A pesquisa feita pelo PoderData e divulgada ontem pelo site Poder 360 mostrou que, se a eleição fosse hoje, o presidente Jair Bolsonaro ganharia com folga no primeiro turno. O petista Fernando Haddad ficaria em segundo lugar e o ex-ministro Sergio Moro em terceiro.

Mas a melhor notícia para Bolsonaro é outra: a consolidação da mudança no perfil do seu eleitorado.

O levantamento aponta que o maior percentual das intenções de voto em Bolsonaro se dá entre os desempregados e sem renda fixa.

E que o pior desempenho do ex-capitão ocorre entre os eleitores mais ricos, com renda acima de 10 salários mínimos.

É um cenário exatamente oposto ao de 2018, quando Bolsonaro era o favorito dos mais ricos e perdia para o PT entre os mais pobres. O que explica essa inversão é, claro, o auxílio emergencial de 600 reais distribuído pelo governo com a pandemia.

Como os que ganham mais de dez salários mínimos no Brasil representam apenas 3% da população e os pobres são a grande maioria (32% dos brasileiros ganham até dois salários mínimos), a vantagem da troca, para Bolsonaro, é evidente. Desde é claro que ele consiga fidelizar os seus novos eleitores — por exemplo, por meio do programa Renda Brasil.

Já o ex-ministro Sergio Moro aparece na pesquisa em terceiro lugar, com 10% das intenções de voto apenas. A relativizar tão modesto resultado pode-se alegar tanto o fato de Haddad ser um nome ainda fresco na memória do eleitor quanto o de Moro ainda não ter se declarado candidato.

Caso o fizesse hoje, o horizonte do ex-juiz não seria propriamente azul. No plano político, Moro tem muito mais inimigos que aliados. Estão contra ele petistas, bolsonaristas e representantes do Centrão (cujas lideranças encontram-se quase todas enredadas na Lava Jato). Sobram ao seu lado integrantes isolados de alguns partidos, o Podemos do senador Álvaro Dias e movimentos políticos como o MBL.

É pouco.

A falta de experiência no ramo, a retórica engessada e o discurso monotemático de Moro não seriam impedimentos fundamentais para uma candidatura competitiva. Dilma Rousseff era tão “verde” quanto o ex-ministro, mas, agarrada à mão de Lula, foi encampada pelo PT e chegou à Presidência.

Se quiser estar na pista em 2022, Sergio Moro precisa achar a sua turma.

Thaís Oyama \ Colunista do UOL

Imagem: Andre Coelho/Getty Images