Com o objetivo de promover a circulação e leitura da produção intelectual de mulheres negras, a Editora Diálogos Insubmissos realizará de 07 de maio a 18 de junho a I Formação e Aperfeiçoamento Docente, voltada para professoras negras e professores negros, em atuação em sala de aula da educação básica da rede pública da região Nordeste brasileira. As inscrições para participar da formação ocorrem de 18 a 22 de abril, através de formulário disponibilizado em link na BIO no Instagram @editoradialogosinsubmissos.
A formação conta com a parceria do Grupo de Pesquisa Diáspora: Grupo de Estudos em Práticas Musicais, Afrodiaspóricas e seus Atravessamentos, da Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS) e da Fundação Rosa Luxemburgo (FRL), que enviará via correio material didático base da formação, composto por quatro publicações intelectuais de mulheres negras: Vozes Insurgentes de Mulheres Negras (2019); Radical Imaginação Política de Mulheres Negras (2020); Insubmissão Intelectual de Mulheres Negras Nordestinas (2021) e o e-book Slam Insubmisso 2021 – Edição Especial Autoras Nordestinas (2021), todas disponíveis em PDF para download no site da FRL.
Com 120 horas no total, esta primeira formação promovida pela Editora Diálogos Insubmissos, traz sete linhas temáticas, que abrangem reflexões nos campos das artes e suas poéticas, literatura, geopolítica, educação, gênero, raça e sexualidades. Para reafirmar estas pautas foram convidadas/os profissionais com experiência docente e pesquisas acadêmicas que transversalizam as temáticas com as obras a serem trabalhadas na formação.
A idealizadora da Editora Diálogos Insubmissos, Dayse Sacramento, que atua há 19 anos no ensino público baiano – estadual e federal, hoje professora de Língua Portuguesa do IFBA, dará início a formação com o curso “Insubmissão da Literatura de Mulheres Negras”, a fim de provocar uma reflexão acerca de produções literárias de mulheres negras no Brasil entre os séculos XIX e XXI.
Debate amplo e potente, assim é o curso “Gêneros, Sexualidades e Raça nas escolas – pelo direito de se identificar”, a ser lecionado pela mestra em Cultura e Identidade, Carla Freitas, pesquisadora pelo Núcleo de Pesquisa e Extensão em Culturas, Gêneros e Sexualidades (NuCus/UFBA). A oficina pretende instrumentalizar o docente para intervenções práticas em sala de aula com jovens e crianças, a partir de leituras e reflexões que buscam desnaturalizar normatividades que cruzam gênero, raça e sexualidade.
Com um discurso alinhado ao Feminismo Negro e uma política de ter “equipa” editorial formada por mulheres, a Editora convida dois professores negros para integrar o corpo de docentes para lecionarem na formação: o geógrafo e doutor em educação pela UFBA, Eduardo Miranda, que se coloca como corpo-território docente na Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS); e Luan Sodré, músico e pesquisador do campo da música, cultura e sociedade é também professor da UEFS, onde trabalha com formação de professores e música.
O prof. Eduardo irá desenvolver o curso “Educação Decolonial e Corpo-território”, no intuito de provocar um pensamento decolonial e problematizar os impactos das colonialidades na construção do corpo-território docente, apresentando ações contra hegemônicas positivas para as rupturas com as colonialidades. Atualmente, Eduardo Miranda contribui no Mestrado em Educação e coordena o Grupo de Pesquisa Corpo-Território, Educação e Decolonialidade, na UEFS.
Líder do grupo de pesquisa Diáspora (CNPq/UEFS) e professor da licenciatura em música da UEFS, Luan Sodré é um pesquisador com foco nas existências afrodiaspóricas. Este irá conduzir o curso “Vozes insubmissas e perspectivas políticas insurgentes em músicas afrodiaspóricas”, com uma análise das manifestações musicais à luz das trajetórias de r(e)xistência das populações negras a fim refletir a dimensão política de um pensamento afrodiaspórico em música e, consequentemente, em artes.
Também integrante do corpo docente da UEFS, Liz Sandra Souza – doutora em Língua e Cultura (UFBA) – irá lecionar o curso intitulado “Práticas de leitura e escrita para refletir sobre questões étnico-raciais no contexto das aulas de línguas na educação básica”. Mulher negra, nordestina e educadora linguística, Liz Sandra apresenta reflexões acerca do letramento racial crítico na formação de educadores(as) e estimula a inserção de produções literárias de mulheres negras em salas de aulas.
Com o título “ATERRAR: Metodologia negra feminista para o ensino da arte”, a mestra e doutorada em dança Edeise Gomes, que atua como professora da Universidade Estadual do Sudoeste Baiano, em Jequié, desde 2016, irá relembrar epistemologias artísticas negras esquecidas após colonização, potencializando os métodos e conteúdos promovidos pelas mulheres negras, com foco na corporalidade e na ancestralidade, princípios da metodologia ATERRAR, de sua autoria.
Ao convidar docentes que lecionam numa universidade que está fora da capital baiana, a Editora assume uma estratégia geopolítica de valorizar a produção intelectual e acadêmica de outras universidades espalhadas pelo estado. Baiana radicada em Sergipe, a poetisa, pesquisadora e artista das palavras Stella Carvalho traz a formação “Palavra-ritual: evocações da escrita”, um experimento que atravessa os limites da palavra e a construção de outros sentidos, a partir de uma perspectiva afrocentrada para a escrita.
De acordo com Dayse Sacramento, o recorte geopolítico é importante, pois acredita que somos uma região que tem uma potente e robusta produção intelectual. “Destacar o nordeste é um movimento de valorizar nosso povo e fortalecer a ideia de que nós produzimos intelectualidade e conhecimento”, destaca Sacramento, que também é uma das docentes da Formação.
As aulas da I Formação e Aperfeiçoamento de Docentes ocorrerão sempre aos sábados, de 09h às 17h, totalmente on-line – síncronas (zoom) e assíncronas (google classroom). Docentes pretas e pretos que participarem do aperfeiçoamento receberão Certificado de 120h emitido pela Diálogos Insubmissos, pelo grupo de pesquisa Diáspora (UEFS) e pela Fundação Rosa Luxemburgo.
Insubmissão Preta – Esta formação ocorre num sentido contrário aos diversos ataques à educação, constantemente ameaçada pela atual gestão do governo federal. “Por isso, promovemos uma atividade inteiramente gratuita e com diversos debates em torno de temas que podem contribuir e dialogar com perspectivas artísticas, políticas, educacionais e culturais, que acolham e respeitem a diversidade e complexidade das experiências humanas presentes na escola”, explica Dayse Sacramento, ao acrescentar que o projeto nasce a partir de uma análise de sua experiência como docente.
“Sempre me questionava como utilizar os livros literários e didáticos em sala de aula. Nos últimos cinco anos, tenho atuado na realização de eventos literários e discussões em torno da produção intelectual de mulheres negras, e percebi o quanto é importante fomentar um espaço para que nós docentes pretas e pretos discutamos estratégias de aprimoramento e valorização da nossa produção intelectual para atuar na escola pública.”, realça.
A valorização, o estímulo e a difusão da produção de conhecimento de pessoas negras é um ato político, principalmente, ao fomentar o pensamento crítico com destaque para a perspectiva de mulheres negras. Neste sentido, a editora conta com o apoio financeiro da organização alemã Fundação Rosa Luxemburgo. “Para nós, é um compromisso fundamental e político desenvolver este tipo de projeto, para alcançarmos as transformações que tanto almejamos na sociedade brasileira”, reforça Christiane Gomes, atual coordenadora de projetos da FRL.
A Fundação Rosa Luxemburgo é uma organização alemã que está presente em 24 países do mundo e que é ligada ao partido Die Linke, que significa a esquerda. No Brasil, há 18 anos desenvolve projetos de apoio e fortalecimento da democracia, dos direitos humanos e da natureza e de estímulo e circulação do conhecimento crítico. Para isso realiza projetos de parceria com diversas organizações e movimentos do campo progressista da sociedade brasileira. Além disso, também mantém viva e atuante a obra e legado de Rosa Luxemburgo, polonesa/alemã e importante referência de ação política.
Trajetória – A Editora Diálogos Insubmissos se preocupa com a descentralização da produção de conhecimento e busca contribuir na geopolítica da produção do conhecimento, ao mesmo tempo que também deseja fomentar a circulação de produção intelectual de pessoas negras nos diversos campos como literatura, arte, política, educação e, por isso, está promovendo a I Formação Docente de Professores Negres do Nordeste.
Em 20 de novembro de 2021, foi lançada a Editora Diálogos Insubmissos e sua primeira publicação, o livro “Insubmissão Intelectual de Mulheres Negras Nordestinas”, que reúne nove ensaios de mulheres negras dos estados do Nordeste, escritos no contexto atual da pandemia da Covid-19. A obra é fruto de uma longa e firme parceria com a Fundação Rosa Luxemburgo.
A Editora é uma empresa que descende da Plataforma literária Diálogos Insubmissos de Mulheres Negras, criada por Dayse Sacramento, construída com outras intelectuais e pesquisadoras negras baianas, que desde 2017 produz eventos literários de mulheres negras, com participação em feiras nacionais e internacionais, com o objetivo de promover debates e atividades que têm como mote a produção literária feminina negra, que dialogam com outras linguagens artísticas-culturais e políticas-sociais.
Neste caminhar de ações literárias, a plataforma esteve presente em uma série de festivais literários do Brasil: FLIP – Festa Literária Internacional de Paraty; FLIPELÔ- Festa Literária Internacional do Pelourinho; FLIC – Feira Literária de Campina Grande; FLICA – Festa Literária Internacional de Cachoeira, FLIGÊ- Feira Literária de Mucugê, além de ter participado de atividades como o Fórum Social Mundial (2018); o Giro pela Vida – AVON (2019); e a Virada Sustentável Salvador (2019), tantos outros eventos.
TNH1.COM
FOTO: Divulgação