Com a redução do nível das águas nas regiões às margens da Lagoa Mundaú em Maceió, as famílias tentam agora “se recompor” se é que é possível, em meio a um saldo de destruição, com moradias cheias de lama, onde tudo, ou quase tudo foi perdido. Segundo dados da Prefeitura de Maceió, cerca de 4 mil famílias foram afetadas na capital após as intensas chuvas no início do mês.

É o caso de dona Maria José da Silva, moradora do Vergel do Lago. Há quatro anos vivendo no local, ela diz que viu as águas chegarem à Avenida Senador Rui Palmeira. A moradia dela é uma das mais baixas e foi tomada pelas águas. Ela conta que precisou da ajuda de vizinhos para tirar alguns pertences e voltou logo após a água começar a baixar.

“Foi muito desespero, eu nunca tinha passado por isso, tem uma madeira ali no chão, mas não adiantou de nada. Meu vizinho a casa é mais alta e foi quem me ajudou a tirar as coisas, mas eu perdi meu rack, meu guarda roupa e minha televisão, só ficou a geladeira. Minhas roupas ficaram cheias de lama e estou lavando hoje”, detalha.

Maria José diz que permaneceu no local, mesmo tendo a opção do abrigo. “Como eu ia sair daqui com meus cachorros, meus patos? Se eu saísse daqui pra ir pra o abrigo eu perdia minha casa, e eu ia morar onde? Prefiro ficar aqui com água e tudo”, diz.

No Bom Parto, casas ficaram com mais de metro d’água

Também às margens da Lagoa, o bairro do Bom Parto foi severamente afetado pelas águas. As residências ficaram com mais de um metro de água. Thaline Soares da Silva mora há 30 anos no mesmo imóvel e relembra os momentos enfrentados.

“Foi tudo muito rápido. A água começou a chegar, mas em questão de minutos ela começou a subir. A gente foi subindo as coisas, mas não adiantou, foi muito rápido. De repente eu já vi as pessoas saindo de canoa, de caixa d’água de tanta água que foi. Eu perdi muita coisa, minha geladeira parou de funcionar, perdi sofá, roupas, guarda-roupa. A água estragou meu fogão, agora só funciona uma boca”, enfatiza a moradora.

Sem ter opção de recomeçar em outro lugar, Thaline afirma que voltou para casa após passar dois dias na casa de uma amiga. “Não temos o que fazer, precisamos voltar porque não tem outro lugar para ir. A gente tá dependendo da ajuda da liderança daqui para receber cesta básica, leite, fralda porque aqui é o último lugar que chega alguma coisa. Os carros de limpeza só vieram essa semana, depois de muito pedido, de muita cobrança. Aqui estava cheio de lixo, de resto de móveis, de lama, estava difícil até para passar”, acrescenta.

Procurada pela reportagem, a Prefeitura de Maceió afirma que tem dado suporte as famílias e que devem atender também as pessoas que permanecem em abrigos.

“A Secretaria Municipal de Assistência Social distribui refeições, nos três turnos, além de lanches, para todas as pessoas abrigadas em prédios públicos de Maceió. Além disso, foram adquiridos mais de dez mil colchões, lençóis e travesseiros para serem entregues aos afetados pelas chuvas, mas a distribuição depende da disponibilidade desse material em estoque nos fornecedores. Todos os esforços estão sendo empenhados para atender a população. A Semas reforça que esta é uma situação de calamidade, com mais de 4 mil atingidos, mas que todos receberão a assistência devida”.

Restos de móveis já somam mais de 420 toneladas

Basta circular nas ruas de entorno da orla lagunar em Maceió para constatar a quantidade de restos de móveis, colchões e outros pertences perdidos com a cheia. Segundo a Prefeitura de Maceió entre os dias 04 e 07 de junho foram mais de 420 toneladas retiradas, sendo 377 toneladas de resíduo domiciliar e 43 toneladas de resíduos diversos nas localidades da Brejal, Vergel, Dique Estrada, Levada, Pontal da Barra, Fernão Velho e Rio Novo.

O líder comunitário do bairro do bom Parto, Fernando Lima, afirma que atualmente a maior demanda dos atingidos tem sido a falta de móveis. “As pessoas perderam tudo. Doações de alimentos tem chegado graças a Deus, mas falta colchão, enfim, móveis que foram perdidos pela força das águas”, conta.

TRIBUNA HOJE

Foto: Sandro Lima