Desde o tremor de terra, registrado há um ano no Pinheiro, os moradores do local lidam com uma nova realidade: o esvaziamento contínuo de um dos mais movimentados bairros da região central de Maceió. Diretamente afetados pela situação, comerciantes de pequeno e médio porte também sofrem com as ruas vazias e com o fluxo cada vez mais baixo de consumidores.

No fim da última semana, comerciantes e moradores remanescentes lançaram a campanha “Compre no Pinheiro”, um apelo para que antigos habitantes voltem às compras no comércio local.

“É uma iniciativa popular, que visa incentivar a colaboração daqueles moradores que tiveram de sair, mas que têm uma relação afetiva com nosso bairro. Que eles venham comprar no Pinheiro, ajudem nosso bairro a renascer. Principalmente nos pequenos comércios, que foram os mais afetados. E também os que ficam mais para dentro. É um pedido para quem mora no entorno também”, disse Geraldo Vasconcelos, uma das lideranças do “S.O.S Pinheiro”, grupo de moradores que tenta gerenciar a crise pela qual o bairro atravessa e que assina a campanha nas redes sociais.

De acordo com a Associação dos Empreendedores no Bairro do Pinheiro, existem 2.700 negócios abertos no local. Dados da Federação do Comércio de Alagoas (Fecomércio) apontam que essas empresas representam cerca de 39 mil postos de trabalho e movimentam em média R$ 1 bilhão de reais anualmente. Para Alexandre Sampaio, presidente da organização, a campanha dos moradores é louvável, mas a associação quer ações mais estruturadas para lidar com a situação.

“A pesquisa ainda está em andamento, mas avaliamos que a queda no movimento do comércio chegue a 70% nos últimos três meses. É muito interessante a mobilização dos moradores, no entanto, precisamos fundamentar nossas campanhas com informação e responsabilidade. Como vou chamar meu cliente para comprar no bairro, se os órgãos não chegam a um consenso sobre a situação, nem conseguem prestar informações precisas? Desinformação gera pânico, insegurança e é desmobilizadora”, lamenta o empresário.

A associação tem realizado ações pontuais, que objetivam minimizar a situação dos empresários do Pinheiro. A busca, junto aos órgãos municipais, estaduais e federais, é conseguir redução de taxas e perdão de dívidas, para dar fôlego ao empresariado.

“Existem demissões acontecendo, empresas tendo que fechar as portas ou sair do bairro. Estamos num mato sem cachorro e mais do que nunca precisamos de informações concretas, esse é o nosso apelo atualmente. No momento, também estamos nos reunindo com o Sebrae e com a Desenvolve, em busca de soluções, como linhas de crédito para os empresários que precisarem reestruturar seus negócios, aqui ou em outro local”, informou.

Diálogo

Na última semana, o MPT se reuniu com as concessionárias de serviços essenciais, Eletrobrás, Casal e Algás, para discutir medidas que minimizem os danos ao comércio do bairro, afetado por rachaduras, tremores e pela incerteza quanto a estabilidade do solo e às causas da crise. As três empresas se comprometeram em adotar políticas de cooperação com os empreendedores e a evitar a suspensão de serviços, como água, energia elétrica e gás.

Segundo Alexandre Sampaio, o diálogo com os órgãos públicos e a sensibilidade dos gestores são cruciais para manter o bairro vivo. Uma das reivindicações é que a Secretaria de Estado da Fazenda (Sefaz) abra um diálogo com os empresários.

“Até agora a prefeitura se mostrou bastante solícita e aberta, através do secretário Fellipe Mamede, para a apresentação de um projeto de lei para a chamada renúncia fiscal, entretanto o governo do Estado ainda não se manifestou. Seria muito importante que a Sefaz abrisse esse canal de comunicação conosco, para tratar de redução do ICMS. Essas ações são medidas paliativas, para minimizar o prejuízo e garantir empregos. Se isso não acontecer, e rápido, haverá muitas demissões, infelizmente”, explicou o representante dos empresários.

 

Por Maylson Honorato | Portal Gazetaweb.com