Atualmente, a síndrome de Tourette tem ganhado destaque graças a artistas mundialmente conhecidos, como Billie Eilish e Lewis Capaldi. Essa condição neuropsiquiátrica, caracterizada por múltiplos tiques motores e fonéticos, tem despertado interesse e curiosidade.
Para entender melhor sobre o assunto, o Lifestyle ao Minuto entrevistou a neurologista pediátrica Mónica Vasconcellos, presidente da Sociedade Portuguesa de Neurologia Pediátrica (SPNP), que esclareceu alguns pontos importantes sobre essa condição e seu tratamento.
Tendo isso em conta, o Lifestyle ao Minuto fez algumas perguntas a Mónica Vasconcellos, neurologista pediátrica e presidente da Sociedade Portuguesa de Neurologia Pediátrica (SPNP), sobre esse “distúrbio neuropsiquiátrico caracterizado por múltiplos tiques motores e fonéticos, que flutuam de intensidade”.
“Não existe atualmente tratamento curativo” e todos os tratamentos aplicados servem como forma de amenizar os tiques, se “eles interferirem na qualidade de vida da criança ou jovem”, esclarece a médica.
Para ser considerado o diagnóstico de Tourette, é necessário que existam vários tiques motores e “um ou mais tiques vocais, que ocorrem várias vezes ao dia, durante um período superior a um ano”. Geralmente, “a idade de início é sempre antes dos 18 anos”, acrescenta.
Notícias ao Minuto Presidente da Sociedade Portuguesa de Neurologia Pediátrica© Mónica Vasconcellos
O que é a Síndrome de Tourette?
A síndrome de Tourette (ST) é um distúrbio neuropsiquiátrico caracterizado por múltiplos tiques motores e fonéticos, que flutuam de intensidade, com um padrão característico de exacerbações e remissões ao longo do tempo.
O que a causa?
Tem uma etiologia multifatorial, em que fatores genéticos estão claramente implicados.
Normalmente é diagnosticada em que idades?
A apresentação inicial mais frequente é com tiques motores simples (frequentemente tiques nas pálpebras e movimentos cefálicos, que surgem em média por volta dos 7 anos) e cerca de dois a três anos depois surgem os tiques vocais. Novos tiques podem substituir os anteriores ou associar-se em um aumento crescente, sendo que essa doença atinge a expressão máxima por volta dos 10 a 12 anos de idade.
Não tem cura, mas é possível gerenciar os tiques? Como?
A abordagem terapêutica dos tiques deve ser discutida em conjunto com os pais e/ou cuidadores e baseada no nível de impacto funcional e psicológico causado. Não existe atualmente tratamento curativo; o tratamento é sintomático e tem como objetivo reduzir os tiques, se eles interferirem na qualidade de vida da criança ou jovem.
A terapia comportamental, com treinamento de reversão de hábitos para tiques e intervenção comportamental abrangente para tiques, tem demonstrado eficácia. O tratamento farmacológico deve ser reservado para os casos mais graves, se os tiques causam dor ou lesões, se interferem nas relações sociais da criança ou se interferem funcionalmente na vida cotidiana.
Quais são as melhores formas de lidar com a doença?
É importante avaliar o impacto que os tiques têm no ambiente familiar, perceber como os pais lidam com os tiques. Deve ser explicada
Muitas pessoas acreditam que o tic mais comum associado à Síndrome de Tourette é o de proferir palavras obscenas involuntariamente. No entanto, existem outros tipos de tiques.
Os tiques podem ser classificados em motores ou vocais, e tanto podem ser simples como complexos. Na Síndrome de Tourette, os tiques tendem a variar em tipo, frequência, gravidade e localização ao longo do tempo, geralmente progredindo de tiques simples para complexos, com um padrão característico de exacerbações e remissões, seguindo uma progressão rostro-caudal.
Os tiques motores complexos podem envolver sequências de atividades motoras ou movimentos coordenados de diferentes grupos musculares, como gestos obscenos (chamados de copropraxia) ou imitar os outros (chamado de ecopraxia). Já os tiques vocais complexos podem envolver sílabas, palavras, frases ou sons musicais, e podem incluir o uso de palavras obscenas (chamado de coprolália) ou repetir os sons e palavras de outras pessoas (chamado de ecolália).
Como se distinguem os tiques associados à Síndrome de Tourette dos que não estão?
O diagnóstico de Síndrome de Tourette requer a presença de múltiplos tiques motores e um ou mais tiques vocais, que ocorrem várias vezes ao dia (quase diariamente), por um período superior a um ano, com início antes dos 18 anos de idade.
A Síndrome de Tourette pode ser incapacitante? Em quais casos?
Os tiques em geral, e especialmente na Síndrome de Tourette, estão associados a várias comorbidades e problemas de comportamento que muitas vezes são mais incapacitantes do que os próprios tiques. Por exemplo, podem estar associados a transtorno de hiperatividade e déficit de atenção, comportamentos obsessivo-compulsivos, distúrbios de ansiedade, depressão, problemas de sono e comportamento de oposição e desafio.
A condição tende a melhorar e acalmar ao longo dos anos? Ou mantém-se estável, manifestando os mesmos problemas?
A evolução dos tiques é variável, com flutuações na forma, localização e frequência ao longo do tempo, sendo possível períodos variáveis sem tiques. O pico da gravidade dos tiques ocorre geralmente por volta dos 10-12 anos de idade, e os tiques tendem a diminuir em frequência durante a adolescência ou início da idade adulta.
Por Notícias ao Minuto Brasil
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