Tontura, náuseas, dor de cabeça e reações alérgicas estão entre os sintomas relatados por parte dos voluntários de mutirões para remover óleo de praias pernambucanas. A situação é apontada até por quem usou máscaras, galochas e luvas. E, apesar da recomendação das autoridades de usar equipamento de proteção, é comum ver muitos com os corpos expostos. Unidades médicas já têm criado postos de atendimento nas praias e orientado os profissionais de saúde sobre como lidar com esses casos.
“Estava puxando o óleo para a areia e me senti mal. Quando puxei, o cheiro estava atípico, como de óleo muito concentrado”, conta a dona de casa Marília Clementino, de 31 anos. A moradora de Jaboatão dos Guararapes viajou cerca de uma hora até Paulista (PE), para ajudar na limpeza da Praia do Janga. No grupo, duas pessoas se sentiram mal no mesmo dia. Marília relata tontura e dor de cabeça, e atribui a reação ao uso inadequado da máscara.
Conforme a Secretaria Estadual de Saúde, são investigados 19 casos de intoxicação com suspeita de relação com o óleo. Ainda segundo a pasta, houve casos relacionados ao contato com o poluente e também por causa do uso indevido de solventes para retirar o óleo.
“A gente tem visto pessoas procurarem unidades de saúde, mas eles informam que retiraram o óleo com benzina, gasolina, querosene”, disse o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta. Segundo ele, não há ainda preocupação à saúde e o governo faz estudos sobre o impacto na cadeia alimentar. “Até o momento, a gente não tem nenhum alerta.”
O Estado acompanhou mutirões em praias pernambucanas nos últimos três dias. Entre voluntários e agentes públicos, todos ficavam com alguma parte do corpo exposta, nem que fosse pelo comprimento da roupa. Vários entravam na água ou no meio de pedras sujas de óleo.
Pescador há mais de 25 anos, Adalberto Barbosa, o Formigão, mora e trabalha em São José da Coroa Grande (PE). Desde os primeiros sinais de óleo, se juntou ao trabalho de limpeza. “Começamos cedinho e vamos até a noite. Isso aqui é nosso ganha-pão. Se não puder pescar, minha família vai passar necessidade.” Os sintomas começaram na segunda. “Tive muita dor de cabeça e vomitei. Senti o corpo mole, como se estivesse com uma gripe daquelas. Mas só parei um dia. Fui medicado, me sinto melhor e continuo trabalhando”, afirma.
Dos 19 pacientes reportados, 17 foram em São José – os outros dois foram em Ipojuca. Marcello Neves, diretor clínico do Hospital Municipal Osmário Omena de Oliveira, diz que foram registrados dois tipos distintos de reação ao óleo. Dos atendimentos, 70% foram de problemas de pele. “Nesses casos, as pessoas tiveram dermatite de contato, apresentando coceiras e feridas na pele, além de dor de cabeça. Houve ainda pacientes que tiveram reações por inalar os gases que saem do óleo. Nestes casos, a maioria apresentou dor de cabeça, enjoos, vômito e tontura.”
Outra preocupação dos médicos é que as substâncias tóxicas se espalhem pelo ambiente, com a contaminação de lençóis freáticos, o que também traria riscos. Para especialistas, só deve haver problemas mais graves após exposição muito prolongada. Conforme órgãos de saúde, crianças e grávidas, têm maior vulnerabilidade.
Voluntários e representantes de colônias de pescadores baianos também relatam problemas de saúde. A bióloga e professora de surfe Carla Circenis, de 49 anos, ficou com os olhos inflamados e caroços na pele. “Mesmo tendo conhecimento de bióloga e até prevendo consequências, entrei na água e inalei muito petróleo. No outro dia, amanheci muito mal”, conta ela, de Salvador.
A Secretaria de Saúde da Bahia informou que não há registro de suspeitas de contaminação. O governo também vai avaliar se peixes e mariscos estão próprios para consumo.
O Estado entrou em contato com as secretarias dos outros Estados do Nordeste – o Maranhão informou não ter registros.
TERRA.COM
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