“Me tornei mãe, depois de 5 anos tentando, numa época que nem nos meus piores sonhos imaginei viver.” – O relato é de Fernanda Trani, de 36 anos, que há pouco mais de um mês apresentou ao filho Gabriel um mundo diferente do que ela havia planejado. A pandemia do novo coronavírus impôs uma outra experiência às mamães que esperam ou que deram à luz durante esse período. O primeiro Dia das Mães dessas mulheres será celebrado em meio a incertezas, em isolamento social, mas com esperança em um futuro melhor.

Do primeiro dia de março até a última quarta-feira (6 de maio), 5.679 nascimentos foram registrados em Alagoas, de acordo com dados da Associação dos Registradores de Pessoas Naturais (Arpen). Passar por uma pandemia, pode ser ainda mais desafiador para as famílias que possuem crianças, ainda mais se forem recém nascidas.

Para Fernanda Trani, a gravidez foi uma extensa jornada, que começou cinco anos atrás, e precisou ser acompanhada de perto por especialistas, com a finalidade de evitar que a criança desenvolvesse o câncer infantil já superado pela mãe. Ela conta que a expectativa de toda a família era gigante, que deu tudo certo, mas que a reta final da trajetória foi “estranha”.

“No início, ainda estava tranquila. Quando me vi no cenário atual, decidi que todos os planos A, deveriam se transformar em B. Adiantei o parto, optei por uma cesárea, tive restrição de visitas e isolamento quase que total. Saindo apenas para consultas médicas e vacinação do bebê”, conta.

Fernanda diz que primeiro Dia das Mães é só o primeiro, de muitos que virão
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Gabriel, filho de Fernanda, nasceu no dia 22 de março, apenas um dia depois do primeiro decreto do governo do Estado acerca da pandemia.

“Confesso que está sendo um momento de apreensão, mas, ao mesmo tempo, grandioso, por estar em total conexão com meu filho e meu marido Alexandre, que tem sido minha rede de apoio, devido a impossibilidade de outras pessoas estarem junto de nós”, conta Fernanda, acrescentando que o pai dela veio de Belo Horizonte para Alagoas e resolveu cumprir o isolamento social junto com a família, para aproveitar ao máximo os primeiros meses do netinho.

MUDANDO OS PLANOS

Outras mães, no entanto, ainda não conseguiram apresentar os bêbes aos avós, tios, primos e amigos. Com o isolamento social, esse momento ficará para daqui a algum tempo e, por enquanto, as “visitas” aos recém-nascidos ocorrem somente por meio da internet. É o caso de Paula Weslânnya, de 23 anos, mãe de Laura Manuela, que nasceu no último dia 10 de abril.

Neste domingo, quando a filha completa 1 mês de vida, Paula também celebra seu primeiro Dia das Mães.

“Está sendo preocupante. Você não sabe quando isso vai acabar, quando eu vou poder apresentar minha filha para a família, para o resto do mundo. Está sendo um pouco solitário. A gente não tá tendo visita”, conta. “Fico triste por não viver esse momento de uma maneira mais completa, poder sair, comemorar com minha família. Será um Dia das Mães totalmente diferente”, diz a jovem.

Paula e o marido resolveram mudar os planos do nascimento da pequena Laura, para minimizar riscos e evitar a tensão das maternidades neste momento de pandemia. A escolha foi pelo parto domiciliar.

“Eu e meu esposo sentamos, conversamos com a equipe e decidimos que seria melhor um parto domiciliar. Ela ainda está com a imunidade baixa, precisa ficar protegida. Eu espero que as coisas melhorem, que ela possa logo sair, conhecer a família, ver pessoas, viver em um mundo melhor”, conta a mãe.

CLIMA TENSO NA MATERNIDADE

Benício nasceu no primeiro dia de vigência do decreto que regulamentou o isolamento social
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“Eu estava com tudo programado para ser a maior festa, pois ele foi muito desejado e esperado por todos da família e amigos. Mas, Benício nasceu justo no dia do primeiro decreto do governo para a quarentena, então não tivemos nenhuma visita”, relata Alderita Alcântara Bittencourt, que aos 43 anos trouxe Benício ao mundo.

Ela conta que os primeiros dias como mãe foram assustadores, já que ela teve que se adaptar à maternidade e também à realidade com o novo coronavírus. “Só tínhamos consultas online, foi difícil e tenso, mas conseguimos superar. Desde os primeiros dias seguimos à risca tudo o que foi recomendado”, diz.

Segundo Alderita, o clima na maternidade era tenso, com profissionais de saúde extremamente paramentados e ainda assimilando os protocolos de segurança para evitar a contaminação por coronavírus.

“O clima era de total apreensão. Ao mesmo tempo sentimos muita gratidão a Deus pelo presente que estávamos ganhando. Até hoje o Beni só conhece meus pais, eu e meu esposo, pois estamos juntos no isolamento social”, conta.

Fernanda definiu o clima na maternidade como “angustiante”.

“Eu não saí do quarto para nada, a não ser para ir embora. Os profissionais já estavam bastante apreensivos, alguns chegavam a relatar a angústia de trabalhar neste cenário e teve uma enfermeira que ficou na minha lembrança, pois ela me relatou que ‘o tempo que ela passava em nosso quarto em atendimento era muito gratificante’, pois eu e meu marido somos pessoas muito alegres e o clima na maternidade já estava bastante tenso.”

O nascimento de um filho, mesmo que em meio a uma pandemia e diante de incertezas sobre a vida, representa para essas três mulheres uma alegria que mal conseguem explicar. As mães definem o momento exato em que olharam para seus filhos como um instante em que a fé em um futuro melhor foi renovada.

Mães comentam o que esperam do futuro pós-pandemia
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“Espero um mundo com mais empatia pelo próximo, com mais amor. Que ele possa, no futuro, dizer que nasceu em meio a essa pandemia e passou ileso. É um dia de muita gratidão a Deus pelo presente que ele me deu, e por poder estar junto de minha mãe também. Esse é o meu primeiro dia das mães e mesmo com tudo que está acontecendo ele será especial e inesquecível”, diz Alderita.

“Meu filho vai saber de tudo o que se passava na época em que ele nasceu. Ser mãe neste período é um misto de alegria e dor. Apesar de tudo, é um momento único que estou vivendo depois de tamanha espera. É mágico poder comemorar este dia com meu filho nos braços e, apesar de toda apreensão que vivemos, sou grata à Deus pela graça concedida” reflete Fernanda Trani.

“Ninguém passará dessa fase como entrou. É um período para aprender sobre compaixão, sobre coletividade, sobre cuidado e acima de tudo amor. Este é apenas o primeiro [Dia das Mães] de muitos que ainda estão por vir, e espero que os próximos sejam comemorados com sorrisos expostos e abraços apertados. Desejo à todas as mamães, um dia repleto de muitas alegrias!!”, conclui.

Por Maylson Honorato | Portal Gazetaweb.com

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