Faltam números oficiais, equipamentos de proteção individual (EPI’s) e sobram reclamações. Este é o cenário apontado pelas categorias de saúde que estão na linha de frente no combate ao Covid-19 em Alagoas. Ouvidas pela Tribuna Independente, as entidades que representam médicos, enfermeiros, técnicos de enfermagem entre outros, denunciam o avanço da doença entre os profissionais e a subnotificação dos casos.

Não há dados oficiais entre as entidades, apenas o conselho Regional de Enfermagem (Coren-AL) conseguiu um levantamento e mesmo assim garante que a subnotificação é grande. A realidade, segundo a entidade, está muito pior que os dados compilados.

“O Conselho Regional de Enfermagem de Alagoas (Coren-AL) informou que 23 profissionais da Enfermagem já foram infectados pela Covid-19. Os dados, referentes à última terça-feira (27), mostram também que 82 pessoas já foram afastadas dos seus postos de trabalho, com suspeita de ter contraído o novo coronavírus. Um total de 105 afastados entre confirmados e suspeitos. Os números, porém, ainda não refletem a atual situação vivida no estado, já que muitas instituições de saúde ainda não informaram os dados ao Conselho”, afirma o Conselho.

Entre os médicos, segundo um levantamento extraoficial, já seriam 30 casos. O presidente do Sindicato dos Médicos de Alagoas (Sinmed), Marcos Holanda admite a subnotificação e a dificuldade de conseguir informações precisas, principalmente porque muitos dos profissionais contaminados mantém o diagnóstico em sigilo.

“Termina sendo sigiloso isso, as patologias, então a gente só sabe daqueles que assumem, entram com atestado em determinado local. Por exemplo, no HGE já são oito cirurgiões [com teste positivo], na Santa Casa, isso só cirurgia, tem pelo menos um, na Unimed são dois, pessoal da cirurgia que é minha área. A gente sabe que em outros locais, como por exemplo a Santa Mônica, há uma série de obstetras com Covid-19 positivo, técnicos de enfermagem, enfermeiros, pessoal do Samu… Então assim é uma quantidade de médicos comprometida, a gente pode dizer que comprovado deve ter em torno de 30 médicos”, detalha.

Tais números são extraoficiais e não podem ser considerados como um boletim da entidade, de acordo com o representante da categoria.

“Não temos como afirmar e ter um boletim de médicos, porque nem todos os colegas que adoecem querem assumir que adoeceram. Eles entram no total de casos confirmados divulgado pela Secretaria. Infelizmente, estamos em busca disso, mas é muito difícil”, diz.

O presidente do Sindicato dos Auxiliares e Técnicos de Enfermagem no Estado de Alagoas (Sateal) Mário Jorge Filho pontua que a situação é preocupante. A entidade também não dispõe de um levantamento oficial que determine a real situação dos profissionais nas unidades hospitalares. Mas as informações da “rádio corredor” apontam para uma escalada nos números.

“Liguei para colegas de unidades hospitalares para ter essa informação. Oficialmente não tenho. Só em três unidades que liguei são 60 companheiros, uma casa de saúde no Centro está com 30 profissionais, no Trapiche são 25 e por aí sucessivamente, mas isso são informações dos próprios colegas de setor. Eu vejo tudo subdimensionado. Não acredito que o HGE só tenha 20 profissionais acometidos, não acredito que a Santa Mônica tenha 10. A gente vê o hospital no Centro, antiga Paulo Neto, que de 100 profissionais, 30 estão acometidos, lá são 50 profissionais de enfermagem e destes 17 estão”, afirma o líder da categoria.

Mário Jorge afirma ainda que a subnotificação envolve ainda a burocracia nas instituições públicas e privadas.

“A coisa está muito subdimensionada ainda, e o pior é que as instituições não fornecem as informações como deveriam. Seja a secretaria de saúde, seja os hospitais particulares. Principalmente os hospitais particulares. Para o sindicato adentrar, fazer a visita está sendo um protocolo estúpido, o sindicato quer acesso para saber se os trabalhadores estão paramentados ou não”, diz.

Auxiliares e técnicos estariam mais expostos

O maior número de auxiliares e técnicos de enfermagem os expõe a outro problema, segundo o sindicato: a falta de equipamentos de proteção. Mário Jorge denuncia o que ele chama de “preconceito” nas instituições particulares, que estariam dando preferência a determinados profissionais no recebimento dos EPIs.

“Tem instituição que fornece o protetor facial e a máscara N95 para médicos e não para os técnicos de enfermagem, outros fornecem para o enfermeiro e o médico, mas não para o técnico. Um hospital particular da parte alta fornece máscaras N95 para maqueiros, médicos, enfermeiros e não para os técnicos porque dizem que é um número maior e não tem como todos receberem, aí fornecem três máscaras cirúrgicas para um plantão de 12 horas. Aí vem o maior índice de adoecimento, eles estão mais vulneráveis porque estão em maior número”, aponta.

Já o presidente do Sindicato dos Empregados em Estabelecimentos de Serviços de Saúde de Alagoas (Seesse-AL), Francisco Lima defende que os profissionais da saúde precisam receber uma maior atenção no combate à doença com uma ampla testagem.

“Na minha avaliação é necessário que esses profissionais passem por testagem, não só quando estão com sintomas. Mas que sejam testados de forma geral para que a gente possa saber quantos estão comprometidos e onde estão para ter um controle melhor. Eles estão na linha de frente e precisam dessa atenção”, destaca.

Em nota, a Secretaria de Estado da Saúde (Sesau) afirmou que o setor público registra 32 afastamentos devido a doença e que vem testando os casos sintomáticos.

“A Secretaria de Estado da Saúde (Sesau) informa que o Estado tem 32 profissionais afastados do trabalho após testarem positivo para o novo coronavírus. Deste total, 11 são médicos, 7 enfermeiros, 13 técnicos e auxiliares de enfermagem e 1 assistente social. Quanto as medidas adotadas para proteger os profissionais da saúde do contágio pelo novo coronavírus, a Sesau esclarece que está garantindo a esses profissionais a distribuição de Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) adequados, conforme portaria da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e Organização Mundial da Saúde (OMS). Ressalta, ainda, que também está assegurando acesso a testes rápidos para os profissionais sintomáticos, que haverá contratação caso haja necessidade e garante que não haverá corte de salário caso o servidor adoeça”, afirmou o órgão.

Fonte: Tribuna Independente / Texto: Evellyn Pimentel

↑Coronavírus (Foto: Marcello Casal Jr. / Agência Brasil)