Sonho do povo maceioense há décadas, a recuperação do Riacho Salgadinho, no Vale do Reginaldo, trecho que vai do bairro do Feitosa ao Centro, parece algo impossível. De acordo com o advogado especialista em direito ambiental e ex-secretário de meio ambiente de Maceió, Alder Flores, há dezenas de pesquisas comprovando a morte do rio. “Muitos estudos dizem: oxigênio zero. Oxigênio é vida”.

Analisando o projeto Renasce Salgadinho, da atual gestão da Prefeitura de Maceió, ele vê como positivo, mas que o nome é apenas para chamar atenção. “O grande objetivo da prefeitura é tornar a praia da avenida balneável. O rio já era”.

Ricardo César, o coordenador do Gerenciamento Costeiro do Instituto do Meio Ambiente de Alagoas (IMA), reforça o argumento sobre o rio. “O [Riacho] Salgadinho, tem 12 km de canal, não existe mais nada que esteja minando água por conta da urbanização que causou impermeabilização do solo. Fizemos um levantamento há 7 anos a pedido da Procuradoria Geral do Estado (PGE). São águas servidas das residências e de enxurradas, que vertem em direção à Avenida”. Segundo ele, seria possível a recuperação com vegetação ciliar, desocupação de trecho, mas muito difícil.

O rio é subdividido. Até a antiga rodoviária [no Poço] é Reginaldo, a partir daquele ponto é salgado, e por isso recebe o nome de Salgadinho.

Comparando o projeto atual ao que foi implantado durante a gestão da prefeita Kátia Born, em que estava secretário, Flores considera uma modernização. “É semelhante, mas agora vem com outra roupagem, outras tecnologias que vão melhorar e aperfeiçoar as medidas de contenção e proteção ambiental. Mas o grande objetivo do projeto é tornar a Praia da Avenida balneável. Para que volte a ter condições de as pessoas utilizarem para o banho”.

Para Alder Flores, versão atual do projeto é mais moderna e grandiosa

Entusiasmado com a versão atual, ele considera uma solução para outros problemas. “A obra em si, se vem com uma concepção mais moderna, com mais recursos, é uma grande obra. Não há o que contestar. Deve ser considerada uma obra apolítica, como foi o encerramento do lixão do Cícero Almeida. Veja o desenvolvimento da região norte”.

Momento histórico presente na memória da população, o dia em que a prefeita tomou banho no riacho salgadinho ao final do seu primeiro mandato é lembrado por ele como uma prova de que o projeto deu certo na época.

“Não teve continuidade porque não tinha recurso, foi gente da prefeitura mesmo que fez. Calculamos a vazão do rio em tempo seco, verão, dimensionamos sistema de bombeamento e elevatória. Colocamos gradeamento nos riachos e a prefeitura recolhia esses resíduos e levava para o lixão. No leito principal colocamos quatro redes de pesca e contratamos a colônia de pescadores e eles ficavam retirando e colocando nos contêineres, que também iam para o lixão. Mas era muito difícil, porque a população colocava geladeira, fogão, sofá”. Em sua visão a população tem grande responsabilidade. “Não ajuda muito. Não ajudava antes e continua não ajudando. Mesmo com toda a educação ambiental, não sei porque”.

Ele explica que a solução para o problema é muito complicada, e que já chegou a tomar algumas medidas como gestor que chamaram atenção, mas que acabam sendo pontuais.
“Eu fechei na Ponta Verde. Cheguei em um prédio, peguei a planta e fiz o cálculo de quantas pessoas moravam e defecavam lá, constatamos que o tamanho da fossa não era suficiente. Mandei cavar e descobrimos uma ligação com o canal pluvial, mandei fechar. Uma hora depois os dejetos estavam boiando no estacionamento do prédio. O prédio era licenciado, então nós demos um prazo de 15 dias para que ficassem tirando os dejetos com caminhão limpa fossa, até que fosse feita uma obra para readequar”.

Ele lembra também um restaurante conhecido em Maceió. “Na Família Giuliano eu peguei, algumas barracas de praia também. Em Marechal Deodoro, quando era secretário de lá fui aos bares da Massagueira e fiz a mesma coisa”. 

“Línguas de esgoto surgem com crescimento desordenado da cidade”

O problema surgiu com o crescimento urbano. Um artigo de Irene Pimentel, Nélia Callado e Valmir de Albuquerque Pedrosa, publicado pelo Centro de Tecnologia da Universidade Federal de Alagoas (Ufal) em 2005, aponta um crescimento de 430% da população em apenas 35 anos. Esse crescimento é considerado desordenado e sem ações de infraestrutura capazes de soluções efetivas, principalmente, para o saneamento básico local.

“As últimas ações de vulto ocorreram na década de 1980, fazendo com que a cidade acumulasse mais de 30 anos de defasagem de investimentos em saneamento”, dizia o estudo na época.

O estudo aponta que na época as galerias de águas pluviais da parte baixa da cidade, devido às ligações clandestinas, recebiam, além de lixo, contribuições de esgoto.

“Dessa forma, o descarte dessas águas torna as praias urbanas, em 80% do tempo, impróprias para banho. Assim sendo, a Prefeitura Municipal de Maceió construiu nas ‘pontas de ala’, nas faixas de areia, barramentos em tijolo, bombeando os esgotos para a rede coletora de esgotos”. Essa solução paliativa resolvia de forma paliativa os problemas de balneabilidade das praias em épocas de verão, ou melhor, em época de estiagens.

“Tais medidas tornam as praias próprias para banho, em 78% do tempo. No entanto, em períodos chuvosos as bombas de recalque não têm capacidade para recalcar toda vazão, e as águas de chuva mais os esgotos sanitários vertem para a praia formando a línguas suja”. 

Por Emanuelle Vanderlei com Tribuna Independente

Foto: Adailson Calheiros