Na próxima quinta-feira (4), a Favela do Bom Parto, em Maceió, será palco de uma verdadeira celebração da força e expressão artística dos povos da favela. O evento, nomeado de “Dia da Favela”, teve essa data escolhida, porque foi, neste dia, que a expressão “favela” apareceu pela primeira vez, em um documento oficial.

Foi no Rio de Janeiro, em 1900, quando o então delegado da 10º Circunscrição e chefe da Polícia da época, Dr. Enéas Galvão, redigiu um documento se referindo ao Morro da Providência como favela, um lugar que precisava ser limpado, associando aquele território como um lugar sujo, de gente imoral, entre outros adjetivos negativos. Hoje a Providência é considerada a primeira favela do Brasil.

O bairro do Bom Parto é o local onde abriga a Cufa Alagoas, importante equipamento de luta contra desigualdades e promotor de ações que visam, além de buscar uma vida mais digna para as pessoas de comunidades carentes, assim como também luta para a promoção artística que é vista como “marginal” pela sociedade.

Mais do que comemoração, o dia será marcado por reflexão sobre os problemas existentes nestes territórios, e o descaso e a negligência históricos demandados a esses lugares e seus moradores. Mas também haverá exaltação da representatividade, da resiliência e da potência presentes nestes territórios.

Por isso, acontecerá uma série de debates, palestras e shows por favelas de todo o Brasil, promovidos por diversas instituições que atuam nestes locais. O evento vai acontecer no Campo do Bom Parto, às 14h, terá exposição de produtos e artesanatos do Favela Parque, brincadeiras para as crianças, apresentações musicais, intervenções e oficinas e muitas comidas típicas da região.

“É uma grande expectativa, porque é um caminho em busca de sustentabilidade para uma rede de empreendedores. Estamos produzindo um modelo de negócio que tem como base a potencialidade das favelas, temos vários produtos das “quebradas” que se garantem, já tem um negócio definido e tem uma clientela que mantém a parte econômica lucrativa”, explica Rogério Dyaz, presidente da Cufa Alagoas.

Uma das apresentações ficará a cargo da cantora Edilza Batista, que, além do seu show tradicional, vai apresentar um novo projeto. O dia da favela vai ser um dia muito importante, porque foi aqui no Bairro do Bom Parto que nasceu o Afro Acústico que foi apresentado o ano passado, com apoio do Quintal Cultural, através do Rogério Dyaz. Agora estou com um novo projeto, que é a peça teatral musical Sítio do Pica-Pau Amarelo Afro, em que todos os personagens, desde a Emília, interpretada por mim até o Visconde de Sabugosa, são negros, e essa é uma novidade que vou mostrar no dia da favela”, explica a cantora.

Ela fala também das pessoas na favela que lutam para sobreviver, estudando, trabalhando, lutando para ser alguém, que moram na favela mas têm potencial de crescer na vida. Então esse negócio de ‘Ah, eu moro na favela então não vou estudar…’ isso não existe, é coisa da cabeça das pessoas que não vivem a realidade da favela. “Quem mora na favela tem que trabalhar, estudar muito para ser alguém na vida”, enfatizou.

Além da comemoração do Dia da Favela, acontecerá o Favela Parque, um modelo de negócio que reúne uma rede de empreendedores das favelas e levará uma programação artística, oficinas, brinquedos e uma gama de produtos que já são sucesso em suas regiões.

“Esses negócios das comunidades têm grande potencial de evoluir e passar a ser um produto para cidade toda, romper as barreiras do bairro. Estamos criando um elo para ajudar a escoar a produção desses territórios, que são de um lado vulneráveis e do outro são incríveis, guardiões de memórias ancestrais, detentores de técnicas tradicionais, portadores de uma história de dor e construtores da esperança”, destaca Rogério.

Ele explica que são diversos os profissionais oriundos das favelas. Dentre esses empreendedores, ex-cozinheiros dos mais luxuosos e caros restaurantes da capital, das melhores pizzarias, dos melhores salões de beleza e etc.

Os stands terão os nomes dos bairros, para que o público, toda vez que entrar em um, também estará entrando um pouco na região que o stand representa.

“No dia, testaremos esse formato, e, a partir da observação desse dia, será organizado o segundo evento-teste em 16, 17 e 18 de novembro, na Praça Deodoro. O projeto Favela Parque é um modelo de negócio baseado na força do empreendedor popular e na rede de cultura criativa do Estado de Alagoas.

“Falando como um cidadão exercendo a cidadania, que significa interferir no destino da cidade e do mundo, eu me sinto num imenso desafio, pois o objetivo principal do projeto é fazer com que os trabalhadores consigam renda para viver com dignidade, utilizando para isso a sua inteligência, que não tenham seu valor computado apenas pela quantidade de força no braço ou pela capacidade de resistência física. Não tem futuro um país que vende barro a preço de barro e compra barro a preço de ouro. A economia criativa não faz o barro valer ouro, ela descobre os tesouros no meio do barro”, enfatiza o presidente da Cufa Alagoas

Além do show de Edilza Batista e banda, também terá a apresentação da Banda Rogério Dyaz e a Trincheira, Nego Zika e Isaias Chico. A organização do evento ainda convida os moradores da comunidade para participarem do ônibus da saúde que irá oferecer atendimento médico gratuito com Clínico Geral, Dentista e Cardiologista fazendo o eletro com resultado na hora, como também marcação de mamografia.

Serviço:

O que: Dia da Favela

Quando: Segunda-feira 04/11

Onde: Campo do Bom Parto – Bom Parto, Maceió, Alagoas

GAZETAWEB.COM \ Jobison Barros com assessoria

FOTO: Assessoria