Indiana Kiiomi Muñoz Gomes, morta aos 29 anos no último domingo (15) depois de sofrer um acidente em uma prova do Goiás Superbike, no Autódromo Internacional Ayrton Senna, em Goiânia, teve contato com circo quando criança e fazia trabalhos até de dublê por conta da habilidade com motocicletas.

Natural da República Dominicana, Indy, como era conhecida, veio morar no Brasil e virou uma das referências do esporte em Brasília (DF). Ela praticava motovelocidade desde 2013 e acabou não resistindo aos ferimentos de um choque no autódromo em que “se sentia em casa” e deu os primeiros passos no esporte graças ao apoio do marido.

“O que facilitou muito a aprender rápido a motovelocidade, a não temer e conseguir resultados logo nas primeiras etapas foi por eu vir de uma família circense, que praticava manobras radicais em motos. Então este estilo de vida vem me preparando desde cedo. Este contato com moto que tenho desde pequena me ajudou a aprender as técnicas da alta velocidade”, afirmou a ex-piloto em 2018, em entrevista para o campeonato Superbike Brasil.

A familiaridade com motos e atividades radicais, já que a dominicana assistia aos pais em “globos da morte”, deu coragem o suficiente para Indy se aventurar em trabalhos como dublê. Até por isso, fãs podiam acompanhar diversas manobras de Indy em cima de uma motocicleta.

Mais tarde, aprimorando a técnica nos circuitos de alta velocidade e somando títulos em torneios nacionais (ela foi tricampeã da Kawasaki Ninja 300 e levou o troféu da categoria feminina do Superbike Brasil, 500cc, em 2018), passou a instruir diversos pilotos amadores que iniciam no esporte sobre duas rodas. A escola de pilotagem era gerida ao lado do marido, Wendell Vaz, que também é piloto.

Referência entre as (poucas) mulheres

“[Corro] Graças ao incentivo do meu marido. Quando nos conhecemos, ele começou a me treinar e me preparar para as competições. Algo que eu já sonhava desde pequena, mas acreditava que nunca ia se realizar por conta de ser mulher. Preconceito sempre existiu, as pessoas, desde pequenas, pensam: ‘É mulher, é frágil, não vai dar conta. É perigoso para uma mulher'”, chegou a dizer em uma oportunidade.

Indy Muñoz era uma das poucas exceções em meio a boxes e paddocks dominados por homens. Por ser mulher de destaque no ambiente predominantemente masculino, virou referência para garotas que começam nas competições amadoras, inclusive nas redes sociais (havia mais de 70 mil seguidores no Instagram, por exemplo).

É o caso da Gabrielly Lewis, 16, irmã do piloto profissional Danilo Lewis e praticante do esporte a motor. “Além de que era a pessoa mais alegre e bondosa, ela sempre foi e sempre será um dos meus incentivos para melhorar cada vez mais na motovelocidade. Não só porque era uma das poucas mulheres que corriam e, sim, porque ela andava muito, não ter medo de ser ousada e ser do jeitinho que ela era”, afirmou ao UOL Esporte.

“Eu e a Indy tínhamos uma relação bem amigável dentro e fora das pistas. Brincávamos bastante fora e dentro sempre tinha aquela rivalidade de corrida. Ela era uma ótima piloto, admirava muito e me inspirava em como ela pilotava bem”, disse a piloto Maria Fernanda Rocha, 16 anos, companheira de Muñoz entre 2017 e 2018 na Moretti Racing Team.

Segunda morte em sete meses em Goiânia

No dia 11 de agosto do ano passado, pouco mais de sete meses atrás, o autódromo de Goiânia foi palco de outro acidente fatal, também na última curva antes da reta principal, conhecida como curva da vitória. Welles Lins de Carvalho Balbino, 31 anos, morreu após acidente em outra prova do Goiás Superbike.

A organização do campeonato, que já havia lamentado o ocorrido por meio de uma nota, ressaltou à reportagem que o autódromo é homologado pela Confederação Brasileira de Motociclismo (CBM) e salientou que reforçou a área de escape da curva com mil pneus. Vale destacar que todas as etapas do torneio acontecem no local.

Thiago Tassi

Colaboração para o UOL, em São Paulo