Elena Greene, enfermeira de 53 anos, recebeu aliviada a notícia de que a Anvisa eliminou no Brasil a comercialização das próteses mamárias Biocell, da marca Natrelle, produzida pela empresa Allergam. O anúncio seguiu os passos da U.S. Food and Drug Administration (FDA), a agência reguladora dos EUA. “Pelo menos novas mulheres não terão risco de passar pelo que passei”, diz Elena.
A enfermeira sentiu na pele as consequências da falta de informação sobre os riscos de desenvolver câncer em decorrência de uma prótese mamária. Em 2017, ela, que era maratonista e tinha feito há sete anos um implante de silicone da marca condenada, resolveu trocar a prótese porque o seio esquerdo estava inchado e atrapalhava seu desempenho na corrida.
Na época, Elena se sentia cansada e possuía manchas na perna e no braço, mas não associava esses sintomas ao inchaço da mama. Por coincidência, seu marido, que é clínico geral, entrou na sala de cirurgia de troca das próteses e pediu para o seroma, ou seja, o líquido que o corpo desenvolve em volta da prótese, fosse analisado. Poucos dias depois, eles voltaram para apanhar o resultado. “Quando o médico falou que eu tinha linfoma, o chão se abriu. Em cinco segundos passei de uma paciente estética para uma paciente oncológica”, diz ela.
O caso de Elena ilustra bem como esse problema pode estar sendo subdiagnosticado no Brasil e no mundo. Se o seu marido não estivesse na sala de operações, o seroma não teria sido analisado. Essa é justamente a suspeita de especialistas que atuam na área. “Trocar a prótese faz parte do tratamento. Os médicos podem estar tratando o linfoma sem saber que ele existe”, diz Vanderson Rocha, professor de hematologia, hemoterapia e terapia celular da USP.
O FDA já registrou 573 relatos de linfomas relacionados à prótese mamária e 33 mortes. Apesar do alto número de letalidade, a comunidade médica ainda afirma que são casos muito raros, já que a quantidade de implantes é grande – nos Estados Unidos, por exemplo, apenas em 2017 foram 281 mil. “De um modo geral, quem quer o implante aceita riscos que são de cem a mil vezes mais frequentes que esse, como alergias e infecções. O linfoma não é mais grave, a única diferença é a palavra câncer”, diz Bernardo Nogueira Batista, cirurgião plástico do Hospital Sírio Libanês.
As pacientes que desenvolveram a doença lamentam a falta de informação. Muitas delas, quando diagnosticadas, foram às redes sociais para alertar outras pessoas. Profissionais da área afirmaram à reportagem, sob a condição de não serem identificados, que a falta de pesquisas e a demora no reconhecimento do problema, inclusive por conceituadas associações médicas, são fruto da força econômica da indústria farmacêutica. Agora as mulheres esperam que o reconhecimento das agências seja apenas o pontapé inicial para o desenvolvimento de mais pesquisas e informações sobre o tema, inclusive a respeito de problemas relacionados a outras marcas.
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