Tristeza, culpa, vergonha, ansiedade e medo. Estes são os principais sinais que a vítima de violência sexual apresenta, segundo informações da Rede de Atenção às Vítimas de Violência Sexual (RAVVS), da Secretaria de Estado da Saúde (Sesau). Dentre os casos registrados em Alagoas, no período de outubro de 2018 a março de 2019, 331 vítimas são do sexo feminino e 30 do sexo masculino, totalizando 361 casos ao longo de seis meses.

Conforme os dados registrados pela RAVVS, a maioria das vítimas dos abusos são crianças (102) e adolescentes (195). Além disso, os índices apontam que os adultos e idosos também fazem parte dessas estatísticas, tendo sido registrados ao longo do semestre 59 e também cinco casos, respectivamente.

O trauma pode causar danos irreversíveis para a vítima, já que os sintomas psíquicos de tensão, abatimento, autoflagelação, alerta, depressão, dificuldade de confiar nas pessoas e evitamento de contato físico podem perdurar por toda a vida. São por esses motivos que, segundo a Rede de Atenção, a família é um ponto importante, sendo considerada uma referência de apoio para a vítima de violência sexual (VVS).

Acolher e apoiar a vítima, tentar estabelecer um vínculo de confiança e evitar a revitimização são atitudes que colaboram para que a culpa, a tristeza e o medo sejam sentimentos cada vez menores na vida das pessoas que sofreram o abuso não apenas físico, mas emocional.

Para ajudar a vítima a superar esse trauma, “a RAVVS busca garantir o atendimento integral às pessoas em situação de violência sexual, através de uma equipe multiprofissional que promove acolhimento, orientação e o acompanhamento profissional necessário à vítima durante o atendimento. A equipe acompanha não somente a vítima, mas, também, sua família até que o protocolo de assistência seja totalmente finalizado. A meta é assegurar o atendimento em tempo hábil em todo o processo de profilaxia e assistência à saúde”, informou a coordenadora da Rede, Camile Wanderley.

Conforme a coordenadora, o abuso também deixa sinais físicos como dor, inchaço, lesão  nas áreas da vagina ou ânus a ponto de causar dificuldade de caminhar ou sentar. Além disso, sinais como o canal da vagina alargado, hímen rompido e pênis ou reto edemaciado (inchados) ou hiperemiados (congestão sanguínea) também podem ser observados.

Camile ainda destacou que a vítima pode apresentar baixo controle do esfíncter, constipação ou incontinência fecal. É importante salientar que a violência pode ainda gerar enfermidades psicossomáticas, que são aquelas doenças relacionadas às emoções, sentimentos e pensamentos. Dentre os sintomas, “a vítima pode apresentar dor de cabeça, erupções na pele, vômitos e outras dificuldades digestivas,que têm, na realidade, fundo psicológico e emocional”, alerta Camile .

Apoio: Familia x profissionais

De acordo com a RAVVS, a família se faz extremamente importante e por muitas vezes é a referência de apoio. Já os profissionais precisam, acolher e apoiar a vítima de violência sexual (VVS), procurando estabelecer um vínculo de confiança individual e institucional. Além de evitar a revitimização: dar o máximo de resolutividade no local onde está atendendo; observar os protocolos de profilaxias das Infecções Sexualmente Transmissíveis (IST) e de contracepção de emergência; avaliar a história da violência, a possibilidade de risco de vida, o nível de motivação para lidar com a situação, as limitações e possibilidades pessoais; pautar-se pela ética, preservando o sigilo e garantindo a segurança das informações;  respeitar o tempo e as decisões da vítima; levar em conta a singularidade de cada situação e o processo de resiliência próprio de cada sujeito.

A Rede de atenção à violência busca garantir o atendimento integral as pessoas em situação de violência sexual, através de uma equipe multiprofissional que promove acolhimento, orientação e o acompanhamento profissional necessário à vítima durante o atendimento.

O acompanhamento feito pelas equipes não são realizados somente com a vítima, mas, também, com a família até que o protocolo de assistência seja totalmente finalizado. A meta do programa é assegurar o atendimento em tempo hábil em todo o processo de profilaxia e assistência à saúde.

Denúncia

Camila aponta que nos casos de violência sexual, deve-se haver a denúncia, tanto feita pela vítima, quanto pela família e/ou por testemunha. “Faz-se importante verificar se na cidade residente existem programas que auxilie nesse processo, desde a denúncia até a realização dos procedimentos e locais onde se deve buscar atendimento médico, psicológico e legal. Ressalta-se que para realização de atendimento em saúde, não se faz necessário o registro do boletim de ocorrência”, destacou a coordenadora.

Violência sexual é crime e precisa ser sempre comunicada às autoridades. As denúncias podem ser feitas em uma delegacia de polícia, onde será registrado um Boletim de Ocorrências (B.O), denunciando o acusado e o crime. É possível também prestar uma queixa no Ministério Público, que é o órgão Estadual responsável pela acusação. E não é preciso estar acompanhando de um advogado.
Além disso, as denúncias podem ser realizadas por meio do número 100 no telefone, que é o Disque Direitos Humanos, que funciona 24 horas por dia, todos os dias da semana, inclusive domingos e feriados e recebe em torno de 25% das chamadas sobre denúncias de violência sexual contra crianças e adolescentes.
A denúncia pode ser anônima, isto é, caso o denunciante tenha receio de se identificar e sofrer ameaças e consequências pessoais pela denúncia feita.

Auxílio às vítimas

Segundo a coordenadora do RAVVS, as vítimas de abusos sexuais podem receber atendimento integral e tratamento psicológico e ginecológico.

“Existe a segmentação garantida pela lei do minuto seguinte, no qual a vítima recebe atendimento integral e encaminhamento a tratamento psicológico e ginecológico, visando ao controle e ao tratamento dos agravos físicos e psíquicos decorrentes de violência sexual. Vale salientar que não é um programa exclusivo da RAVVS, a qual verifica e garante o controle na segmentação da vítima, monitorando seus agendamentos e presença nas consultas”, disse ela.

Violência sexual em Alagoas

Conforme a RAVVS, em Alagoas, são registrados em média, quatro casos de violência sexual contra crianças e adolescentes são registrados por semana. E anualmente, esses registros chegam a quase 200 casos de agressão.

Só esta semana, duas menores tiveram a casa invadida por homens e foram abusadas sexualmente por eles, que até o momento estão foragidos.

No primeiro caso, a menor de 15 anos foi estuprada na frente dos pais, por um homem que entrou armado no quarto da residência da família. Já no outro, a menor de 13 anos, além de ser abusada em sua casa teve os dedos das mãos cortados enquanto tentava se defender do acusado.

Nesta terça-feira, dia 16, doze pessoas que, supostamente, foram vítimas do ex-servidor público Benício Vieira de Lima, que está sendo acusado de estupro, relataram que foram abusadas sexualmente por ele, à Polícia Civil (PC). No total, já são mais de 30 denúncias.

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