isolamento social, necessário para conter o avanço do novo coronavírus, modificou a forma de comemorar o Dia das Mães. Os tradicionais almoços, presentes, e abraços foram substituídos por entregas de delivery e videochamadas. Mães e filhos se adaptam ao “abraço virtual” e apostam no uso da tecnologia para driblar a saudade.
A adaptação, inédita, é segundo os entrevistados a única saída para não passar a data “em branco”.
No caso de Aline Lou, a distância que a separa dos dois filhos, Miguel, de seis anos, e Maria Vitória, de onze anos, é de apenas uma parede. Diagnosticada com Covid-19, ela está em isolamento dentro de casa, num dos quartos e não poderá abraçar os filhos neste Dia das Mães.
“É muito triste pois no Dia das mães estarei no quarto sem poder fazer nada e ainda sem meus dois filhos. Mesmo não estando internada sinto toda a dor por não estar com eles inclusive quando escuto a voz do menor que é muito apegado a mim. Graças a Deus me isolei, ninguém de casa tem sintomas, mas é difícil uma criança de seis anos chamando e você respondendo atrás da porta. Ele manda desenho por debaixo da porta. Como eu moro em casa a gente se vê pela janela, conversa um pouquinho. Também sou filha, queria encontrar minha mãe. A gente pensa mil coisas, planeja tudo, mas se vê tendo que ficar isolada, muda totalmente seu pensamento, seu agir. Estou trancada num quarto, não posso fazer comida, fazer nada com eles, vai ser mais um dia comum. Faço tudo no quarto, como, trabalho e fico só ouvindo a voz deles. É muito difícil, mas com muita oração Deus ajuda a passar”, detalha emocionada.
MUDANÇA
Águida Feitosa seguia à risca a tradição de festejar a data junto da mãe e dos filhos. Eles faziam um esquema de revezamento, um ano ela e os filhos seguiam para o interior para visitar a mãe e no ano seguinte, a mãe seguia para Maceió. Este ano a comemoração vai ser distante, mas não menos especial.
“Como minha mãe é do interior, a gente sempre fazia anos diferentes. Um ano eu ia para lá com meus filhos no outro ano ela vinha para cá. Desde que iniciou a pandemia que não vi mais minha mãe. Estamos nos falando apenas por telefone. E esse dia das mães está me deixando com o coração partido… Para minimizar isso, contratei uma cesta de café da manhã para ser entregue a ela e quando ela receber vou fazer uma chamada de vídeo. É tudo surpresa ela não sabe”, conta.
Águida diz que mesmo com a atitude criativa, é inevitável sofrer por conta da distância. Principalmente para a mãe dela, dona Ednar Veiga. “É muito difícil, principalmente para ela que mora só. Ela queria que a gente fosse. Mas como eu saio para fazer supermercado, farmácia. Achamos melhor não. Conversei com ela, acredito que entendeu. A gente fica de coração partido. Ontem já chorei por conta disso. Mas temos que agradecer que estamos bem e que tudo isso vai passar”, enfatiza.
Distância e saudade pesam também no coração de Rosilda Vasconcellos. A tradição na família dela era de reunir a mãe, as irmãs e os netos para celebrar a data. Agora ela vai apostar na tecnologia para estar “juntinho” da mãe.
“Este ano passarei em casa, com minhas filhas. Não verei minha mãe, Não encontrarei minhas irmãs. Não almoçaremos juntas … Fazíamos essas coisas até o ano passado. Mas a pandemia mudou tudo. Eu trabalho em hospital e minha mãe tem mais de oitenta anos, quero protegê-la”, explica.
Rosilda conta ainda que vai enviar um presente para a casa da mãe e fazer ligações por vídeo para reforçar o contato.
Especialistas apontam importância de ressignificar a comemoração
“O mundo precisou mudar para você olhar que precisamos de mais afeto do que bens materiais. A grande população das mães neste dia gostaria de ganhar um abraço presencial do que um presente material”, afirma a psicóloga e pró-reitora acadêmica do Centro Universitário Mario Pontes Jucá, Juliana de Omena Lins.
A especialista avalia que o momento é de ressignificar a comemoração e ampliar o olhar para outros aspectos, não apenas o do presentear, mas o de afeto e carinho. “É perceptível o comportamento das pessoas, elas estão ressignificando a necessidade de afeto, beijo, abraço, amor. Isto está proporcionando as pessoas repensar o tipo de vida que elas vinham levando, nesse corre-corre. Penso que essa é uma oportunidade para menos consumo e mais afeto. Podemos ter um Dia das Mães maravilhoso, ressignificando esse dia e ficar marcado na história usando a tecnologia, podemos fazer um almoço em casas diferentes externando nosso afeto, nosso amor”
Para a psicóloga Aparecida Santos, o momento realmente exige mais do lado emocional das pessoas, principalmente numa data simbólica como o Dia das Mães que reforça o laço familiar. No entanto, ela afirma que é possível trazer um novo significado utilizando o que se tem em mãos: a tecnologia.
“A gente sabe que o Dia das Mães é uma data criada pelo comércio, porque Dia das Mães é todo dia. Mas com o confinamento durante a quarentena, tudo ficou mais difícil, as pessoas ficam mais carentes, principalmente os idosos e para as mães… Ontem mesmo eu participei de uma sala virtual de aniversário da mãe de uma amiga minha que tem 80 anos, o ‘mesversário’ do meu neto também foi semana passada e fizemos por telefone. Então, a gente vai se reinventando, tem que usar a criatividade. Ainda bem que nesse momento temos a tecnologia a nosso favor”, pontua a psicóloga.
Fonte: Evellyn Pimentel / Tribuna Independente
(Foto: Arquivo pessoal)