Você já ouviu falar em empatia? Compreender e se colocar no lugar de outra pessoa faz parte dessa qualidade. Nem todos conseguem alcançar o sentimento nas mais variadas situações, mas apresentar um ombro amigo e fazer uma escuta ativa podem ajudar, e muito, aqueles que precisam desabafar.

Pensando nisso, há quatro meses, a Medley lançou uma campanha nacional de conscientização sobre depressão, a partir da empatia. O movimento com a hashtag #PodeContar quer estimular a quebra do paradigma da doença, ainda cercada de preconceitos. A campanha incentivou as pessoas a compartilharem a tristeza profunda que estavam sentido para alguém de confiança.

A psiquiatra do HC Carmita Abdo realizou a curadoria da campanha. Para ela, os familiares e amigos precisam se envolver mais. “A empatia de familiares e da sociedade facilita a busca do deprimido por tratamento”, afirma.

Algumas pessoas podem tentar ajudar o paciente que tem depressão dizendo frases como “isso já vai passar” ou “já está na hora de virar a página”. Na avaliação da psiquiatra, este é um comportamento inadequado. “Essas frases soam inconsistentes e vazias aos ouvidos de quem tem depressão. São frases as quais claramente denunciam que o sofrimento do deprimido não foi valorizado” ressalta.

De acordo com dados da Organização Mundial da Saúde, 300 milhões de pessoas vivem com depressão no planeta e menos da metade procura ajuda. Até 2020, esta será uma das doenças mais incapacitantes do mundo. “Muitos têm vergonha de expor o que estão sentindo, mas têm medo de serem considerados fracos”, diz Carmita Abdo.

Só no Brasil, de acordo com dados da Pesquisa Nacional de Saúde (PNS), há mais de 11 milhões de homens e mulheres com depressão. Isso sem contar os que ainda não foram diagnosticados.

Para além do preconceito, muitos ainda não têm acesso à informação de qualidade. A plataforma #PodeContar reúne conteúdos relevantes, segmentados entre páginas e com informações para quem precisa de ajuda e quem está disposto a fazer a escuta ativa.

Sintomas de depressão

A doença é provocada por um desequilíbrio químico no cérebro. Os sinais de depressão mais conhecidos são tristeza, baixa autoestima, sensação de inutilidade, sentimento de culpa e presença constante de pensamentos negativos.

Além dos medicamentos antidepressivos, fazer psicoterapia, dormir bem e praticar atividades físicas compõem o tratamento. Ao mesmo tempo, a ajuda externa também é importante. “No entanto, para ‘calçar o sapato do outro’ e avaliar a situação pela perspectiva dele, é necessário se despojar de julgamentos. Quem considera a depressão uma fraqueza ou falha de caráter, por exemplo, não está apto a dar apoio. Colocar-se no lugar do deprimido é o que ‘desestigmatiza’ e faz a diferença”, na avaliação da psiquiatra Carmita Abdo.

Diferenças entre depressão e ansiedade

A depressão pode desencadear crise de ansiedade. Mas quem sofre com Transtorno de Ansiedade não necessariamente terá sinais de depressão, como tristeza profunda ou fadiga. Fazer o diagnóstico das duas patologias é uma tarefa complexa para os profissionais de saúde mental, que levam em conta a história familiar, experiências passadas e o ambiente no qual o paciente vive.

Para ambas, o tratamento, que é realizado a médio e longo prazo, é a base de medicação e psicoterapia.

Os principais sinais de ansiedade são medo de algo que ainda não aconteceu, sentimento de apreensão, normalmente acompanhados de sintomas físicos, como taquicardia, falta de ar, estado de hipervigilância ou atenção dispersa.

Como fazer a escuta ativa?

A campanha Pode Contar disponibiliza uma plataforma para quem quer fazer a escuta ativa de pacientes com depressão. Ao selecionar a opção ‘quero ajudar’ no site, a pessoa é direcionada para uma página com conteúdos específicos sobre as formas mais pertinentes de auxiliar quem tem depressão e precisa de ajuda, evidenciando a importância de ‘calçar os sapatos do outro’ para ver a situação sob a perspectiva de quem sofre com a doença.

Na plataforma também estão disponíveis os podcasts gravados durante a turnê do #PodeContar, primeiro coletivo de pessoas dispostas a mudar o cenário da depressão no Brasil, composto por influenciadores digitais como PC Siqueira, Carol Burgo, Hillan Diener, Juliana Luna, Lua Fonseca, Joanna Canabrava, Uyara Torrente e especialistas médicos como a psiquiatra Carmita Abdo, Professora de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, Táki Cordás, coordenador da Assistência Clínica do Instituto de Psiquiatria do HCFMUSP, Kalil Dualibi, professor titular do Instituto de Psiquiatria e Psicanálise da Infância e Adolescência e Roberto Miranda, médico cardiologista.

Estadão