Embora distantes, as eleições para o Senado já são tema de estratégias e articulações em Alagoas. São duas vagas – hoje preenchidas por Renan Calheiros (MDB) e Rodrigo Cunha (Podemos) –, que no pleito geral, pode ganhar um outro nome de peso na disputa. Nos corredores da Câmara dos Deputados, o atual presidente da Casa, deputado Arthur Lira (PP), tem demonstrado cada vez mais interesse em ser candidato a senador.

Além de adversários históricos, Lira e Calheiros comandam os dois maiores partidos do estado. Ambos figuram entre as lideranças mais destacadas do país e tem acumulado muita influência no cenário local, com destaque para a queda de braço que têm travado no campo municipalista.

Na última semana, Arthur Lira e Renan Calheiros foram destaque em material jornalístico do jornal O Globo, que também tratou das eleições para 2026. Em Alagoas, Lira e Calheiros continuam exercendo forte influência nas prefeituras e participam cada vez mais das agendas de entrega de obras e liberação de recursos para os seus respectivos aliados.

Naturalmente, ambos ainda não falam abertamente das eleições em 2026, já que estão preparando cada vez mais o terreno para o pleito municipal do próximo ano. Na leitura da cientista política Luciana Santana, o que acontecer nas eleições do ano que vem deve ser decisivo na formação de chapa de 2026.

“A disputa de 2026 depende também do resultado eleitoral de 2024. É claro que a vitória [de JHC] na capital está quase consolidada, acho muito difícil se alterar, mesmo que possa vir a ter um segundo turno. Mas a gente também tem que ver qual é o capital político dos grupos no Estado, essa distribuição territorial do poder”.

Santana acredita que as vagas devem ficar com Lira e Calheiros. Rodrigo Cunha (Podemos/AL) também tem seu mandato encerrado em 2026. Como atualmente compõe o grupo aliado de Lira, pode abrir mão e buscar espaço em outra Casa.

“Acho que há boas chances de que o grupo, que é um grupo de Rodrigo Cunha e Artur Lira, tenha uma vaga no Senado e Renan Calheiros se mantenha como senador. E aí, claro, passa-se a ver qual seria a composição, ou pelo menos as opções de composição para uma disputa no Estado, do governo do Estado”, avalia.

Com JHC em plena articulação para o Governo de Alagoas, fica a dúvida de quem será o representante do MDB à sucessão de Paulo Dantas.

“Eu, olhando hoje, sem pensar em acordos que eles estão construindo, seria o mais provável era que Renan Filho disputasse, já que ele ainda teria ali quatro anos à frente de mandato, então ele não perderia a cadeira, o que não acontece no caso de Renan Calheiros se ele disputar o Governo do Estado. Então acho que nessa composição aí, acredito que Renan Calheiros e Artur Lira têm a maior chance de ocupá-las nessa disputa em 2026”.

Com Arthur e Renan, espaço para outros candidatos inviabiliza

Com Renan Calheiros (MDB) e Arthur Lira (PP) na disputa as vagas ao Senado, a cientista política Luciana Santana, acredita que dificilmente haverá espaço para outros candidatos.

“Como o Arthur Lira e o Rodrigo [Cunha, Podemos] pertencem a um mesmo grupo, acho muito difícil que esse mesmo grupo domine duas vagas. Então, ali é um ou outro nessa correlação de forças. E pensando no Artur Lira, que ocupou a presidência da Câmara dos Deputados por dois mandatos e toda a força política que ele tem em Alagoas, acredito que numa disputa do grupo, quem seria o nome, acho que Lira, com certeza, seria o nome mais cotado. Agora, claro, nessa situação, e aí é definição mesmo dos cargos, quem vai disputar o que, acredito que sendo Lira o escolhido, nesse caso caberia ir ao Rodrigo Cunha tentar o mandato como deputado e aí claro acho que ele tem boas chances de ser eleito como deputado”.

Vale lembrar que nos últimos pleitos em que havia duas vagas em disputa para o Senado, a segunda vaga acaba ficando para um nome com menos evidência, contrariando a polarização. Afinal de contas, cada eleitor vota duas vezes para senador, e o segundo voto raramente é destinado ao maior adversário do candidato preferido.

Em 2010, por exemplo, Heloísa Helena e Renan Calheiros apareciam como grandes rivais, enquanto Benedito de Lira ganhou o segundo voto de muitos eleitores dos dois, e acabou sendo eleito com facilidade.

Na hora de renovar o mandato, Benedito de Lira já vinha com mais destaque. Os nomes que detinham os mandatos também polarizaram o debate Lira versus Calheiros (que está cada vez mais vivo). E Rodrigo Cunha surgiu como uma alternativa descolada dos dois, sendo eleito com o segundo voto do eleitor.

Resta saber se com esses dois gigantes do cenário nacional colocando o nome na disputa aqui no Estado, vai surgir um terceiro nome para tentar a sorte como segundo voto da preferência dos eleitores.

Obviamente, o senador Rodrigo Cunha tem se mostrado como um candidato natural à reeleição, mas este cenário pode mudar com a posição do prefeito de Maceió, JHC (PL), que já deixou no ar que o senador pode ser o seu vice na eleição do ano que vem.

No ano passado, Rodrigo foi candidato ao governo de Alagoas, chegou a estar no segundo turno, mas perdeu a eleição para o atual chefe do Poder Executivo, Paulo Dantas (MDB), que em 2026 não poderá mais ser candidato à reeleição, já que assumiu o governo – por meio de eleição na Assembleia Legislativa do Estado – no ano passado. E, claro, em 2026, Dantas não pretende apenas deixar o governo.

Por Emanuelle Vanderlei – colaboradora / Tribuna Independente
Foto: Edilson Omena / Arquivo