Um direito conquistado após décadas de lutas pelos povos indígenas, a inserção da origem e da etnia na Carteira de Identidade Inclusiva ainda não é uma realidade plena no estado de Alagoas.

Existe um embate entre a direção da Funai em Alagoas e representantes da tribo Xucuru-kariri em Palmeira dos Índios, tendo à frente a líder indígena Graciliana S. Wakanã.
Ela e um grupo de mais 60 representantes de povos indígenas no estado, a exemplo das etnias Katokinn, Geripankó e Karuazu, localizadas no município de Pariconha, no Sertão de Alagoas, realizaram um protesto ontem (4), com o bloqueio de um trecho da rodovia federal BR-423, nas imediações da comunidade Maria Bode, em Água Branca.

O grupo ateou fogo em pneus e colocou galhos de árvores, bloqueando por várias horas o tráfego na estrada. A Polícia Rodoviária Federal (PRF) e um representante do Ministério Público Federal (MPF) foram até o local negociar a liberação da via, que foi desbloqueada em seguida.

Os indígenas pedem a substituição imediata da direção da Fundação Nacional do Índio (Funai), na cidade de Delmiro Gouveia.

Um representante do Ministério Público Federal (MPF) está no local para ouvir os indígenas.

De acordo com a líder indígena Graciliana S. Wakanã Xucuru-kariri, muitos índios vivem fora das aldeias, por conta da necessidade de trabalho para sustentar suas famílias.
Em maio deste ano, os índios entregaram um abaixo-assinado e repassaram o documento para representantes da Procuradoria Federal dos Direitos das Minorias em Arapiraca e da Delegacia da Polícia Federal em Alagoas.

Uma Nota de Repúdio também foi enviada à imprensa, ao Ministério Público Federal (MPF) e ao presidente do Conselho de Direitos Humanos, Pedro Montenegro, no mês de julho passado, denunciando discriminação e perseguição por parte de servidores da coordenação local da Funai em Palmeira dos Índios.

Segundo a líder indígena Graciliana Wakanã, um grupo de indígenas estava no posto do atendimento JÁ, em Palmeira dos Índios, para emissão do RG Inclusivo, documento de identificação nacional que garante oficializar a qual origem e povo indígena pertencem, respaldado pelo Decreto 10.257/2020.

De 4 mil índios, 1.360 estão nas aldeias

Ainda de acordo com Graciliana Wakanã, em Palmeira dos Índios vivem cerca de quatro mil indígenas e 1.360 estão nas aldeias. Os demais moram nas periferias das cidades vizinhas, como Igaci, trabalhando em várias atividades para garantirem o sustento de suas famílias.

“Ser índio não é só morar na aldeia ou em território reconhecido pela Funai. Vivemos em uma cultura de paz e bem viver, pautados na ética, noser e viver a identidade indígena em qualquer lugar”, reforça.

Graciliana Wakanã conta que os servidores da Funai, em Palmeira dos Índios, estão obedecendo ordens da chefia superior para não emitir a Carteia de Identidade Inclusiva nesses casos.

“Alguns funcionários chegaram e apontaram o dedo e, em voz alta, disseram que as pessoas que lá estavam não eram indígenas”, lembra ela, afirmando que Alagoas é o primeiro estado a garantir esse direito aos povos indígenas, após décadas de reivindicações, lembrando da luta iniciada no ano de 1945 pelo cacique Celestino e depois pelo cacique Manoel Celestino, hoje com mais de 80 anos, na Aldeia Mãe Serra do Capela, em Palmeira dos Índios.

“Queremos a garantia dos nossos direitos e esperamos que as autoridades façam justiça”, completou Graciliana Wakanã, revelando que o ocorrido foi comunicado ao coordenador da Funai-CR NE 1, com pedido de providências para o caso.

TRIBUNA HOJE

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