Marta concedeu entrevista coletiva nesta terça-feira, em Melbourne, antes do treino da seleção brasileira, e se emocionou. A jogadora chorou ao comentar sobre seu papel na evolução do futebol feminino. Mas, no momento de falar sobre o duelo decisivo de quarta-feira diante da Jamaica, ela foi enfática. Garantiu que o Brasil seguirá na competição e irá assegurar a vitória diante das rivais na última rodada do Grupo F da Copa do Mundo.
– Estou tão focada na partida que não parei para pensar que esta pode ser minha última coletiva em uma Copa do Mundo, porque não vai ser. Estou confiante e acredito que vamos seguir na competição – afirmou Marta, que completou:
– A Marta de 2007 tem mais experiência. Tenho que pensar mais como agir em campo, porque eu era mais rápida, né? Com toda essa experiência, vou tentar de alguma forma, tanto dentro de campo, como fora, mostrar que somos capazes de vencer a Jamaica novamente. Aconteceu em 2007, aconteceu em 2019 e vai acontecer amanhã, assim espero.
A França lidera o Grupo F, com quatro pontos e dois gols pró. A Jamaica ocupa a segunda posição, também com quatro pontos, mas só fez um gol na Copa. O Brasil está em terceiro lugar, com três pontos. A Jamaica, portanto, joga pelo empate contra a seleção brasileira na quarta-feira, às 7h, em jogo com transmissão da TV Globo, SporTV e ge.
– Eu não costumo a pensar na Marta. Sabe o que é legal? Eu não tinha uma ídola no futebol feminino. Vocês (imprensa) não mostravam o futebol feminino. Como eu ia entender que eu poderia ser uma jogadora, chegar à seleção, sem ter uma referência? Hoje a gente sai na rua e os pais falam. “Minha filha quer ser igual a você”. Hoje temos nossas próprias referências. Não teria acontecido isso sem superar os obstáculos. É uma persistência contínua. A gente pede muito que a nossa geração continue assim. A vovó que torce pro Corinthians. A gente fica feliz em ver tudo isso. Há 20 anos, em 2003, ninguém conhecia a Marta. Em 2022, viramos referência para o mundo inteiro. Não só no futebol, mas no jornalismo também. Hoje vemos mulheres aqui, o que não tinha antes. A gente acabou abrindo portas para a igualdade.
A camisa 10 do Brasil se disse preparada para jogar os 90 minutos contra a Jamaica, mas ressaltou que a decisão cabe à treinadora.
– Estou preparada para jogar, não sei quantos minutos, isso é com ela (Pia), mas se tiver que jogar os 90 minutos, vou jogar o tempo todo. Se tiver que jogar alguns minutos, vou jogar alguns minutos. Estou bem, treinando normal. Não tem nada que me impeça de entrar amanhã e jogar o tempo todo. Não sei se consigo jogar os 90 minutos, vou lutar pra jogar os 90 se ela decidir me colocar em campo para jogar. Estou bem e preparada.
Sobre o nervosismo para a partida contra a Jamaica, Marta admitiu que o jogo será diferente para a Seleção, com um ar de mata-mata, já que o Brasil precisa da vitória para seguir na competição.
– Lógico que o jogo vai ser nervoso, porque é um jogo de mata-mata. Para nós, começou antes do previsto. Temos uma equipe qualificada, mas são jogos de grandes competições. Estamos jogando uma Copa do Mundo, temos que estar preparadas para tudo. Para nós que já vivemos esse momento, temos que estar preparadas. Como a Pia falou, amanhã é um jogo decisivo, e não queremos voltar para casa cedo. Queremos continuar na competição – disse Marta, que completou:
– Cada jogo é diferente, favorito nem sempre ganhar. Temos que respeitar o adversário independente de quem está do outro lado. É 11 contra 11. Nunca vi ninguém jogar com 12 ou 13. Temos que fazer acontecer dentro de campo, para que a gente possa se sentir confortável nessa situação. Antes da bola rolar, é tudo igual. Quando rolar, temos que mostrar o nosso futebol. Isso vai depender do nosso desempenho, até então, tem nada definido.
Outros trechos da coletiva
Mensagem após eliminação em 2019
– Se resume mais à atitude de todos. Não só das atletas, mas de todos que trabalham com o futebol feminino. Temos que dar seguimento. A Pia chegou, fez as mudanças, trouxe atletas novas, elas que vão continuar esse trabalho. Meu desabafo foi para que todos fizessem seu papel: atletas, comissão, direção e mídia. Isso vem acontecendo, e temos que reconhecer e dar seguimento. Temos que fazer sempre algo a mais. Colocando isso em prática, teremos um futuro brilhante. Não só o Brasil, mas todas as outras seleções, que vemos crescendo. Não ganha só um, ganha a modalidade.
Motivação das atletas pela última Copa de Marta
– Fico feliz quando escuto isso das meninas, que elas querem ganhar essa Copa por mim, mas elas têm que ganhar por elas. Essa Copa do Mundo não é só sobre mim, é sobre o futebol feminino em geral, sobre essa geração que está surgindo e vai levar esse trabalho por muitos anos. É por todas nós. Não só sobre a Marta. Se isso as motiva um pouco mais, vamos em frente, vamos à luta.
Evolução do futebol feminino
– É simples. Eu penso na minha primeira Copa do Mundo. Sempre estamos destacando como o futebol feminino está evoluindo. Vemos grandes seleções, que têm uma história rica, não tendo jogos fáceis contra seleções teoricamente mais fracas. Isso abrilhanta ainda mais o futebol feminino e espero que isso só cresça daqui para frente.
GAZETAWEB \ Por Cíntia Barlem — Melbourne, Austrália
FOTO: Cíntia Barlem