Com o decreto nº 71.749, anunciado pelo Governador Renan Filho (MDB) na última semana, estão autorizadas as aulas presenciais para alunos adultos em Alagoas desde esta segunda-feira (26). Mas o retorno das faculdades não aconteceu e nem tem data prevista. Instituições públicas já se posicionaram e provavelmente não haverá volta em 2020. Já as privadas, estão se organizando e não divulgaram posicionamento oficial sobre o assunto até agora.
Universidade Federal de Alagoas (Ufal) e Universidade Estadual de Alagoas (Uneal) já se posicionaram e as aulas presenciais seguem suspensas, mesmo com o decreto. O Instituto Federal de Alagoas (Ifal), também não tem previsão de retorno, apesar de já ter um plano de contingência para ser adotado quando acontecer a retomada das aulas presenciais caso a pandemia persista.
Entre as particulares, ainda não há posicionamento oficial. De acordo com Alberto Vasconcelos, do Sindicato dos Estabelecimentos de Ensino Superior do Estado de Alagoas, eles estavam aguardando a portaria da Secretaria de Estado da Educação (Seduc), para definir o posicionamento da instituição. Mas o dirigente ressaltou que cada instituição está se organizando com o seu protocolo.
Universidades particulares, como Cesmac, Maurício de Nassau, Centro Universitário Mario Pontes Jucá (UMJ) e Universidade Tiradentes (Unit) não anunciaram posicionamento sobre quando voltam. O protocolo sanitário foi divulgado nesta segunda-feira (26).
A estudante Janaina André, do 6º período de farmácia no Cesmac, defende que as aulas teóricas não devem voltar agora, mas acredita que as práticas precisam acontecer. Ela admite que o posicionamento dos alunos ainda está dividido, e na sua percepção pelo menos a metade é contra a volta até das práticas. “A maioria não concorda com a volta das aulas, visto que tem que pegar ônibus, se locomover pra chegar à faculdade. Porém na minha opinião eu acho que deve voltar a parte dos adultos nas aulas práticas. Ficar com o ensino híbrido, porque as práticas já estão atrasadas”.
Parte de uma turma de mais de 30 alunos, ela espera que a faculdade organize uma retomada intercalada, com os cuidados redobrados. “A gente sabe que está diminuindo o número de mortes, mas ainda não acabou. Não seria interessante voltar com as aulas teóricas agora, no momento que estamos”.
Na avaliação da aluna, a modalidade de ensino online foi uma forma de as faculdades oportunizarem os alunos de continuarem. “Foi de grande proveito, porque nós não perdemos o semestre. Nós perderíamos um ano se não pudéssemos ter aula online. E a gente pode ter aula em casa, seguro”.
Enem: cursinhos já começam maratona com aulas presenciais
Os cursinhos preparatórios estão mais determinados a retomar. Faltando três meses para o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), muitos se organizaram para sensibilizar o governo a autorizar o funcionamento. O Clube do Fera retomou as aulas no primeiro dia da vigência do decreto.
“Tem mais ou menos uns 20 dias que a gente tem desenvolvido diversas ações junto ao governo e, finalmente, na última quinta-feira o governo liberou e hoje [ontem, 26] nós já reabrimos. Porque nós já estávamos prontos para essa volta faz muito tempo. Acredito que no 3º ou 4º mês de pandemia nós já estávamos prontos, seguindo os protocolos de outros estados. Principalmente o protocolo de Pernambuco. O modelo está baseado tanto no de Pernambuco quanto de Minas Gerais”, explicou o professor de redação Thalles Barros, fundador do Clube do Fera.
Ele explica como organizaram a volta. “Trabalhamos com três segmentos, preparatório Ifal (não volta agora porque são menores), pré-vestibular e concurso público. O pré-vestibular voltou nesta segunda e as turmas de concurso voltam a partir desta terça [27]. Voltamos com capacidade reduzida, respeitando distanciamento social e todos os protocolos sanitários, além das aulas presenciais vamos oferecer também aulas online para os alunos que não se sentirem seguros para voltar agora, além dos menores de idade”.
O Impacto Cursos também participou da mobilização pela volta. De acordo com o coordenador, Marcos Fireman, os alunos estão pedindo muito. “O Enem está chegando, os alunos precisam estar perto dos professores. Muitas vezes eles sentem vergonha de tirar uma dúvida na aula online. No formato da sala de aula o número de pessoas já reduziu bastante, vamos manter o pessoal com certa distância, mas que os alunos se sintam à vontade”.
Apesar disso, o curso teve mais cautela e decidiu concluir aulas no formato gravado e abrir novas turmas em novembro, com o formato presencial. “Alguns alunos não têm condição de vir, e o protocolo saiu nesta segunda, pra retomar não teria segurança. As aulas tem que ter janela, não teria condições de ter aula dessa forma”.
A dificuldade dos alunos foi uma preocupação de todos. Na percepção de Thalles, o aluno alagoano não estava habituado com esse tipo de estudo. “Embora domine tecnologias e redes sociais, não tinha o hábito de fazer isso com frequência”.
Ele reforça que a volta foi um clamor dos próprios alunos. “Estão nessa maratona para o Enem. Muitos realmente pararam de estudar, não conseguiram se adaptar a essa realidade virtual, não conseguiram cumprir o mesmo ritmo de aulas. Principalmente por conta do ambiente na própria casa que não era tão favorável. Agora estão voltando com mais garra e mais determinação”.
O primeiro dia de aula, segundo ele, ainda teve uma adesão tímida. “A gente sabe que o vírus ainda não acabou, sabemos que estamos vivenciando uma pandemia, e esse contexto, de volta às aulas vai ser gradativo. Mas estamos cumprindo todos os protocolos de segurança. Muito mais que o suporte pedagógico, muito mais que o suporte emocional, a gente precisa passar segurança em relação à estrutura sanitária que foi criada para receber nossos alunos”.
Thalles planeja período de adaptação. “A volta vai ser com ensino híbrido, para que esse aluno construa uma nova rotina. Estamos trabalhando para que a volta seja gradativa e proveitosa e não tenhamos que nos próximos meses fechar tudo novamente”.
Fonte: Tribuna Independente / Emanuelle Vanderlei
↑ (Foto: Ilustração)