Alguns moradores e donos de estabelecimentos comerciais da Barra Nova, em Marechal Deodoro, ainda continuam fazendo a limpeza de suas residências e locais de trabalho para tentar salvar móveis, itens de trabalho e contabilizar os prejuízos causados pela inundação provocada pela maré alta na última terça-feira (10).

“Nem voltei ainda para a minha casa. Hoje [ontem, 12] foi que vim fazer a limpeza e tentar salvar o que sobrou. Por enquanto, já vi que perdi o som, a estante, uma cama e outros objetos da casa’’, disse o funcionário público, Luciano Gomes, morador do povoado há 36 anos.

O morador lembra que o fenômeno conhecido pela população como “maré de março” foi percebido por moradores ainda na segunda-feira (9), quando as águas tomaram conta da orla local e os donos de estabelecimentos comerciais começaram a se movimentar para prevenir maiores perdas.

“Esse evento aconteceu algumas vezes, lembro que em 1988 quando as ruas ainda nem eram pavimentadas – nessa época minha casa era de taipa, e eu perdi. Outra vez também foi em 2000, no entanto, não houve muitos prejuízos. Em 2017 também foi registrada um outro episódio desses quando o ‘braço de areia’ era mais para dentro do mar”, comenta Gomes dizendo que o prejuízo para ele não foi maior porque fez um muro e colocou arreia para minimizar os efeitos da água. “Tenho uma colega que perdeu tudo na terça-feira. Fiquei mais preocupado por conta da residência da minha mãe que também inundou. Agora veja, perdi meu pai há três meses, minha mulher prestes a ter um bebê e acontece isso. A preocupação aumenta’’, finaliza Luciano.

Adriana Santos foi uma das moradoras mais prejudicadas. Ela conta que está hospedada na casa de uma amiga.

“Eu e meu esposo somos caseiro. Na casa dos meus patrões a água só chegou até o jardim. Já na nossa, que fica ao lado, inundou foi tudo. Perdemos completamente tudo. Cama, sofá, rack, roupas, alimentos. Nem contabilizar prejuízos eu quero. Meu desejo é recomeçar tudo de novo, mas não quero ficar mais aqui. A água chegou ao joelho – ainda bem que isso foi durante o dia. Agora, estamos limpando, mas a ideia é irmos para outra parte da cidade. A prefeitura veio, fez a parte que tinha que ser feito, mas não prometeu nada para ninguém em relação à moradia – até porque sabemos que eles não podem fazer isso. Confesso para você que já havia saído dessa casa na última vez que aconteceu porque ela ficou com rachaduras, foi restaurada e voltamos porque precisamos de emprego. Mas nossa família já nos chamou de volta a Arapiraca. Por enquanto, não tenho para onde ir, então ficarei aqui’’, relata a caseira ressaltando que dessa vez além da água a maré trouxe ratos, baratas e outros animais e insetos.

Já o comerciante Derval Pedrosa conta que perdeu dois freezers. “Além, claro, do prejuízo em ficar esses dias com o bar fechado. Quero reabri amanhã [hoje, 13] já que está tudo limpo. Esse evento acontece sempre em março e agosto. Porém, com a abertura de barra, agora não tem hora nem dia’’.

A passagem de veículos também foi prejudicada na região conhecida como Prainha. Em vídeo, moradores exibiram a força da água invadindo os estabelecimentos e ruas.
Prefeitura diz que adotou medidas preventivas para evitar maior impacto

Após recomendação do IMA, Prefeitura de Marechal abriu canal na Prainha para a água escoar (Foto: Edilson Omena)

Em nota, a Prefeitura de Marechal Deodoro informou que foi construída uma contenção de forma emergencial na localidade, visando diminuir os impactos e o avanço da maré sobre as residências da orla. Além disso, o município também enviou máquinas para a desobstrução das vias e escoamento da água.

Mas ressaltou que para a construção de uma obra mais efetiva, desde o último ano, o município vem buscando ajuda do governo federal.

“Na ocasião, a Prefeitura de Marechal Deodoro elaborou projetos e apresentou-os em Brasília, entretanto, foi negado, mesmo tendo decretado situação de emergência. O prefeito de Marechal Deodoro, Cláudio Filho Cacau, voltará a Brasília para tentar novamente o apoio do governo federal. O município reafirma seu compromisso com a população da Barra Nova e segue buscando ajuda para resolver o problema dos moradores, que há anos sofrem com o avanço da maré e as mudanças climáticas’’, diz um trecho da nota.

IMA

O coordenador de gerenciamento costeiro do Instituto do Meio Ambiente de Alagoas (IMA/AL), Ricardo César, disse que foi até o local para observa a situação da Ilha de Santa Rita a convite da prefeitura. “O fenômeno ocorre geralmente quando a lua se aproxima da terra. São mares gravitacionais e ocorrem nos últimos cinco dias. E a área teve várias modificações da sua morfologia em função dos pontais arenosos e a maré passou por esses bancos de areia e inundou ainda mais o lago passando para as ruas. Indicamos a prefeitura abrir o canal de drenagem entre o lago e a região oceânica – estreito e areia sendo colocadas nas bordas, porque quando chegar à altura de 2.4 cobriria o canal e isso foi feito. Por isso a água foi fluindo”.

César fala ainda que foram três dias de maré alta para ela alagar a região. “A abertura do canal foi monitorado para esvaziar o lago. Acredito que agora não volta a subir. Mas ações definitivas vão ser feitas a partir de estudo – essa é nossa recomendação. Neste estudo deve realizar uma contenção de erosão com altura um pouco maior que a altura da ilha. Assim protegeria de inundações d’água provida do oceano, entre outras ações como de drenagem’’.

PREVISÃO DO TEMPO

O próximo fim de semana, 14 e 15 de março, será o último do verão. A estação que começou em 22 de dezembro de 2019 termina em 20 de março, à 00h50, quando se inicia o outono. A nova estação se estende até às 18h44 do dia 20 de junho. O último fim de semana do verão será com as características típicas da estação por praticamente todo o país.

No Nordeste, o fim de semana do verão será sob a influência da Zona de Convergência Intertropical, que vem provocando muita chuva em vários estados nordestinos desde o início de março. Há previsão de muitas pancadas de chuva pelo litoral e interior de todos os estados.

Fonte: Tribuna Independente / Lucas França