Nos últimos anos o Estado de Alagoas ganhou grande repercussão internacional com suas praias e, sobretudo, com sua refinada rede hoteleira, ampliada com a fama adquirida pelas chamadas pousadas de charme, que surgiram e se espalharam pelos belos balneários das regiões turísticas, como na Região Sul, Cânions do São Francisco e notadamente na Costa dos Corais, no Litoral Norte, que concentra o maior número desses empreendimentos. Na Rota Ecológica, trecho de praias entre os municípios de Passo de Camaragibe, São Miguel dos Milagres e Porto de Pedras existem muitas dessas pousadas, que por suas características exclusivas, empregam grande número de colaboradores e trabalham com tarifas para um público que adora fazer turismo de luxo.

Em São Miguel dos Milagres, capital da Rota Ecológica, a Pousada do Toque, pioneira na região e a primeira pousada de Alagoas a receber o título de pousada de charme, é uma dessas. No seu 20º aniversário de fundação, completados no mês de março, é a primeira vez em 20 anos que a pousada fecha suas portas em decorrência da quarentena por conta da pandemia do coronavírus. Com 42 colaboradores diretos, que sustentam uma pirâmide familiar de mais de 200 pessoas, além de mais de 100 empregos indiretos, entre pescadores, jangadeiros e bugueiros, a Pousada do Toque, segundo seus proprietários, Nilo Bulgarelli e Gilda Peixoto, como outras que pertencem a essa categoria de charme, serão as últimas a serem beneficiadas por uma possível retomada do movimento turístico em Alagoas.

Nessa entrevista exclusiva para a Tribuna Independente, o empresário Nilo Bulgarelli comenta esse e outros temas.

Tribuna Independente – Depois de mais de um mês fechada, qual a situação da hotelaria da Rota Ecológica?

Nilo Bulgarelli – A situação é ainda bastante crítica e de incerteza, porque estamos sem previsão de abertura. Poderíamos estar abertos, mas não há sentido nesse momento. O maior problema para quem trabalha com esse mercado do turismo de lazer, como as pousadas de charme da nossa região é que dependemos de um tipo de turista que vem de fora de Alagoas, e quase sempre de fora também dos estados mais próximos. Nossa pergunta agora é saber quando essas pessoas vão voltar a viajar.

Tribuna Independente – Quanto tempo mais os empresários vão poder aguentar de portas fechadas?

Nilo Bulgarelli – Depende muito do capital de giro de cada um. Alguns vão fechar as portas. Outros vão ter de demitir. E isso é muito triste para um empresário, pois sabemos que todos estão precisando manter seus postos de trabalho para ajudar suas famílias. A Pousada do Toque é antiga, conquistamos um número enorme de turistas nos últimos anos e conseguimos suportar um pouco, apesar da grande quantidade de funcionários, são 42 no total. Adotamos a postura de não demitir ninguém, pelo menos a curto e médio prazo.

Tribuna Independente – Qual o prejuízo já acumulado nesses primeiros 50 dias na região?

Nilo Bulgarelli – Difícil de calcular. Mas são muitos milhões de reais, pois fomos aconselhados a fechar ainda na alta temporada de março, quando as reservas estavam no auge. Depois perdemos a Semana Santa, com uma ocupação de 100% em toda a região. Mas vamos ter os números exatos mais lá para frente, quando vamos também ver se as coisas voltam à normalidade. Em todo caso acho eu 2020 é um ano perdido para a hotelaria, de forma geral na Costa dos Corais, bem como para Alagoas. Se conseguirmos pagar as contas, que continuam a chegar, os impostos, que não param e manter a estrutura aberta, já será um bom negócio. Aqui na pousada do Toque conseguimos manter por uns três meses. Depois, só Deus sabe.

Tribuna Independente – O senhor vê alguma possibilidade de o turismo voltar a funcionar em junho?

Nilo Bulgarelli – Estamos pensando seriamente em reabrir dia 1º de junho. Estamos conversando com outros parceiros. Junho é um mês de pouco movimento, de baixa temporada. Quem sabe abrir com uma equipe reduzida e ir chamando aos poucos nossos colaboradores, à medida que o turista for chegando. Não vai mudar muito, mas pelo menos vamos nos adaptando novamente.

Tribuna Independente – O turismo regional pode ser uma saída para as pousadas de charme?

Nilo Bulgarelli – É um foco interessante, sem dúvida. Algumas pousadas da região, aquelas mais simples, que trabalham com tarifas mais baixas, no Booking, por exemplo, terão mais facilidade em atingir esse público. Já as pousadas de charme, que trabalham com um turismo de “luxo”, com tarifas mais altas, motivadas pela quantidade e qualidade de serviços que possuem, terão de avaliar bastante essa possibilidade. Nosso turismo vem de fora, 90% de avião, de São Paulo e cidades do interior, de Mato Grosso, Brasília e Goiás. Vamos ter de avaliar como atingir um público diferente no nosso habitual. Trabalhar uma divulgação diferenciada para atrair pessoas que moram em Maceió e estados vizinhos, quando a pandemia estiver controlada e as pessoas se sentirem seguras em viajar novamente. Cada pousada vai trabalhar com suas estratégias. A Pousada do Toque já está avaliado todas essas novas oportunidades.

Fonte: Tribuna Independente / Texto: Claudio Bulgarelli – Sucursal Região Norte

(Foto: Arquivo pessoal)