As mudanças impostas pela pandemia parecem ter sido positivas para muitos casamentos em Alagoas. De acordo com dados do Tribunal de Justiça de Alagoas (TJ/AL), foram 1.867 casamentos desfeitos entre março e outubro deste ano. Considerando os números de 2019, que ao todo chegaram a 5.097, há uma estimativa de redução considerável.

Em informações divulgadas no site nacional da Associação Nacional dos Registradores de Pessoas Naturais (Arpen), o número de divórcios no país chegou a cair no início da pandemia, mas após a resolução que instituiu processos on-line recuperou o índice e depois de julho ficou maior que o mesmo período do ano passado.

Em 2019, o número foi de 18.689 entre março e maio. No mesmo período em 2010, quando começou o distanciamento social no país, foram apenas 11.508. Entre junho e agosto chegou a 19.533 em 2020, contra 18.076 no mesmo período do ano passado.

Em Alagoas, a maior parte dos casos se concentra na capital, de março até hoje. Foram 682 registros se somadas todas as Varas localizadas aqui. Arapiraca fica em segundo lugar, com 259 divórcios nesses meses.

Em compensação, o número de casamentos também sofreu uma redução grande, é o que informa a Arpen Alagoas. “De abril a julho deste ano, foram realizados em Alagoas 1.332 casamentos. Comparado ao ano passado, foi uma redução de 68,5%, quando foram registrados 4.207 casamentos”.

A associação local explica que antes da pandemia, os casamentos eram realizados nos cartórios, em celebrações particulares ou em casamentos coletivos nos fóruns das cidades, e para isso não existia uma quantidade limitada. “Durante as restrições sanitárias estabelecidas pelo decreto Estadual em decorrência da Covid-19, os casamentos estavam ocorrendo 100% online”.

A realização presencial também chegou a ser autorizada, mas com muitas restrições. “O provimento de número 31 da Corregedoria Geral da Justiça (CGJ) do Estado de Alagoas, publicado no dia 13 de julho, determinou que os casamentos podem ocorrer de forma virtual, conforme disciplina normativa estabelecida pela CGJ, e também de maneira presencial, desde que adotadas todas as medidas de higienização, ficando proibida a realização de casamentos coletivos; aglomeração de pessoas; e a realização de atos em lugares e condições inadequadas”, completou a Arpen-AL.

Rosinete Ramígio é tabeliã no cartório de registro civil do 6º distrito da capital. Ela relata que no judiciário houve uma mudança grande porque as audiências deixaram de ser presencial para ser por videoconferência, mas no cartório não houve mudança. “Os divórcios extrajudiciais continuaram da mesma forma visto que cartório é considerado atividade essencial, nós não fechamos em momento algum”.

Sobre a movimentação no seu local de trabalho, a constatação é positiva. “Não temos observado grandes alterações na quantidade de pessoas que tem procurado o cartório para fazer divórcio, acho até que a quarentena pode de certa forma ter aproximado mais os casais”.
Convivência causa tanto separações quanto fortalecimento de relações

A psicóloga Paula dos Anjos explica o cenário. “Houve uma situação bastante curiosa neste período, por conta do tempo desprendido dentro de casa, tanto houve casais que conseguiram ficar mais tempo juntos e fortalecer a união, quanto os que tiveram bastante dificuldades em estar juntos por muito tempo… Isso principalmente quando a relação já não estava tão boa”.

Com experiência de consultório trabalhando psicoterapia individual e de casais, a profissional participou de várias lives com profissionais de todos os estados avaliando as relações.

“Com relação à forma como cada casal se manteve nessa pandemia foi muito curioso, porque houve diversidade de respostas nessa convivência com mais frequência. Não tenho uma estatística se houve mais fortalecimento ou mais separação, houve tanto uma coisa quanto a outra. Principalmente casais que estavam em conflito. Então aquela convivência mais frequente, a linguagem não era boa, a comunicação não era boa, e isso promoveu muito mal estar inclusive separações. Houve separações em consequência de pandemia”.

Segundo ela, muitos foram beneficiados pela convivência maior. “Casais que conseguiram ficar mais tempo juntos, a distância contribuía para que não tivesse muito tempo. Colocaram em prática a rotina que haviam planejado para o dia a dia deles e foi muito salutar, muito saudável”.

Os problemas surgiram, mas foi possível ressignificar em muitas situações. “Nem todos que entraram em conflito se separaram, muitos buscaram ajuda para buscar outros meios de lidar com essa convivência, com essa frequência e intensidade”, completou Paula.

“Apesar de ter sido uma experiência bastante difícil, a gente não pode deixar de reconhecer a lição e o aprendizado que tudo isso pode trazer. Dificuldades todos tiveram, os graus é que foram diferentes. Vários conseguiram ter aprendizado grandioso e vão validar nas suas vidas. Aqueles que utilizarem essa experiência de forma positiva e construtiva poderão ter muitos ganhos”.

Fonte: Tribuna Independente / Emanuelle Vanderlei

(Foto: Edilson Omena)