CBD definitivamente
ajuda pessoas com esquizofrenia.

“O CBD provavelmente tem ações anti-inflamatórias [e pode ajudar com]
doenças inflamatórias do intestino, como doença de Crohn ou condições
neurológicas que têm algum componente inflamatório”, explica.

Grant descreve-os como indicadores para o seu potencial uso e para
onde se dirige a comunidade médica, mas, pede cautela. Também não há
base científica para o uso de CBD em bebidas funcionais à base de
frutas, acrescenta.

“Isso não significa que não funcione, nós simplesmente não sabemos”,
diz Grant. “Eu diria que o valium também ajuda na ansiedade. Mas
deveríamos colocar um pouco dele na Coca-Cola e fazer as pessoas
relaxarem?”.

A primeira coisa, diz, é garantir que as leis estaduais e federais estejam em harmonia. “Vamos esperar que a ciência surja. A partir daí vamos ter informações para aconselhar o público”.

BBC News Brasil

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