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O cenário político em Alagoas começa a concentrar os esforços para a disputa eleitoral de 2024. Um dos maiores embates locais que tem ganhado repercussão na política nacional é entre o senador Renan Calheiros (MDB) e o deputado federal Arthur Lira (PP), atualmente presidente da Câmara dos Deputados.

Dos 102 municípios alagoanos, a prefeitura da grande maioria está concentrada entre esses dois partidos ou os respectivos gestores têm ligações diretas com Calheiros e Lira. Em muitas gestões, inclusive, prefeitos são aliados tanto de Renan quanto de Arthur. Há meses as articulações estão sendo feitas e o MDB alcançou 66 municípios, com a promessa de que terá candidatura própria em todos os 102 concorrendo no próximo pleito, batendo de frente com muitos aliados de Lira.

Renan é aliado antigo do presidente Lula (PT), esteve na base do governo nas gestões anteriores e foi grande cabo eleitoral aqui em Alagoas também na última eleição. O deputado, por outro lado, teve o controle do chamado ‘orçamento secreto’ durante o governo Bolsonaro e despejou recursos nas prefeituras de seus aliados, fortalecendo a sua base no estado.

Como os dois são figuras destacadas na política nacional, qualquer ação no interior do estado vira assunto em Brasília e Renan está empenhado em desgastar a imagem do opositor. Na última semana a história ganhou capítulos polêmicos. No domingo (28), Renan esteve no município de Rio Largo na inauguração de uma creche do governo estadual. Ele fez um discurso de ataque ao prefeito Gilberto Gonçalves (PP) e proferiu graves denúncias contra Lira, aliado do gestor.

DEMARCAÇÃO DE TERRENOS

Cientista político e professor da Universidade Federal de Alagoas (Ufal), Ranulfo Paranhos, vê com naturalidade essa movimentação. “No Brasil, a gente tem um ano eleitoral e o ano seguinte é o ano pré-eleição. Então, esse é um ano pré-eleição, é o ano do dos arranjos, das arrumações em torno de partidos políticos, de alianças, de prefeituras, é de grupos políticos a que parlamentares formaram que grupos para apoiar a qual prefeito. É natural essas farpas públicas, elas sempre existiram”.

As declarações públicas têm a função de enviar recados a aliados, segundo Paranhos. “Nós estamos definindo terrenos muito claros. Então, de um lado, Arthur Lira está dizendo ‘o meu terreno é esse. Quem estiver comigo obviamente não pode sentar em negociação alguma com Renan Calheiros’ e vice versa. Veja, isso é demarcar terreno. Então, aqui a gente tem dois grupos muito bem definidos”.

A preocupação com as eleições municipais se dá também porque tem influência direta com a disputa seguinte, em 2026. “Quando a gente olha para capital, e olha para a segunda maior cidade do estado, Arapiraca, o Luciano [Barbosa] disputando reeleição. Estão cotados e estão com a máquina pública, isso faz diferença. Estão bem avaliados agora, e isso aponta para 2026, aponta para 2028”.

Como o atual governador, Paulo Dantas (MDB), não pode ser reeleito, as eleições de 2024 são importantes para projetar nomes. “Em 2026, o Paulo Dantas não pode ser candidato ao Governo do Estado. E em 2026 o grupo do Artur Lira/JHC tem que estar estável e forte suficiente para concorrer ao Governo do Estado. Para lançar um nome forte para concorrer, pode ser até do próprio JHC. Grupo do Renan que é apoiado que apoio Paulo Dantas tem que se fortalecer nas bases municipais para poder conseguir votos para o candidato ao Governo do Estado e vice-versa”, disse Ranulfo.

Olhando para o sistema de uma forma mais ampla, Paranhos vê as agendas de forma cíclica. “É assim que funciona. É uma máquina onde as máquinas municipais alimentam as máquinas eleitorais de governadores, deputados estaduais, federais, senadores, então é uma depende muito da outra. Então, essa jogada de agora, mesmo agora no ano pré-eleitoral, ela reverbera para as eleições municipais e as eleições municipais dá um tom como serão de novo as eleições estaduais”.

A troca de acusações entre os grupos também tem uma função importante, segundo Paranhos.

“Os indivíduos que fazem oposição um ao outro são importantes para fazer denúncia também. O papel deles como denunciante, ou seja, oposição denunciando o governo ou em disputa os dois grupos, um denunciando outro, é importante para que sociedade tenha dimensão na hora da escolha. E essa dimensão da hora da escolha, qual é o menos pior, talvez qual é o melhor, qual é o melhor projeto e o seu passado. Porque às vezes a vida do político quem sabe é o outro político, não é o cidadão. O eleitor médio, ele está alheio a essa vida privada dos políticos, então é o oponente ou aquele que deixou de ser aliado, que tem informações qualificadas para colocar em dúvida o seu oponente. Então eu acho que isso também é importante”, finaliza o cientista político em contato com a reportagem da Tribuna Independente.

Presidente da Câmara diz ter respeito à democracia

O senador Renan Calheiros (MDB) não tem poupado críticas ao presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP). O senador tem se utilizado das redes sociais para apontar Lira como principal dificultador das relações entre o governo Lula (PT) com o Congresso Nacional.

No entendimento de Renan, seu adversário político, de tentar impedir que o governo forme maioria, se comportando como “guardião do mercado”.

“[Lira] impede o governo de exercer a coalizão que montou e, quando aprova uma matéria, ele aprova como se fosse uma concessão dele à república, quer funcionar como uma espécie de guardião do mercado”, declarou Renan na última semana.

Aliado de Lula, Renan deu a declaração ao ser questionado sobre a atuação do ministro da Secretaria de Relações Institucionais, Alexandre Padilha, responsável pela interlocução do Palácio do Planalto com o Congresso.

“O Padilha é uma pessoa maravilhosa, acima de qualquer dúvida. O governo está tendo dificuldade porque o presidente da Câmara tem impedido que o governo construa maioria, somente isso. Ele só possibilita votação do que vai efetivamente derrotar o governo”, afirmou Renan.

Em uma rede social, Arthur Lira, por sua vez, sem mencionar Renan, disse ser alvo “daquele” que, na avaliação do presidente da Câmara, tem atuado para lhe “desrespeitar gratuitamente”.

“Isso não admito e exijo respeito! Tenho uma trajetória política de mais de 20 anos dedicados a Alagoas e ao Brasil, sempre em defesa da liberdade e da democracia”, publicou Lira em uma rede social.

MAIS EMBATES

Em Alagoas, o senador Renan Calheiros, quando está em agenda pelos municípios, não perde a oportunidade de mirar o seu forte discurso contra Arthur Lira.

“Só sei que quando o Arthur Lira tinha o orçamento secreto, ele se beneficiou muito do orçamento secreto, ele se beneficiou diretamente do orçamento secreto e usou muitas prefeituras, infelizmente, para lavar dinheiro, e isso tudo precisa ser investigado exemplarmente”, disse Calheiros.

E continuou: “ele vai fazer com Maceió o que o Arthur Lira fez com o Hospital Veredas. Botou a ex-prefeita de Campo Alegre para ser diretora financeira para drenar pela diretoria financeira os recursos públicos do hospital, e hoje o hospital veredas está paralisado por cinco meses de salário atrasado”.

Nos dias que se seguiram, circulou na imprensa nacional a informação de que Lira teria exigido de Lula a saída de Renan Filho (MDB) do ministério dos transportes em troca de apoio às pautas do governo, mas ele negou isso, também em suas redes sociais.

Por: Emanuelle Vanderlei – colaboradora / Tribuna Independente com Agências
Foto: Reprodução