Amigos de Claudio Mandu da Silva, de 48 anos, uma das vítimas fatais da Covid-19, disseram que o açougueiro trabalhou doente por vários dias, no Mercado da Produção, em Maceió, deixando em alerta as autoridades de Alagoas com relação à saúde de quem frequenta o ambiente todos os dias. As informações são da Revista Época.

Segundo os amigos, Claudio Mandu trabalhou no centro comercial, até a Quinta-Feira Santa, no dia 9 de abril. Ele morreu seis dias depois de sentir os sintomas da doença.

“O movimento não foi como no ano passado, devido ao coronavírus. Mas, mesmo assim, acho que o pessoal não estava ligando muito para isso, todos sabem como é o movimento nessa época do ano. Tinha muito pouca gente usando máscaras”, afirmou um amigo, que preferiu não ter o nome mencionado.

O dono de um açougue no local e, também, amigo da vítima, externou que os comerciantes do Mercado ficaram preocupados após a morte de Cláudio. “Na Quinta-Feira Santa eu não fui trabalhar. Preferi não abrir a banca, pois eu vendo carne e ninguém compra nesse dia. Mas eu conversava com o Cláudio, ele era açougueiro como eu. Então a gente fica apreensivo, ele trabalhou doente por vários dias, não sabemos com quantas pessoas ele teve contato”, disse o comerciante, que, também, preferiu manter a identidade em sigilo.

AUTOMEDICAÇÃO COM ANTIGRIPAIS

Claudio começou a sentir indisposição no dia 2 de abril, de acordo com o auxiliar administrativo Marcelo Franklin, de 33 anos, parente da vítima. Indisposto e gripado, Claudio fez automedicação com antigripais.

“Com os remédios, ele resistiu uns dias e conseguiu trabalhar até a manhã da Quinta-Feira Santa. Mas ele não aguentou mais e foi ao hospital”, afirmou Franklin.

Cláudio ficou internado no Hospital Veredas e, em 13 de abril, teve de ser encaminhado à Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do Hospital da Mulher. Morreu dois dias depois. A família dele está em quarentena.

A Secretaria Municipal do Trabalho, Abastecimento e Economia Solidária (Semtabes), responsável pelo mercado, lamentou a morte de Claudio e informou, em nota, que ele não havia reportado qualquer problema de saúde à administração do estabelecimento. E acrescentou que o box onde Claudio trabalhava foi isolado e as autoridades sanitárias fizeram desinfecção em todo o mercado.

Após a confirmação da morte, o Mercado da Produção seguiu aberto, mas com restrições. Passou a haver um controle de entrada e saída de pessoas. Com a medida, formaram-se filas de clientes do lado de fora na semana passada.

MP APURA IRREGULARIDADE

Uma investigação foi aberta para apurar a responsabilidade pela aglomeração de pessoas no Mercado. O Ministério Público Estadual de Alagoas (MPAL) requisitou que fosse apurada “a suposta ocorrência de crime de infração de medida sanitária”. De acordo com o órgão, não houve “qualquer organização por parte da administração do estabelecimento, mesmo após o recebimento de instruções para se evitar esse tipo de aglomeração e realizar o correto procedimento de higienização, gerando risco concreto e efetivo de contágio pela Covid-19”.

Em resposta, a Semtabes informou que enviará ofício ao Ministério Público com esclarecimentos a respeito da movimentação no Mercado durante a Semana Santa. Em nota, afirmou que o serviço de som interno orientou os frequentadores a manterem o distanciamento adequado e que os órgãos de segurança foram acionados, “mas devido ao fluxo atípico, não foi possível dispersar a aglomeração”. A secretaria disse, ainda, que, na Sexta-Feira Santa, o acesso de clientes já estava ordenado, com apoio da Polícia Militar (PM) e da Guarda Municipal.

TAXA DE ISOLAMENTO EM ALAGOAS

Alagoas é o Estado com menor taxa de isolamento social no Nordeste: apenas 49,3% da população cumpre quarentena adequadamente, conforme aponta levantamento divulgado em 16 de abril.

Por Greyce Bernardino, com Revista Época / GAZETAWEB.COM

FOTO: Divulgação/Ascom Sudes