O vereador Fábio Gaia lembrou que o deputado Olavo Calheiros ganhou a área da prefeitura como concessão para construir a fábrica de refrigerantes e naquela época (em 2003) foi a primeira a invasar cerveja em lata no Nordeste. O empreendimento conseguiu financiamento de bancos públicos. Mas, a família não teve “competência” para desenvolver manter o negócio. “Depois da crise financeira provocada pelas dívidas a Conny foi vendida a Schincariol, que funcionou três anos em Murici. Neste período gerou menos de 100 empregos e fechou completamente em 2009”.
“Estranho”
O decreto do governador Renan Filho de desapropriação da área, segundo os vereadores, “é estranho”. Os vereadores afirmaram que “todo mundo estranhou o decreto”. Segundo o vereador Fábio Gaia “existe uma lei que estabelece que em caso de terreno cedido a empresa como incentivo fiscal, se o projeto não decolar, o imóvel deve ser devolvido e/ou reincorporado ao patrimônio do município. É a lei de Comodato (conjunto de empréstimo, em que uma pessoa entrega uma coisa a outra pessoa e quem recebe se obriga a devolver a coisa nas mesmas condições em que, você empresta sem cobrar nada por isso. O trato de comodato está previsto no código civil brasileiro entre os artigos 579 e 58). Agora o governador publica um decreto de desapropriação de um imóvel que deveria ser requisitado pela prefeitura. Isto é no mínimo estranho”, disse Fábio Gaia.
Os 11 vereadores de Murici estão em recesso parlamentar. Assim que retornarem ao trabalho, Fábio Gaia e Fernando Tenório cobrarão dos colegas a instalação da Comissão Especial de Investigação (espécie de CPI) desta transação. “Antes, vamos pedir aos Ministérios Públicos a investigação deste caso muito estranho”. O vereador Fábio Gaia disse que os empresários locais não entenderam o decreto de desapropriação do terreno que deve ser retomado pela prefeitura.
Lembrou ainda que a prefeitura doou terrenos, como forma de incentivos, as diversas empresas que se instalaram no núcleo industrial. “A maioria das empresas beneficiadas não evolui”. O vereador acusou ainda que algumas empresas se instalaram na região industrial de Murici, com recursos de Bancos públicos, passaram menos de um ano e depois encerram as atividades. “O nosso parque está cheio de esqueletos industriais abandonados. Vamos levar isso tudo ao conhecimento do Ministério Público. É preciso investigar tudo”, afirmou Fábio Gaia e concordou Fernando Tenório.
Desapropriação do “Conny” é para nova doação
Pelo que consta no artigo primeiro do decreto do governador, a desapropriação é do imóvel situado num dos acessos da cidade de Murici se destina a implantação de novos empreendimentos. Segundo o decreto, o imóvel de 45.300,00 metros quadrados (m²) será entregue por concessão de incentivos governamentais do Programa de Desenvolvimento Integrado do Estado de Alagoas (Prodesin). O Imóvel está registrado no livro nº 120, livro 2-A, no Cartório do 12º Ofício de Murici como de propriedade da “Primo Schincariol Indústria de Bebidas de Alagoas Ltda.” atual denominação da Conny Indústria e comércio de sucos e refrigerantes Ltda.
O governador garante em seu decreto que “as despesas decorrentes da desapropriação correrão a conta dos recursos do próprio Estado de Alagoas”. E atribuiu a Procuradoria-Geral do Estado (PGE) a tarefa de promover a desapropriação.
O decreto já foi publicado no Diário Oficial e está em vigor.
A Conny Indústria e Comércio de Refrigerante foi vendida ao grupo Schincariol, que confirmou a transação em 2006. O negócio ganhou repercussão no território nacional e nos cadernos de economia da maioria dos jornais do País. O valor da transação foi mantido em sigilo. Mas, pouco tempo depois terminou “vazando” que o grupo paulista teria comprado por R$ 27 milhões.
Conny ganhou terreno avaliado em R$ 75 mil
Em 2003, o deputado Olavo Calheiros implantou em Murici a Conny Indústria e Comércio de Sucos e Refrigerantes. A família Calheiros domina politicamente a cidade desde o início dos anos 90. O deputado ganhou, de graça, um terreno de 45 mil metros quadrados, avaliado, na época, em R$ 750 mil. O doador foi a prefeitura local, que era comandada por Remi Calheiros, irmão de Olavo e tio do hoje governador.
Segundo noticiou o Jornal do Comércio no Blog de Jamildo (em 08/07/2007), a prefeitura também deu à indústria isenção por três anos do pagamento de água, insumo essencial para uma fábrica de refrigerantes. Com terreno e água de graça, Olavo teve condições de buscar apoio financeiro do Banco do Nordeste, o BNB, e conversou com o gerente José Expedito Neiva Santos, que fez gestões junto ao BNDES para conceder ao deputado um empréstimo de R$ 6 milhões, com vencimento em vinte anos.
Ainda de acordo com o blog de Jamildo, o gerente Expedito Santos aceitou, como garantia do empréstimo, a escritura de uma fazenda que o Ministério Público suspeitava ser falsificada. Concluído o empréstimo, o gerente foi promovido a superintendente estadual do BNB em Alagoas. Nos bastidores político e econômico, a promoção não foi tratado com uma simples coincidência.
Com a fábrica instalada, água e terreno de graça e dinheiro para pagar em duas décadas, a Conny, ainda assim, foi um completo fracasso, atestam a maioria dos empresários locais e o blog do Jornal do Comércio. Três anos depois, a indústria só vendia refrigerantes na região de Murici. Tinha apenas 0,1% do mercado nordestino. Devia R$ 150 mil (em valores da época) em contas de luz, não pagava o empréstimo e já devia R$ 9,9 milhões ao BNDES.
Dívidas inviabilizam o empreendimento
A situação era tão lamentável que a fábrica recorria contra dívidas irrisórias. Entrou com ação judicial para não pagar a anuidade de R$ 1.6 mil ao Conselho Regional de Química. Também foi à Justiça para não pagar R$ 3.6 mil por ano de taxa de fiscalização ao Ibama. Sofria até ação de cobrança do Inmetro, que fiscaliza o padrão e a qualidade dos produtos no País. O Inmetro cobrava R$ 900 da fábrica dos Calheiros. Outros credores menores também “infernizavam”.
Com as contas no vermelho e prestes a fechar as portas, a fábrica conseguiu ser negociada por R$ 27 milhões. Numa transação com vários tipos de comentários pejorativos nos bastidores políticos e econômicos de Brasília e Alagoas. Olavo teria quitado as dívidas e lucrado mais de R$ 17 milhões, conforme dados da Secretaria de Acompanhamento Econômico do Ministério da Fazenda, que autorizou o negócio.
Na época, a Schincariol explicou que decidiu comprar a fábrica para expandir a presença dela no mercado nordestino. Pagou um preço exorbitante. Um especialista no setor ouvido pela revista “VEJA” disse que se construiria fábrica semelhante à da Conny com R$ 10 milhões, menos da metade do que pagou a Schincariol.
A mesma empresa paulista comprou a Indústria de Bebidas de Igarassu, no interior de Pernambuco, que fabricava a cerveja Nobel. A Igarassu na época era maior do que a fábrica dos Calheiros, tinha 10% do mercado de Pernambuco e capacidade para produzir 5 milhões de litros por mês, contra 4,5 milhões da fábrica dos Calheiros. Ainda assim, mesmo sendo maior e mais importante, custou R$ 10 milhões, na transação que ocorreu em junho de 2007.
Gazetaweb noticiou o fechamento da empresa que comprou a “Conny”
A fábrica do Grupo Schincariol instalada em Murici encerrou as atividades após funcionar por quatro anos. A informação foi divulgada na coluna do jornalista Célio Gomes, na Gazetaweb (em 10/ 11/2010). Em nota enviada à Gazeta, a companhia afirmou que o fechamento da unidade era resultado de uma readequação da empresa para atender de forma competitiva o aumento da demanda na região Nordeste.
“A unidade exerceu seu papel de abastecer, quase integralmente, a demanda por Skinka do Norte e Nordeste entre 2007 e 2009. Hoje, (na época) as linhas são consideradas de pequeno porte quando comparadas à demanda”, dizia a nota. Em 2006, a fábrica de refrigerantes Conny, que pertencia ao deputado Olavo Calheiros (MDB), foi comprada pelo grupo. A transação teria gerado um lucro de quase R$ 17 milhões.
Desde então, a unidade passou a operar sob a bandeira Schincariol e a produzir o suco Skinka. À época, chegou-se a especular que a intenção do Grupo era montar no Estado uma fábrica completa, capaz de produzir toda a linha de cervejas, sucos e refrigerantes da marca. O projeto não se concretizou.
Com o fechamento da indústria, O Grupo Schincariol afirmou que os funcionários da unidade de Murici puderam optar pela transferência para as plantas de Recife, de Igarassu (PE) e Alagoinhas (BA). Os que não quiseram continuar na companhia e decidiram permanecer em Alagoas – os cerca de 100 trabalhadores residiam em Murici, União dos Palmares e Maceió -, receberam “um pacote especial de benefícios”, conforme nota oficial divulgada pela empresa e publicada pelo jornalista Célio Gomes e confirmado por uma fonte.
A fabricante de cervejas, refrigerantes e sucos afirmava naquele período que o ritmo acelerado na expansão do consumo no País levou o grupo a fazer uma reavaliação “criteriosa de sua capacidade produtiva e logística de distribuição”, resultando em investimentos de mais de meio bilhão de reais em 2010.
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