A cada eleição, especialmente em conjunturas consideradas adversas, há a cobrança por unidade da esquerda em candidaturas únicas. As razões para isso não ocorrer, segundo os principais pré-candidatos desse campo ideológico em Maceió, exceto do PSB, que tem um nome mais consolidado e que está mais afastado deste campo político, variam das regras eleitorais, de sobrevivência partidária, a questões pontuais.

Ronaldo Lessa, pré-candidato a prefeito pelo PDT, considera como questão central para gerar dificuldade em unidade eleitoral dos partidos de esquerda a atual legislação eleitoral, que possui cláusula de barreira, além de questões ideológicas.

“Mas uma coisa que é central é a regra eleitoral, onde existe cláusula de barreira e os partidos entendem que para sobreviver, precisam ter suas chapas. Na realidade, creio que isso é relativo. Mas via de regra, há aquele ditado que diz que time que não joga não ganha torcida”. “Os partidos buscam fazer alianças para ter condições de disputar com essas regras tão apertadas. Isso tem dificultado muito a gente para fazer as alianças, mas a gente segue tentando”, completa o trabalhista.

Já Ricardo Barbosa, pré-candidato à Prefeitura de Maceió pelo PT, destaca que alianças são resultado da conjuntura política.

“Há algumas dificuldades, como em qualquer unidade. Aqui em Maceió, estamos caminhando para uma aliança com o PSOL. Aliás, a questão da unidade da esquerda – ou de qualquer setor político – não depende da vontade de partidos, mas da conjuntura”, pontua. “Em outros momentos, por exemplo, foi mais difícil fazer unidade com o PSOL, com o PCdoB, com o PDT. Diante de uma conjuntura que mudou, isso também muda as composições. O que antes era empecilhos, talvez políticos ou programáticos, para alianças entre os partidos da esquerda, hoje não são mais”, completa o petista.

Basile Christopoulos, pré-candidato do PSOL, também entende que as dificuldades são inerentes a todos os partidos, independentemente de viés ideológico.

“As dificuldades de unidade da esquerda são naturais de todos os partidos, independentemente de qualquer âmbito ideológico. Se observarmos a atual legislação eleitoral, ele dificulta a união de partidos, uma vez que dificulta a coligação na disputa proporcional. Isso, obviamente, afeta na majoritária. O PSOL tem dialogado com diversos partidos da esquerda para tentar compor um campo para as eleições deste ano”, diz o psolista.

Cícero Filho, do PCdoB, segue na mesma linha de pensamento dos colegas, além de reforçar a necessidade de os partidos se apresentarem à sociedade.

“Eu não acho que as dificuldades são necessariamente entre os partidos de esquerda, no geral o que você tem são três blocos de partidos se formando em torno de grandes estruturas de poder, fora disso todos têm dificuldade de formar uma frente maior, inclusive na esquerda. Isso passa muito também pela necessidade que essas forças têm de se apresentar para sociedade, de defender suas ideias na capital, onde temos o maior eleitorado e a possibilidade do segundo turno” analisa o comunista.

Pré-candidatos deixam de lado o “hegemonismo”

Todos os quatro pré-candidatos reafirmam estarem despidos de hegemonismo para a disputa eleitoral deste ano. Esse tipo de postura é algo no qual o PT – principalmente e não só – é acusado de manter a cada eleição realizada. Ricardo Barbosa, contesta esse discurso e aponta exemplo em que os petistas não são cabeça de chapa.

“Em Belém, o PSOL é cabeça de chapa. No Maranhão, essa situação é com o PCdoB. Há muitas afirmações falsas em relação ao PT, de que o partido é hegemonista. Em Porto Alegre, a cabeça é a Manuela D’Ávila, do PCdoB. Agora, ninguém pode desconhecer o fato de que o PT é o partido com a maior militância social do país, já chegou quatro vezes à Presidência da República, tem a maior bancada de deputados federais, é o maior partido em número de governadores. Isso tudo tem de ser considerado. Não pode ser desprezado sob o pretexto de hegemonismo do PT”, afirma o pré-candidato do PT em Maceió.

O petista ressalta ter mais dificuldades em relação ao PDT por causa da relação entre Ciro Gomes e Lula, principalmente. “Mas onde a gente pode, estamos construindo essa unidade. Acho que hoje a aliança da esquerda está mais concreta do que já esteve antes, quando se tinha governos de esquerda. Agora, a esquerda começa a compreender a necessidade de se unificar”.

SEM IMPOSIÇÕES

Já Ronaldo Lessa garante que o PDT não quer impor sua candidatura em Maceió, mas ressalta que as pesquisas dão respaldo para sua efetivação.

“O PDT, ao propor isso [unidade] tem de se colocar em pé de igualdade. Até para ter reciprocidade, confiança. Há locais em que o PDT apoia outros partidos. Em São Paulo, por exemplo, nós não estamos lançando candidatura. Há também outras cidades. Isso pode existir, mas acho que no caso de Alagoas, temos força suficiente de ser a cabeça de chapa. É a impressão que temos e as pesquisas nos colocam isso. Então, é evidente que trabalhamos nessa expectativa. Não é uma posição irredutível ou arrogante do PDT”, afirma Ronaldo Lessa.

Para Cícero Filho, é possível haver unidade da esquerda em Maceió, desde que haja convergência entre os programas para a capital alagoana.

“O ideal é existir uma convergência sobre o que queremos para Maceió. Acho que isso é perfeitamente possível, temos dialogado e estamos abertos a conversar e construir unidades em torno do que é melhor para Maceió. O PCdoB está firme na proposta que temos defendido, vamos lançar uma chapa completa de vereadores também. Isso não impede o diálogo e a construção de espaços de unidade com outras forças políticas”, diz o pré-candidato do PCdoB.

Basile Christopoulos relata que o PSOL tem buscado o diálogo com as demais legendas de esquerda em Maceió, mas “a gente sabe que não é fácil, mas o PSOL tem sua pré-candidatura majoritária, assim como o PT, o PDT, o PCdoB. Estamos abertos a discutir. A política nunca pode ser fechada”.

“Não abrir mão de liderar a disputa está no DNA das legendas”

Na avaliação do cientista político Ranulfo Paranhos, após a redemocratização do Brasil, a projeção dos partidos de esquerda, com destaque para o PT, pois chegou à Presidência da República, criou no DNA deste campo político a necessidade de liderar as disputas eleitorais.

“Com a eleição do PT à Presidência da República, é como se os demais partidos de esquerda percebessem que qualquer um pode chegar ao cargo máximo e não é precisa deixar de lado nada em nome de negociações. Isso foi criando um DNA da esquerda no Brasil: fazer carreira, conquistar mais espaço a cada eleição, jamais abrindo mão de liderar a disputa”, avalia o cientista político.

Mas, em sua avaliação, no caso de Maceió, os partidos à esquerda no campo ideológico não estão competitivos politicamente. Ele ainda considera que uma unidade destes partidos faria pouca diferença eleitoral.

“No caso específico de Maceió, é bom lembrar que a esquerda hoje não é competitiva. Já foi quando o PSB tinha o Governo do Estado e a Prefeitura de Maceió, mas mesmo naquele tempo as vitórias não estavam associadas às ideologias e proposta da esquerda, mas no entorno de um líder político – Ronaldo Lessa”, pontua.

“Os demais partidos conquistam, pontualmente, cadeiras na Câmara de Vereadores. Atualmente, apenas o PSB tem cadeiras nessa e outras esferas. A esquerda não tem representatividade que ajude a compor um quadro de alianças. Ou seja, historicamente, não conquistou votos em Alagoas e hoje não tem forças. A união da esquerda, ou não, talvez faça pouca diferença quando na hora de contar os votos no dia da eleição”, completa Ranulfo Paranhos.

O cientista político elenca, ainda, algumas dificuldades em construir alianças eleitorais.

“Um partido, unidade partidária ou grupo político de qualquer matiz para chegar ao poder precisa cumprir alguns critérios. Além de projeto definido, alianças não só com outros partidos e com mais setores da sociedade, capital financeiro para propagar as ideias, comunicar aos eleitores as propostas. Ainda que hoje a comunicação tenha tomado outro perfil, mas comunicar profissionalmente requer recursos para logística, profissionalização da comunicação etc.”, elenca.

Na avaliação de Ranulfo Paranhos, a esquerda chegou a dominar todas essas variáveis no país, mas em algum ponto eles perderam a capacidade de comunicar, de convencer os eleitores.

“Não porque alguém soube comunicar melhor, mas porque a esquerda perdeu os argumentos que usaram para chegar ao poder: combate a corrupção, fim da pobreza, qualidade na educação, emprego, economia estável. O segundo mandato da Dilma Rousseff [PT] mostrou que todos esses indicadores começaram a cair, principalmente quando se trata de estabilidade econômica, que leva os demais para números para baixo. Aí a gente entre num ponto onde a esquerda critica a esquerda, mas não tem mais o monopólio do discurso do combate à corrupção, fim da pobreza etc.”

Ainda de acordo com ele, em relação à comunicação com eleitores, a esquerda é intelectualizada demais para a compreensão média da população. Algo que os setores mais alinhados com o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) tem tido melhor êxito.

Por fim, segundo Ranulfo Paranhos, há a possibilidade de que num curto espaço de tempo, o discurso mais ao centro do espectro político passe a ser preferencial entre os eleitores.

Fonte: Tribuna Independente / Texto: Carlos Amaral

(Fotos: Sandro Lima)