O circo, para mim, remete à infância. Sou do interior do Estado e lá o único contato que eu tinha com a arte era por meio do circo. Lá não tinha cinema, não tinha teatro, a música não era de qualidade, mas, à época, sempre tinha os circos itinerantes que passavam pela cidade. É realmente nostálgico lembrar disso. Depois que cresci e enveredei pelo campo das artes cênicas, fiz questão de me aproximar do circo para que a arte circense continue, para que a palhaçaria tenha continuidade, assim como toda a magia envolvida. Eu preciso do circo”. A narrativa é de Magnun Angelo, que, junto com outros artistas, idealizou o grupo Bora Circar. Em Maceió, a trupe leva os encantamentos do circo principalmente para a famosa Praça da Faculdade.

Durante as noites de segunda-feira, a praça, localizada no bairro do Prado, nem parece a mesma. Enche-se de “magia”. É malabares de um lado, palhaçaria do outro, equilibrismo, acrobacias, música, dança. Tudo o que o circo tem direito, ou melhor, quase tudo, pois todo o espetáculo é a céu aberto e de graça. Espetáculo esse que os artistas preferem chamar de encontro.

E é justamente por meio deste encontro que a arte acontece em sua forma mais democrática ali no Prado. Ela é manifestada no espaço público, local por onde inevitavelmente a comunidade transita, ocupado por todas as classes sociais.

O grupo é despretensioso no que diz respeito a retorno econômico e está interessado mesmo é em fazer arte e promover cultura, uma verdadeira resistência nos tempos atuais.

E eles são receptivos, convidam a população a ser não apenas o público, mas, em especial, a participar e a aprender as modalidades circenses. “Com a nossa frequência durante às segundas-feiras no espaço público, que é a Praça da Faculdade, as pessoas que já frequentam o local e os moradores da região começaram a aparecer para participar, seja aprendendo a manipular os malabares, seja assistindo ao grupo ou treinando as técnicas circenses. Assim percebemos que o nossos objetivos iniciais se tornam concretos”, cita Wanderlândia Melo, também uma das idealizadoras.

“Às crianças se aproximam com mais facilidade, porque chama a atenção e elas não têm esse medo nem limite de chegar e conversar com o outro. Já o adulto acaba criando uma barreira maior”, acrescenta Magnun.

O grupo convida a população a interagir e a aprender a arte do circo
FOTO: arquivo pessoal
O Bora Circar tem apenas pouco mais de um ano de existência e não possui um número de fixo de integrantes. “É do tamanho das pessoas que aparecem”. Tem o pessoal que o idealizou e os que “estão de passagem”, parte destes últimos são artistas de rua que passam por Maceió e rapidamente se integram à rotina do grupo.

“Artistas de rua se conhecem muito facilmente”, cita Wanderlândia, que explica que essas pessoas comumente trabalham nos sinais e tem como estilo de vida a liberdade e o amor pela arte. Atualmente, além dos alagoanos, participam das reuniões do Bora Circar pessoas da Argentina, Pernambuco, Bahia e Minas.

Como já é de conhecimento geral, no Brasil, a arte de rua não garante nem o sustento da própria manifestação. Apesar de o Bora Circar não ter como objetivo o retorno financeiro, após as apresentações em eventos nos quais são convidados a intervir, eles passam o “chapéu” e o público contribui se quiser e com quanto puder.

o entanto, diversos integrantes do Bora Circar e que também fazem parte de outros grupos artísticos, esses nas mais diversas modalidades, trabalham unicamente com a arte e “penam” para conseguir o retorno financeiro. Para muitas pessoas, a manifestação artística ainda não é considerada um trabalho.

“É difícil. Tem muita gente que não vê a arte como meio de trabalho, enxergam de maneira estranha. Inclusive, é comum agirem com discriminação. Quando eu faço malabares no sinal me pedem currículo, me mandam ir arrumar um emprego. Ignoram a arte e o que ela representa. Ignoram que ela pode ser um trabalho, ignoram os gastos com figurino e maquiagem, ignoram a nossa produção. Mas tem gente que só pela reação que esboça faz valer toda a nossa dedicação. O sorriso, o abraço que nos dão é realmente gratificante”, disse Henrique Nagope, outro dos idealizadores do grupo, artista visual e estudante de Teatro.

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