Foi anunciado, na quinta-feira (10) pela Petrobras, um novo aumento de preços no valor da gasolina. O reajuste passou a valer ontem (11). Mas ainda na quinta donos de postos de combustíveis anteciparam o reajuste ao consumidor final. Na tentativa de abastecer os veículos com o preço anterior, motoristas fizeram filas em alguns estabelecimentos da capital.

Em Alagoas, com o novo reajuste, o preço da gasolina comum já ultrapassa os R$ 7. Em Macei, na parte alta da capital, é possível encontrar o produto por valores entre R$ 6,70 e R$ 7,22 o litro da gasolina.

O reajuste anunciando pegou o consumidor de surpresa. “Até a terça-feira [8] o preço do litro da gasolina era de R$ 6,40 em vários postos e agora está neste valor absurdo de R$ 7. Aonde vamos parar com isso. E a gente precisa trabalhar e se locomover. Não há como todos deixarem o carro em casa e sair de transporte público. Isso iria lotar mais ainda o sistema’’, reclama o microempresário Douglas Carnaúba.

A estudante Tuyla Santos também não ficou feliz com o reajuste. Ela disse que percorreu três postos de gasolina em bairros da periferia e por lá os valores já estavam reajustados. “Fui em três estabelecimentos diferentes na parte alta, dois no bairro Cidade Universitária e um no Clima Bom I, e em ambos a plaquinha de valores já apontavam R$ 7, 297 e até 7,40 pelo litro da gasolina’’.

No grupo ‘Trânsito Maceió’ no Facebook, os internautas também opinaram em relação aos aumentos. “São consequências da corrupção passada. Se não tivessem superfaturado as refinarias de Abreu e Lima e Pesadina, e após isso as deixado sucateadas, não precisaríamos comprar petróleo lá fora. É revoltante ter que vender petróleo bruto e comprar refinado por causa de 16 anos de roubo’’, expõe Anne Martins.

REVOLTADOS

O condutor Osivan Torres Santos reclama que o povo está aceitando o ‘desgoverno’ calado e que ações mais pontuais deveriam ser feitas. “O povo que aceita tudo calado porque é o Bolsonaro que está no poder. Se fosse outro presidente já estariam nas ruas protestando. São alienados por esse governo’’, opina.

Para o motorista Yuri Cavalcante, não se pode colocar a guerra na Ucrânia como motivo do aumento. “Avalio que na época do PT [Partido dos Trabalhadores] o povo, inclusive eu, foi para a rua protestar. E não adianta vir justificar com guerra, porque, se não fosse o aumento proposital do dólar no início do governo, a gasolina, por mais que aumentasse, não estaria nesse patamar. Seja qualquer partido, qualquer governo a gente tem que lutar’’.

EM CADEIA

“Há mais de três anos todo mês aumenta o preço da alimentação. Daí junta combustível altíssimo com alimentação e todo o resto que também aumentou sem reajuste justo do salário mínimo fica bem difícil sobreviver. Não adianta falar em guerra que começou há 15 dias porque estamos nessa faz tempo. A política econômica atual só lasca a gente”, disse Mel Falcão.

Procon Maceió vai investigar se postos de combustíveis cometeram abuso

O supervisor de um posto na capital, Hemerson Monteiro, disse à reportagem que a gasolina aumentou 60 centavos às 16h30 da tarde da quinta-feira (10). Foi de R$ 6,29 para R$ 6,89. O valor, beirando os R$ 7, já era encontrado na maioria dos postos de Maceió. Já o diesel aumentou R$ 1 no mesmo horário. O etanol não sofreu aumento.

De acordo com o presidente do Sindicato do Comércio Varejista de Derivados de Petróleo do Estado de Alagoas (Sindicombustíveis), James Thorp Neto, a prática não é irregular. “O preço é definido pelo proprietário e existem as oscilações concorrenciais de mercado. Cada posto possui relação comercial com as distribuidoras e controle de seus estoques. O sindicato não acompanha e não interfere em reajustes e nos preços praticados pelos postos.”

O anúncio da Petrobras aconteceu após 57 dias sem aumento. O preço médio de venda da gasolina da Petrobras, para as distribuidoras, passou de R$ 3,25 para R$ 3,86 por litro. Para o diesel, o preço médio de venda da Petrobras para as distribuidoras foi de R$ 3,61 para R$ 4,51 por litro. Para o GLP, o preço médio de venda da Petrobras, para as distribuidoras, foi reajustado em 16,1%, e passa de R$ 3,86 para R$ 4,48 por kg, equivalente a R$ 58,21 por 13 kg. A alta do preço do petróleo se agravou após a invasão da Ucrânia pela Rússia, o que se reflete no mundo inteiro.

Para Dr. Guilherme Barbosa, Assessor de Transparência e Governança do Procon Alagoas, não é correto aumentar o preço no mesmo dia em que foi anunciado na refinaria a alteração do valor. “O dono do estabelecimento teria que cobrar o valor antigo, até compra de novas mercadorias pelo preço novo, porque caso contrário configuraria aumento injustificado de preço, que é vedado pelo código de defesa do consumidor’’, disse destacando que o órgão realiza fiscalização de vistoria nos postos de combustíveis.

“Vamos pedir as notas de entrada desses combustíveis para verificar se o que eles estão vendendo já é estoque novo, ou se é estoque velho. Neste caso, se for constatado abusividade, o estabelecimento é autuado e dado um prazo para o proprietário prestar esclarecimento. E aí é dado início ao processo administrativo’’, explica Barbosa.

O Procon Maceió também inicia uma fiscalização para investigar se os postos na capital cometeram abuso contra o consumidor. Segundo o representante do órgão, Leandro Almeida, será solicitado aos empresários cópias das notas fiscais de compra dos postos. “Iremos mediante denúncias, que ainda podem ser realizadas por toda a população através de envios de imagens, e notas fiscais. Denúncias que já chegaram pela imprensa e redes sociais serão também apuradas. A fiscalização vai ver quais postos aplicaram o reajuste nessa quinta-feira (10) e estes serão notificados a apresentar notas fiscais de entrada e saída, e se houver constatação de abusos de postos ou distribuidoras, estes estabelecimentos serão punidos com multa”, explica Leandro Almeida, diretor executivo do Procon Maceió.

Para realizar denúncias o cidadão pode utilizar os canais para reclamação são: 0800 082 4567 ou WhatsApp 98882 8326.

Aumento no preço do gás de cozinha afeta famílias alagoanas

O reajuste de 16% no preço do gás de cozinha, também anunciado na última quinta-feira (10), trouxe ainda mais preocupação para algumas famílias da capital e do interior do estado.

A dona de casa Maria Célia, moradora de Paulo Jacinto, no Agreste alagoano, conta que está desempregada e diz que a salvação é aposentadoria do esposo.

“Somos em quatro pessoas. Aqui, ainda temos a aposentadoria do meu esposo – que por sinal não vem completa por conta de um empréstimo que foi feito por necessidade, para pagar dívidas – e a ajuda de meus filhos quando eles podem. Mas fico imaginando quem não tem nada, absolutamente nada. Se pra gente já é difícil e para essas pessoas’’, pontua.
Reajuste de 16% no gás de cozinha preocupa famílias, como a de Edite Costa, que já sente os efeitos no bolso I Foto: Edilson Omena

Para dona de casa Edite Costa, o jeito é voltar a usar lenha e carvão. “A gente já passa por dificuldades em fazer a feira do mês, com tudo caro. Economizamos como dá. Quase não conseguimos comprar o gás com o valor que estava. Agora não sei o que vai ser. Imagine as pessoas como eu que paga aluguel – 55% do salário para este fim – e agora o jeito é voltar a usar o carvão a lenha, que também não está barato como antes. Não é o preço do gás em si, é preço de tudo. Vira uma bola de neve quando aumenta os combustíveis, vem o gás e a cesta básica em alta. A alternativa é economizar. Porque a gente não vive, a gente arruma meios para sobreviver, tira daqui para pôr ali e vamos levando nas dificuldades’’, expõe.

ECONOMISTA

Para o economista Emanuel Lucas de Barros, esses aumentos já estão afetando a vida da população, desde quinta-feira, quando alguns postos de gasolina já estavam com filas pra abastecer e amanheceu do mesmo jeito, os motoristas tentando garantir a gasolina no menor preço possível. “Como o combustível tem um peso importante no frete das mercadorias, sem dúvidas irá desencadear mais um aumento geral nos preços, aumento ainda mais da inflação, o que torna a vida dos trabalhadores assalariados mais difícil, pois perdem poder de compra. Sobre o novo aumento do gás de cozinha, sem dúvidas as famílias de baixa renda serão ainda mais afetadas’’.

De acordo com o presidente da Associação dos Revendedores de Gás do Estado de Alagoas (Argal), Leandro César, o botijão de gás deve ter um acréscimo de R$ 15, em média. Antes o valor cobrado estava entre R$ 100 e 110. Em Alagoas, segundo a Argal, o preço não é tabelado e os revendedores podem praticar preço livre na venda do botijão. Por isso, cada revendedor aplica de uma forma.

César acrescenta que quase todo o gás vendido em Alagoas vem de Suape, em Pernambuco. E, com isso, o aumento do diesel pode impactar ainda mais no valor final por causa do frete. “Mas acredito que, por conta da concorrência, o valor neste caso do gás de cozinha pode baixar em muitos locais’’.

Por: Lucas França com Tribuna Independente
Foto: Edilson Omena